Nos dias de hoje existem jogos para todos os gostos, e mesmo um tipo como os cozy games não são excepção. E da minha parte ajo para com eles como se fosse um treinador de Pokémon: quero apanhá-los a todos.

Uma das mais recentes propostas que prometiam trazer alguma inovação mecânica aos jogos mais relaxantes foi The Last Alchemist, um título recentemente desenvolvido pelo estúdio Vile Monarch e publicado pela Marvelous.

The Last Alchemist é um jogo de simulação de alquimia, que mistura elementos de sobrevivência (nas componentes de recolha de recursos) e gestão de tempo, mas que pode ser jogado a um ritmo mais compassado mais compassado, mas onde o tempo será também o seu maior inimigo. 

O enredo de The Last Alchemist gira em torno do último alquimista deste mundo com a missão vital de salvar sua aldeia de uma praga devastadora que já vitimou o seu próprio mestre, com o desafio de encontrar uma cura antes que ele próprio sucumba à doença. O mundo colorido de The Last Alchemist é habitado por cogumelos humanoides simpáticos que adicionam um toque de fantasia a este jogo, populando a nossa aldeia e os campos circundantes, num mapa que não sendo vasto tem a sua exploração bloqueada pela nossa progressão alquímica. E cabe-nos gora, enquanto o último alquimista da terra, assumir a responsabilidade de encontrar uma cura e de salvar a nossa comunidade.

Cumprindo aquilo que procuramos neste tipo de jogos – uma experiência relaxante – The Last Alchemist permite-nos que exploremos a natureza em busca de materiais e ingredientes que são fundamentais para a criação de poções ao nosso ritmo. Esta sensação de relaxamento e de ausência de pressa acaba por colidir conceptualemente com a narrativa, já que podemos tomar todo o tempo do mundo ainda que o nosso protagonista esteja lentamente a morrer.

E é esse ritmo mais compassado que permite que a sua mecânica central gire em torno da alquimia, da descoberta e pesquisa de soluções alquímicas, onde até mesmo a tarefa de desfazer pedras é realizada com o spray de uma poção descoberta por nós. 

A criação de poções envolve a extração de essências de ingredientes, que devem ser investigadas para descobrir suas propriedades e usos, num sistema inteligente e criativo que relembra um pouco o alcançado com Potion PermitPara criarmos poções temos de usar um sistema de formas e cores, onde é necessário combinar o número e o tipo certos de ingredientes para alcançar o resultado desejado, num elemento que nos incentiva a experimentação e a descoberta. 

Mas apesar de sua natureza relaxante, The Last Alchemist incorpora uma componente de gestão de tempo que foi para mim um momento de desilusão. Todas as máquinas que preparam ingredientes e poções têm um tempo específico para concluir suas tarefas, e a espera dos 2-3 minutos que demoram a preparar cada componente numa cadeia de progressão, obriga-nos a estar a olhar para o ecrã sem nada para fazer. Porque não só estes tempos são curtos para irmos lentamente a “coxear” pelo mapa para recolher ingredientes, mas é longa o suficiente para não ser aborrecida. Este aspecto de time management acaba por alargar artificialmente o tempo de jogo e interfere com o nosso ritmo de pesquisa, recolha e progressão, obrigando-nos a encadear a produção mas a ficar especados à espera dos muitos componentes, quebrando por completo a fluidez da experiência de jogo.

The Last Alchemist é um título relaxante onde habitamos um mundo com uma aura negra, ainda que ele se represente artisticamente colorido e vibrante. As mecânicas de pesquisa e produção de poções e dos necessários ingredientes é interessante, mas é penalizada pela necessidade de esperarmos demasiado tempo para que cada máquina cumpra a sua função. Um bom cozy game deve permitir-nos definir o ritmo com que queremos progredir no jogo, e The Last Alchemist encostou-se em excesso a soluções trazidas por jogos mobile, prejudicando aquilo que poderia ser um excelente cozy simulator.