Temos visto muitos cruzamentos de género, a maioria deles criativos, alguns deles funcionais. A proposta que trazemos hoje, um jogo em que encarnamos a Morte de forma original é indubitavelmente criativa, mas será que funciona?

The Detective Reaper Invites é uma criação inédita de Shizu Kano Uni, publicada pela Playism, e combina de forma original elementos de lógica com o estilo roguelite, ainda que os elementos de rogue sejam tão lite que são virtualmente imperceptíveis.

Neste criativo indie japonês somos um Espectro da Morte que é simultaneamente um Detective, e que deve resolver uma série de casos complexos para executar os culpados numa série de crimes, separando-os dos inocentes envolvidos em cada caso. A premissa básica deste jogo é sobretudo um grande puzzle de lógica que gira em torno de uma regra fundamental: os culpados mentem sempre e os inocentes dizem sempre a verdade. 

Esta dualidade simples serve como a base para um conjunto de desafios lógicos intrincados, como muitos com os quias já nos cruzámos no passado. Pensem nos desafios de lógica intitulados de Knights and Knaves, ou os problemas matemáticos dos Truth-Tellers and Liars. É sobre isto que se debruça The Detective Reaper Invites: o personagem A diz que B é culpado, B diz que é inocente e C é culpado e C diz que é inocente e que A é culpado. Agora estendam esta lógica até a uma rede muito complexa que nos dá um nó mental, e percebemos o loop subjacente a The Detective Reaper Invites.

Começamos cada caso com a informação do número de culpados envolvidos. Utilizando um baralho de cartas com habilidades temos de interrogar os suspeitos e reunir pistas para deduzir quem está a mentir, e consequentemente, quem está a dizer a verdade. As cartas são a ferramenta principal da investigação e variam em função e custo para serem jogadas.

A gestão estratégica das cartas e dos recursos para as jogar é o elemento vital de The Detective Reaper Invites, já que cada carta tem um custo associado, pago em dinheiro. Este custo impõe um limite ao número de ações que podemos fazer, forçando-nos a uma gestão cuidadosa do dinheiro disponível. 

As cartas podem variar desde simples interrogações a habilidades mais avançadas que podem revelar informações cruciais sobre os suspeitos e ajudar-nos a destrinçar a verdade, algo importante já que executar a pessoa errada acarreta penalizações significativas. Cada erro pode aproximar-nos do Game Over (com cada erro a subtrair vida da nossa barra), tornando cada decisão táctica e cada escolha de carta uma parte crítica da estratégia global para descortinar a verdade.

A natureza roguelite do jogo remete-se apenas para o facto de que cada partida apresenta diferentes combinações de culpados e inocentes, garantindo que nenhuma run é idêntica a outra. Esta aleatoriedade, combinada com a necessidade de pensar estrategicamente sobre o uso das cartas, faz com que The Detective Reaper Invites seja um jogo que recompensa a nossa capacidade de pensar logicamente, mas não tem nada de permanente que lhe faça merecer o género atribuído.

The Detective Reaper Invites é um jogo indie que nos desafia a pensar de forma crítica e a gerir as nossas cartas de maneira eficaz, com uma ideia interessante baseada em puzzles de lógica matemáticos que podem não ser suficientes para que nos mantenhamos investidos após algumas runs.