Por muito que os videojogos sejam feitos por milhares de pessoas, nem todas trabalham diretamente no jogo em si, no entanto não deixam de ter um papel preponderante nas vendas de uma determinada obra. É amplamente sabido que o marketing dos videojogos representa uma generosa fatia do orçamento dos mesmos. Em Portugal, não se gasta o equivalente aos valores investidos, por exemplo, no Reino Unido, mas tem-se visto uma aproximação de comunidades às marcas, dado que nota-se que a Sony, a Xbox e, particularmente, a Nintendo esforçam-se para estar junto do seu público, nomeadamente em eventos como o MEO XL Games ou o Lisboa Games Week. Das três grandes fabricantes de consolas, aqui, neste país à beira-mar plantado, talvez seja a Nintendo a que mais proximidade tem com os jogadores, muito graças ao trabalho desenvolvido por Jorge Vieira, Gonçalo Brito e agora com a contribuição da Isabel Rodolfo. A Product Manager assumiu o cargo de Jorge Vieira (que assumirá outras funções na Nintendo Ibérica) na sucursal portuguesa da casa de Quioto em Maio, e por isso achei que seria interessante conversar com a nova colaboradora da Nintendo dado a sua experiência que tem a trabalhar em videojogos e saber que rumos seguirá a Nintendo Portugal.

Após um hiato de doze anos, Isabel Rodolfo regressa ao vibrante mundo dos videojogos, agora à frente da Nintendo Portugal. Com um percurso notável na Electronic Arts (EA) e após encerrar a sua passagem pela gigante coreana, a Samsung, Isabel traz consigo uma vasta experiência e uma paixão renovada pelo universo dos videojogos. Em conversa por e-mail, a Isabel Rodolfo contou-me sobre o seu regresso, as estratégias que tem pensado para a Nintendo Portugal e a sua visão para o futuro dos videojogos em Portugal.

“Passados 12 anos é realmente um sentimento de regresso a “casa” e com a oportunidade de voltar a trabalhar com pessoas que me inspiram e com as quais tanto aprendi sobre videojogos”, confessa Isabel, que imagino ter um brilho nos olhos enquanto escreve as suas respostas. Ainda afirma estar “muito grata por esta oportunidade” depois de ter estado nove anos (entre 2003 e 2012) na casa de FIFA, Mass Effect, e Battlefield, um período que moldou definitivamente a sua carreira.

Isabel substitui Jorge Vieira, um veterano que conhece desde os tempos da EA que, curiosamente, entrevistou-a numa altura em que era jornalista para revistas de videojogos. “Durante os 9 anos em que trabalhei na EA, o Jorge fazia já parte desta equipa incrível que escrevia para a imprensa especializada e com a qual tive oportunidade de trabalhar. O trabalho conjunto que desenvolvemos na altura pautou-se sempre por grande caráter, profissionalismo e confiança, o que sem dúvida foi também um fator decisivo quando aceitei abraçar esta oportunidade.”, começou por dizer-me a nova Product Manager da Nintendo Portugal. “O Jorge criou um legado importante, muito bem estruturado e enraizado no qual me sinto muito honrada em dar continuidade. Acredito ainda que a experiência que adquiri em outras indústrias durante os últimos anos, trará também insights adicionais à equipa que espero poderem ajudar a levar-nos para o nível seguinte.”, continuou Isabel Rodolfo que me deixou curioso em saber como é que a sua experiência será um importante fator para fazer crescer a Nintendo em Portugal.

Apesar do domínio histórico da PlayStation em Portugal, Isabel acredita que está a chegar uma mudança neste cenário monopolizador da Sony. “A Nintendo Switch foi a consola mais vendida em Portugal em 2020, 2021 e 2022”, portanto a Product Manager da Nintendo Portugal afirma com veemência: “cada vez mais o antigo domínio da PlayStation se vai esbatendo no nosso país”. De acordo com Isabel Rodolfo, “continuar a avaliar a Nintendo em Portugal pelos mesmos padrões como se fazia há 10 ou 15 anos atrás, a meu ver não faz sentido”. Por isso, perguntei qual seria a estratégia a seguir pela marca por cá, um mercado que não tem a mesma importância que uma França, uma Alemanha ou até a nossa vizinha Espanha. “A estratégia da Nintendo em Portugal é a mesma seguida no resto do mundo: fazer com que cada vez mais pessoas, independentemente da sua idade, género ou anterior experiência com videojogos, desfrutem dos jogos e consolas Nintendo.”

