Os jogos indie são muito mais interessantes do que qualquer jogo triple A, na temática de hoje, artisticamente falando. Há uma liberdade criativa e inovação que está ausente da produção dos grandes estúdios. Enquanto que os jogos AAA são produzidos por produtoras com orçamentos elevadíssimos, isso força-os, muitas vezes, a seguir fórmulas comprovadas e comercialmente viáveis para garantir um retorno financeiro significativo para quem investiu na produção. Por outro lado, os criadores indie têm a liberdade de explorar ideias originais e arriscadas, criando experiências únicas e diferentes do habitual. A arte nos jogos indie reflete essa liberdade. Sem a pressão de agradar a um mercado gigantesco, os artistas podem experimentar estilos visuais não convencionais, técnicas inovadoras e narrativas profundas que ressoam emocionalmente com os jogadores. Hoje acredito que trouxe três obras que não só visualmente impressionantes, como também trazem alguma frescura mecânica.

Été

Impossible – Canadá

23 de Julho de 2024 – PC

A Impossible é uma nova produtora (no sentido em que ainda não tem nada publicado em nome próprio)  indie canadiana, fundada em 2016 por Lazlo Bonin. Com a colaboração de Jasmine Eladas, Bonin conseguiu criar o primeiro protótipo de Été e obter, indiretamente, financiamento do governo canadiano através do programa Canada Media Fund, em 2020. Com Été, a Impossible pretende dar forma ao seu objetivo de construir experiências ousadas sem deixarem de ser minimamente acessíveis.

Été é um jogo que celebra a arte e a criatividade, permitindo aos jogadores pintar um mundo tridimensional com aguarelas, o que lhe confere um aspeto extremamente belo. Com mecânicas que incentivam a exploração de bairros vibrantes de Montréal, os jogadores podem desbloquear novas áreas enquanto criam obras de arte únicas. O jogo oferece total liberdade para compor pinturas em telas, permitindo a expressão artística sem limites, como se fossem o próximo Albrecht Dürer, William Blake ou Elizabeth Murray. Além disso, é possível decorar um espaço criativo com móveis e objetos, adquiridos ao longo do jogo, e colecionar estampados para um caderno de esboços. Été também apresenta desafios artísticos, onde os jogadores devem cumprir encomendas de arte solicitadas pelos habitantes locais, tudo num ambiente sem stress e sem a possibilidade de perder, o que promove uma experiência relaxante e enriquecedora.

SCHiM

Ewoud van der Werf, Nils Slijkerman – Países Baixos

18 de Julho de 2024 – Nintendo, PC, PlayStation, Xbox

Criado por Ewoud van der Werf e Nils Slijkerman, SCHiM é um jogo único que vos pedirá para saltar de sombra em sombra, porque a vossa personagem só se pode movimentar pela penumbra projetada por outros seres ou objetos. É uma obra inserida no género de plataformas como nunca ninguém o fez e que combina elementos de iluminação, sombra e animação nas próprias mecânicas que estão no jogo.

SCHiM é um jogo indie, que tenho no meu radar há já algum tempo, que me despertou a curiosidade por combinar plataformas, exploração e quebras-cabeças de uma forma muito particular, que não vi em mais nenhum jogo até hoje. O mundo do jogo foi desenhado, com base em locais reais dos Países Baixos, com uma paleta de cores muito limitada, mas suficientemente colorida para uma fácil leitura do ambiente. A principal mecânica do jogo é a que já mencionei: saltar de sombra em sombra, para atravessar níveis, que foram criadas por objetos, pessoas ou animais. Os níveis foram minuciosamente pensados para que um equilíbrio entre a beleza das plataformas criadas pelas sombras e a lógica a utilizar para as atravessar fosse possível. Em suma, SCHiM parece estar a tornar-se um interessante jogo com um conceito cheio de criatividade, com uma direção artística maravilhosa e mecânicas intuitivas.

Stars in the Trash

Valhalla Cats – Espanha

2024 – PC

Stars in the Trash, um jogo feito com uma arte e animações tradicionais dos anos setenta, muito similar aos filmes de animação da Disney, nomeadamente Aristogatos, promete ser uma boa mistura de ação, exploração e resolução de puzzles. Esta obra está em produção em Espanha, pela Valhalla Cats, que tem colaboradores que já trabalharam em grandes casas de animação como a Disney e a Warner Bros., portanto a premissa e a arte do jogo estão nas mãos certas dado que chegaram à idealização desta obra focando-se no seu próprio talento e capacidades da equipa espanhola.

O que faz destacar Stars in the Trash é, claramente, o seu estilo visual único, que se inspira nos filmes de animação clássicos das décadas de setenta e oitenta, onde proliferaram animações com animais antropomórficos. A estética desenhada à mão e as animações fluidas evocam uma sensação de nostalgia, transportando os jogadores para um mundo onde as fronteiras entre o digital e o tradicional se fundem em plena harmonia. Com uma demonstração que ainda está disponível na Steam, a comunidade de jogadores já teve a oportunidade de ver pela primeira vez as personagens encantadoras e a jogabilidade intrigante do jogo, o que gerou uma onda de comentários bastante positivos e fez crescer as expectativas em torno do jogo, o chamado hype na gíria dos videojogos, entre aqueles que valorizam a arte e a inovação que frequentemente definem o panorama dos jogos indie.