A vida é divertida q.b. Sendo verdade que pelo menos no meu caso muito fui avisado para aproveitar os anos despreocupados anteriores à idade adulta, a realidade é que o mundo nos obriga rapidamente a um choque de realidade. E atenção, não tomem esta introdução como um queixume à minha vida, que felizmente tenho pouco pelo que me queixar. Mas somos eternos insatisfeitos, e isso vê-se pela frase “o dinheiro não traz felicidade”, o que significa que mesmo quem tem muito tem essa procura constante de algo que não está. Já dizia o António, “estou bem onde não estou”.

Agrada-me a seriedade que os videojogos atingiram, e que muito tem contribuído para o respeito crescente que é atribuído a esta forma de cultura pela pessoa comum. Mas se a vida, como disse, é divertida q.b. será que não precisamos de obras que se levem menos a sério, e que sejam salutarmente parvas?

Neste campo, se a parvoíce pagasse imposto, Tiny Terry’s Turbo Trip estaria certamente no último escalão fiscal. Num mundo onde os jogos sandbox frequentemente buscam um realismo sombrio e uma narrativa profunda, deparamo-nos com um jogo que quer ser exactamente o seu oposto.

Tiny Terry’s Turbo Trip foi desenvolvido pelo excêntrico estúdio snekflat, um título que é também uma ode à parvoíce e ao humor absurdo, que tem no seu protagonista, o titular Tiny Terry, um herói pouco comum. 

Tendo como o seu maior sonho chegar ao espaço, mas não de uma forma convencional: Terry acredita piamente que se acelerar o suficiente pela prumada lateral da torre no centro da sua cidade, conseguirá ultrapassar a atmosfera e alcançar o cosmos. E com esta premissa maluca damos os primeiros passos num dos jogos mais hilariantemente insanos que já joguei.

Para realizar este seu sonho estapafúrdio, o nosso Terry precisa de modificar o seu carro, transformando-o de um simples veículo numa máquina capaz de desafiar as leis da Física. Para isso – e dados os fracos recursos financeiros que temos – precisamos de recolher lixo pela cidade e completar missões que são tão absurdas quanto engraçadas.

As missões variam desde ajudar um amigo a roubar carros desde que eles não pertençam a vizinhos do mesmo bairro, até partilhar batatas fritas com a recepcionista que trabalha perto do nosso apartamento. Cada tarefa é mais bizarra a anterior, e esta é grande parte do charme de Tiny Terry’s Turbo Trip. 

Mas para mim o verdadeiro destaque está nos diálogos: uma mistura de comentários deadpan e situações completamente surreais que frequentemente me deixaram com a pergunta “O que raio está a acontecer?” na cabeça, e a ficar feliz por não estar a perceber, esboçando um longo sorriso por estas estranhas interacções entre o elenco.

A cidade em Tiny Terry’s Turbo Trip é um recreio vibrante e colorido, onde a seriedade ficou noutras calças, e onde vamos ser mais vezes atropelados do que se estivéssemos a jogar Frogger. Apesar da cidade ser relativamente pequena, são os muitos pormenores de parvoíce que dão ao jogo uma atmosfera de pura estupidez, algo que é cada vez mais raro no mundo dos jogos modernos que tendem a levar-se excessivamente a sério.

Tiny Terry’s Turbo Trip lembra-nos um Grand Theft Auto, mas com uma reviravolta: em vez de um mundo violento e perigoso, as ruas são absurdas e as interacções estranhas. Temos a liberdade de explorar a cidade, interagir com personagens excêntricos e embarcar em aventuras malucas ao nosso próprio ritmo. Se quisermos estar apenas a encher os bolsos de dinheiro a roubar carros para o Jatkleuter e o seu pai, então podemos fazê-lo. Há uma liberdade de movimentos que é proporcional à parvoíce de todo o jogo.

Tiny Terry’s Turbo Trip é um perdigoto de ar fresco nos sandbox adventure games, com uma premissa absurdamente hilariante, personagens bizarros e missões que desafiam qualquer lógica, este indie oferece-nos uma experiência que nos espairecer da seriedade da vida real. É um lembrete de que, às vezes, tudo o que precisamos é de um pouco de parvoíce para alegrar o nosso dia.