Apesar dos piratas fazerem parte do nosso imaginário colectivo, admito que se não fosse Oda a mergulhar-me numa versão louca, absurda, e única, da era da pirataria, e eu não teria a paixão incomensurável que tenho nos dias de hoje pelo tema. É por isso sem surpresas que o anúncio de um jogo que unisse dois elementos que me são actualmente tão queridos, a gestão de cidades virtuais e a pirataria (a marítima, não a informática) seria algo que eu colocaria de imediato sob a minha luneta.

O estúdio indie polaco Crazy Goat Games traz-nos assim uma abordagem diferente a um género que os criadores independentes têm mantido fresco, os city builders, com o lançamento de Republic of Pirates. Este é um título que nos coloca no coração das Caraíbas durante a Era de Ouro da pirataria, desafiando-nos a construir e gerir a histórica capital pirata localizada em Nassau. 

É através de uma combinação envolvente de construção de cidades e de uma interessante (e obrigatória) camada de batalhas navais, que Republic of Pirates nos oferece uma experiência única que traduz o que os registos históricos nos falam da vida pirata do início do século XVIII.

Em Republic of Pirates temos um protagonista que, movido pelo legado do seu pai e por um desejo ardente de vingança, decide navegar pelas águas turbulentas da política pirata e construir uma fortaleza que atraia para a sua mesa os mais temidos e respeitados piratas da época. Republic of Pirates tem assim, no seu modo de campanha, uma história interessante que nos envolve emocional e narrativamente, e que serve de invólucro às muitas missões que vão complexificando a gestão da cidade.

Como esperado de um city builder, Republic of Pirates desafia-nos a gerir recursos, construir infraestruturas e manter a população feliz. No entanto, é neste campo habitual do género, o da variável da felicidade da população que o jogo se destaca ao adaptar essas mecânicas para refletir a temática pirata. Os edifícios disponíveis são tematicamente apropriados, incluindo tavernas, estaleiros navais e bordéis, essenciais para manter os piratas satisfeitos e produtivos, acabando por ser essa felicidade da cidade um elemento central do jogo. 

Diferente de outros city builders onde a felicidade pode resultar apenas em bónus de produtividade ou como margem de crescimento, em Republic of Pirates, uma cidade feliz atrai mais piratas para a nossa causa. E quantos mais piratas se juntam, mais forte se torna a nossa facção, permitindo-nos enfrentar desafios maiores e enfrentar inimigos mais poderosos..

Sendo fiel à sua temática, é na adição de batalhas navais o que realmente diferencia Republic of Pirates de outros jogos do género. Aqui temos de construir navios e equipá-los para batalhas no mar das Caraíbas, tornando-se um elemento fulcral crucial para expandir o nosso domínio pirata. É na diversidade de embarcações e nessa decisão estratégica em torno da nossa frota que reside muito do interesse das batalhas que travamos pelas águas perigosas das Caraíbas.

Essa camada de combate adiciona uma dimensão extra ao loop mecânico, complementando perfeitamente a construção de cidades, já que para além termos de gerir uma povoação funcional e próspera, também devemos ser capazes de defendê-la e expandir a nossa influência através da força naval.

É difícil falar sobre Republic of Pirates sem mencionar as semelhanças com a série Anno, que é para mim não só uma das melhores séries do género de sempre, como um dos melhores e recorrentemente melhores iterações de IPs da Ubisoft. 

Com algumas “correntes de game design” que existem nos city builders, sendo Anno uma delas e o óbvio decalque mecânico para este jogo. No entanto, Republic of Pirates adopta uma abordagem mais leve em termos de complexidade estrutural e de produção, ao mesmo tempo que se foca mais na temática pirata no tipo de edifícios disponíveis. A necessidade de produzir rum e manter os piratas felizes com entretenimento mais “adulto” reflecte bem a vida livre defendida pela pirataria histórica.

Republic of Pirates, com a sua mistura de construção de cidades e batalhas navais, ambientada na emocionante Era de Ouro da pirataria, oferece uma experiência obrigatória para todos os fãs de city builders e de piratas. Para aqueles que adoram ambos é um verdadeiro sonho, livre de escorbuto, espero eu.