É sabido que o grosso do mercado de produção e consumo nessa superpotência mundial que é a China tem uma predominância com jogos mobile. Mas basta que estejamos menos atentos do que o normal para assumirmos que esta é uma realidade incontestada, e facilmente nos vai passar ao lado o número crescente de estúdios indie de imensa qualidade que têm como intenção chegar às consolas e PC. No Indie X temos sentido isso mesmo, com um aumento do número e da qualidade dos estúdios chineses que concorrem, ano após ano.

Kaku: Ancient Seal, desenvolvido pelo estúdio indie chinês Bingobell, é uma aventura open world que tem captado a atenção de muitos jogadores e imprensa pela sua impressionante escala e sobretudo pela sua exímia direcção e detalhes artísticos. 

Neste surpreendente indie chinês controlamos Kaku, um jovem aventureiro tribal que parte à aventura acompanhado de Piggy, o seu adorável porco voador. O setting pré-histórico repleto de criaturas fantásticas e biomas variados oferece-nos não só uma experiência visual que rivaliza com grandes produções, embora, como rapidamente percebemos, a jogabilidade não acompanha o patamar de qualidade artística.

A direcção de arte de Kaku: Ancient Seal é, sem dúvida, o seu ponto mais forte. Os ambientes pré-históricos são ricos em detalhes e polvilhados cores vibrantes, com cada área do jogo a corresponder a um bioma temático, como desertos vastos e florestas densas que proporcionam uma diversidade visual surpreendente, dada a inexperiência do estúdio Bingobell. Há muito de animação moderna norte-americana em toda a estética de Kaku, e as semelhanças que encontramos com o ambiente de Croods, por exemplo, é um reconhecimento quase imediato.

Kaku, o protagonista, é um jovem determinado a descobrir os segredos de seu mundo, e Piggy, o seu porco voador, é um companheiro encantador que adiciona um toque de magia à aventura. Juntos, eles encontram uma variedade de criaturas fantásticas, cada uma desenhada com um cuidado especial que destaca a criatividade do estúdio Bingobell.

A construção visual de Kaku: Ancient Seal engana-nos com a sua doçura animada: já que o combate é também ele enganadoramente difícil e, em muitos casos, infelizmente, injusto e frustrante. Os inimigos atacam de todos os lados, muitas vezes de fora do ecrã, criando uma sensação de injustiça nas batalhas, facto de que não ajuda o movimento de Kaku ser um tanto ou quanto atabalhoado, uma deficiência mecânica que contribui negativamente para a sua dificuldade.

Kaku: Ancient Seal também inclui uma espécie de santuários que lembram os de The Legend of Zelda, com puzzles que nos recompensam com armas e materiais, no entanto, ao contrário dos jogos recentes dirigidos por Aonuma, a qualidade dos puzzles é inconsistente e na sua maioria pouco criativa ou realmente desafiante.

Apesar das suas muitas falhas mecânicas, Kaku: Ancient Seal é um jogo que merece alguma atenção pela sua beleza e escala, já que a arte do jogo é impressionante e a o setting pré-histórico foi bem conseguido na sua representação. Mas é sobretudo uma prova do potencial dos estúdios indie de criarem mundos vastos e belos que rivalizam com grandes produções, surgindo quase “vindos de nada” e surpreendendo toda a gente com a sua existência.