Em 2013 o mundo dos videojogos era bem diferente. O número de jogos lançados por semana era muitíssimo inferior aos dos dias de hoje, e isso permitiu a uma “primeira” geração de indies de se destacarem com a sua criatividade. Um esclarecimento prévio: quando me refiro À primeira geração para aquela que aproveitou a democratização das plataformas e motores no final da primeira década do milénio até aos primeiros anos da segunda, não estou a ignorar outras gerações. É mais do que óbvio que os anos 1980 foram preenchidos por criadores que para os padrões dos dias de hoje seriam apelidados de indie, mas prefiro remeter essa nomenclatura para esta geração em que já assumidamente os enunciamos como tal.
Regressando a 2013: não só é o ano em que a minha vida mudou definitivamente porque fui pai, mas também foi o ano em que dois jogos indie, do qual já sobejamente falei, implantaram em mim esta paixão por jogos independentes.
Este foi também o ano de muitos sucessos indie, dos quais Reus é um deles. Lançado pelo estúdio Abbey Games, à época um grupo de entusiasmados estudantes que sentiram (e com razão) que o projecto académico que tinham em mãos tinha potencial para ser algo mais. Um god game onde controlamos quatro deuses gigantes, responsáveis por terraformar um planeta e gerir as suas interacções ecológicas. A sequela, Reus 2, eleva essa fórmula para novos patamares, oferece-nos uma experiência visualmente deslumbrante com a sua identidade visual característica e ao mesmo tempo mecanicamente rica, porém, com uma curva de aprendizagem ainda mais acentuada que a do jogo original.
Reus 2 mantém a essência do original, onde controlamos deuses gigantes para moldar a superfície do planeta, adicionando biomas e recursos que interagem entre si de maneiras complexas. No entanto, esta sequela expande significativamente o scope da série com a introdução de seis gigantes, cada um com habilidades únicas, e mais de 100 tipos de segmentos bióticos diferentes. Estes segmentos bióticos sinergizam entre si, criando uma rede intrincada de interacções que os jogadores precisam dominar para prosperar.
A terraformação continua a ser central na jogabilidade, com os gigantes a moverem-se ao longo da circunferência num corte frontal do planeta e transformando o ambiente conforme os seus (nossos) desígnios. Novos elementos, como eras e desbloqueios progressivos, adicionam uma camada roguelike e de estratégia a longo prazo, desafiando-nos a sucessivas playthroughs para ir avançando na nossa rede de acesso de tecnológico.
Visualmente, Reus 2 é delicioso: a sua identidade visual forte e estilizada dá vida aos gigantes e ao planeta que eles moldam. Um plano onde a paleta de cores vibrante e detalhada permite a cada bioma e criatura possuir uma aparência distinta, facilitando a identificação rápida e a gestão eficiente dos recursos e do nosso planeta.
No entanto, a complexidade das mecânicas pode ser intimidante, especialmente para novos jogadores, com o tutorial a levantar mais dúvidas do que a dar-nos respostas, e precisamos de investir tempo e esforço para entender completamente as interacções entre os biomas e as habilidades dos gigantes, tornando a experiência inicial muito desafiadora.
Um dos aspectos mais interessantes de Reus 2 é a progressão estilo roguelike, onde cada sessão de jogo nos premeia com experiência que nos vai permitir desbloquear novos deuses, segmentos bióticos e eras. No início, temos apenas acesso a uma era e três gigantes, mas à medida que progredimos são adicionando novos elementos, ampliando as possibilidades estratégicas e incentivando a nossa rejogabilidade. E tudo isto é essencial para manter o nosso interesse a longo prazo, oferecendo-nos recompensas tangíveis por cada playthrough e motivando-nos a experimentar diferentes combinações de deuses e segmentos bióticos. A cada nova sessão, a cada run, o jogo renova-se, apresentando-nos desafios e oportunidades únicas.
Reus 2 é uma sequela digna do seu predecessor, expandindo a visão original com mais profundidade e complexidade, mostrando também a diferença que a experiência de uma equipa com a distância de 10 anos pode trazer. Apesar da sua curva de aprendizagem abrupta, Reus 2 recompensa-nos com uma experiência rica e envolvente, cheia de descobertas e desafios estratégicos. A Abbey Games conseguiu não apenas manter a magia do original, mas também aprimorá-la, criando um god game que é mecânica e visualmente único.