Só recentemente tive oportunidade para mergulhar em Midnight Sons, um jogo que em termos comerciais foi um verdadeiro falhanço mas que em termos de qualidade foi um excelente lançamento AAA ignorado em 2022. Na realidade deveríamos estar muito pouco surpreendidos com isso, já que por trás desse magnífico tactical RPG está o estúdio que é possivelmente o melhor a trabalhar no género, a Firaxis Games.
É claro que para os jogadores menos anciãos poderá existir a ideia do que a Firaxis fez é algo inovador, mas apesar de ser muito bom, vinte anos antes do seu lançamento já tínhamos recebido uma proposta similar: Freedom Force, que prestava homenagem ao mestre Jack Kirby.
Mas volvidos dois anos do flop comercial de Midnight Sons, eis que um estúdio indie, o Spitfire Interactive, em parceria com a Daedalic Entertainment, nos traz uma proposta na mesma linha dos dois títulos que referimos, com o lançamento do jogo Capes.
Capes destaca-se não apenas por ser uma criação indie “teimosa” após a desilusão comercial da 2K, mas sobretudo pelo talento por trás de seu desenvolvimento. Um desses casos é Morgan Jaffit, um veterano da indústria que contribuiu para o clássico Freedom Force e que está envolvido na criação de Capes, trazendo a sua experiência e visão para este indie desafiante.
A premissa básica de Capes é familiar aos fãs de jogos de estratégia tática: controlamos uma equipa de quatro super-heróis, cada um com habilidades únicas que podem (e devem) ser melhoradas e combinadas de forma estratégica. O que diferencia Capes de outros jogos do género é a ênfase na sinergia entre os heróis, com as habilidades da nossa party a receberem bonificações pela proximidade uns com os outros, incentivando o posicionamento estratégico e o trabalho em equipa.
Cada nível em Capes é apresentado como um puzzle de batalha, desafiando-nos a um pensamento crítico em relação às acções dos nossos personagens, num level design que nos oferece uma profundidade táctica significativa, mas que contribui também para manter o gameplay fresco. Para além disso, os objectivos opcionais em cada missão adicionam uma camada extra de desafio para aqueles que procuraram uma masterização completa do modo campanha.
As boss battles são um destaque especial do level e game design em Capes. Estes encontros exigem que conheçamos a fundo os nossos personagens e que consigamos optimizar cada uma das suas habilidades e sinergias, já que cada boss apresenta um conjunto único de desafios que temos de superar.
Com o contributo de Jaffit, encontramos aqui uma campanha bem construída narrativamente que nos mergulha com uma interessante história de super-heróis e que nos oferece um contexto significativo para as batalhas e desafios enfrentados pela nossa equipa.
No entanto, embora Capes surpreenda em muitos aspectos, duas áreas que prejudicam a sua qualidade são as missões furtivas e a excessiva linearidade de cada missão. Os bons tactical RPGs permitem uma abordagem quase sandbox, estimulando a nossa criatividade perante cada desafio, mas Capes quer que sigamos a resposta pensada pelos seus criadores.
Capes é o regresso a uma abordagem específica dos tactical RPGs que acaba por ter concorrentes que se contam pelos dedos de uma mão. É impossível não o comparar a Freedom Force ou até ao mais recente Midnight Sons, e infelizmente o confinamento criativo impede-o de se sentar no mesmo patamar criativo desses dois jogos.