Estou a precisar de relaxar. E não o digo como a típica frase de alguém que está a ansiar uns dias de descanso depois de demasiado tempo com o pé no acelerador, a levar ao extremo os limites do seu corpo, da sua mente e da sua energia. Digo-o como alguém que tem encontrado nos cozy games um refúgio mental ansiado, mas que por alguma razão tem como mau sinal o facto de que nos dias de hoje teima em não conseguir encontrar esse mesmo refúgio.
Magical Delicacy, das primeiras imagens que vi, tinha tudo para ser essa panaceia terapêutica. Um novo jogo indie desenvolvido pelo estúdio Skaule, com uma abordagem diferente aos cozy cooking games.
Embora Magical Delicacy mantenha os elementos acolhedores e relaxantes esperados de um jogo cozy, adiciona também uma esfera divergente ao integrar elementos de aventura e platforming neste ambiente bidimensional com pixel art detalhado.
Magical Delicacy passa-se numa vila ribeirinha idílica, onde a nossa protagonista, Flora, interage com um elenco simpático e fantasioso. É inegável que a direcção de arte e a tremenda qualidade da pixel art deste jogo é uma das suas características mais marcantes, oferecendo-nos um ambiente visualmente atraente que combina nostalgia com inovação. É que basta olhar para alguns screenshots para perceberem que o que a equipa do estúdio Skaule quis fazer foi repensar a pixel art com um toque moderno, com figuras esguias e brilhantemente animadas.
Ao contrário de muitos cozy games – e eu bem tenho jogado centenas deles – que se concentram exclusivamente na simulação de vida e em actividades como cozinhar e cultivar, Magical Delicacy integra um sistema de platforming, que é um desvio algo estranho do esperado para o género.
A movimentação no mapa é feita através de plataformas, onde temos de navegar por diferentes ecrãs interligados entre si, por vezes sem termos a capacidade para os alcançar, e com terrenos para recolher ingredientes, completar receitas e cumprir missões. Há um desafio adicional à experiência de jogo, mas com fã de cozy games sinto que há muito que se perde neste problema de identidade que Magical Delicacy possui.
Ao tentar em simultâneo capturar a essência de um cozy cooking game (ou simulador de vida), com um jogo de aventura e platforming, parece-me que Magical Delicacy deixa o ponteiro no meio, sem ser brilhante em nenhuma das partes.
As missões são projectadas para serem acessíveis, sem a pressão frequentemente associada a jogos de aventura mais intensos, e remetendo quase sempre para pratos e sobremesas que os personagens que habitam a vila requerem por dada razão. Mas dado que esses elementos de recolha de ingredientes é muito simplista e que requer que andemos a saltitar em plataformas para nos deslocarmos, há uma sensação de oportunidade perdida.
É que existe uma quase aura de metroidvania no acesso a determinadas áreas mas que não tem o seu potencial cumprido sobretudo pelo quão pouco coesas são as mecânicas de salto. Apesar da maravilhosa direcção de arte, é frustrante que esta mistura atípica e corajosa de intercalar um cooking game com um jogo de plataformas com um travo a metroidvania resulte pior que a soma das suas partes.