Isabel mostra um grande entusiasmo pelo crescimento dos estúdios independentes em Portugal. “Vemos com muito interesse o crescimento florescente de estúdios e criadores de jogos independentes no nosso país e temos planos para apoiar mais ativamente a visibilidade dos seus jogos para os consumidores nas consolas Nintendo.” A nova colaboradora da Nintendo, pela sua experiência, deve saber bem que há um problema de dar destaque aos criadores independentes, dar mais visibilidade aos criadores mais pequenos vai gerar-lhes mais vendas e este é “o primeiro passo para que estas companhias e autores possam ter um crescimento sustentado e começar, quem sabe, a apontar mais seriamente à internacionalização dos seus jogos.”

Sobre o futuro da Nintendo em Portugal, Isabel mantém a visão global da marca: diversão para todos. “Queremos continuar a desenvolver jogos que não só apelem aos gamers, mas também aos pais e famílias, proporcionando momentos de alegria e convívio.”

Nintendo sempre valorizou a sua comunidade de fãs e os laços que fortaleceram ao longo dos anos, a Isabel planeia, precisamente, reforçar esses laços. “Vamos continuar a apoiar eventos locais como torneios e convenções, fortalecendo a nossa conexão com os jogadores.” E é notavelmente no seio da comunidade que se ouve o desejo fervoroso de haver títulos da Nintendo localizados para português de Portugal. Embora não seja a Nintendo Portugal que decida que jogos é que serão localizados, a sua importância é “naturalmente sublinhada nos devidos fóruns internos”. “Nos últimos anos tem-se assistido a uma progressiva aposta neste sentido e a ideia é continuar a reforçar esta aposta a par do crescente sucesso dos jogos e consolas Nintendo no nosso país.”, termina Isabel Rodolfo sobre este tema.

Quando questionada sobre os seus jogos e consolas favoritos, aqui imagino novamente a sua reação com um largo sorriso. “Confesso que não sendo uma gamer nata”, começa por revelar. “Sempre me atraíram mais os jogos nos quais pudesse desfrutar em conjunto com amigos ou família. Nesse sentido a 1ª consola que me surpreendeu e me deixou mais memórias foi a Nintendo Wii, que na altura do seu lançamento foi única neste conceito.”, consola que foi um sucesso de vendas em Portugal no seu lançamento onde as dez mil unidades disponíveis desapareceram rapidamente das lojas, segundo o que declarou a Concentra (antiga distribuidora de brinquedos que vendia os produtos Nintendo em Portugal) à Agência Lusa (via RTP).

“Agora neste regresso à indústria, não só como profissional, consumidora mas também como mãe , estou sem dúvida muito contente por poder afirmar que a Nintendo Switch é sem dúvida para mim, a melhor opção a todos os níveis – para jogar os “meus jogos”, para jogar em família e também para a minha filha jogar os “jogos dela”, sempre em segurança”. Já no tema dos jogos propriamente ditos, Isabel confessa gostar bastante de Super Mario, até porque qualquer jogo desta série lhe deixa “com um sorriso na cara”, mas na altura da entrevista, o seu desejo era jogar o clássico das 3DS adaptado para a Nintendo Switch.

Assim, Isabel Rodolfo está pronta para guiar a Nintendo Portugal a novos horizontes, com uma visão clara e uma paixão inabalável pelos videojogos. A Isabel entra numa altura em que já se fala da próxima consola da casa de Quioto, a sucessora da Switch, a segunda consola da Nintendo que mais vendeu, só estando atrás da Nintendo DS – além da Nintendo Switch ser ser a terceira consola mais vendida de sempre, com um marco nos cento e quarenta e três milhões de unidades vendidas. O seu regresso ao setor não marca apenas uma nova fase na sua carreira, mas também uma oportunidade de deixar a sua experiência marque e transforme o mercado dos videojogos em Portugal.