Ando sequioso por jogos relaxantes, sejam puzzle games, abordagens mais narrativas ou mesmo agrícolas. Há uma vertente terapêutica no refúgio dos mundos e ambientes virtuais dos videojogos que eu sinto precisar, e muito, nos dias de hoje. Os primeiros vislumbres no verdadeiramente deslumbrante Creatures of Ava, desenvolvido pelos Inverge Studios, foram suficientes para eu saber que de algo forma “precisava” de conhecer este colorido e vibrante planeta, e aventurar-me nesta aventura, levando os problemas que martelam na minha cabeça para um outro espaço e uma outra realidade.
Creatures of Ava é um título que em muitos aspectos é esta resposta que eu procurava, oferenco-nos uma experiência meditativa, levando-nos pela mão por uma viagem espiritual para salvar o planeta Ava de uma terrível infecção. Aterrar virtualmente em Ava é perceber que este mundo se destaca não só pela sua beleza visual, mas também pela sua tentativa de equilibrar exploração, puzzles e uma narrativa de cura e redenção.
Como é possível ver pelas imagens que ilustram este artigo, Ava é um mundo vibrante, cheio de vida, mas que está lentamente a ser consumido por uma infecção que corrompe a sua flora e fauna. Cabe-nos a nós, no controlo da protagonista e conservadora Vic, a missão de purificar o planeta, restaurar o equilíbrio natural e salvar as criaturas que ali habitam. Uma história e um desafio enfaixados numa abordagem pacífica e introspectiva.
Este jogo indie oferece-nos uma exploração diversificada, visual e mecanicamente, através de diversos biomas, cada um com a sua própria atmosfera e desafios: de florestas luxuriantes até desertos áridos e montanhas geladas, cada ambiente é meticulosamente detalhado, aproveitando ao máximo o poder técnico do motor Unreal Engine 5.
Uma característica curiosa de Creatures of Ava é a utilização de uma flauta mágica, como se o proverbial Flautista de Hamelin se tratasse. Cada bioma tem sua própria melodia, que, quando tocada na flauta, permite-nos interagir e conectar com a fauna local. Estes animais, uma vez libertos da corrupção, tornam-se nossos aliados na resolução de puzzles e na navegação pelo mundo, transformando a flauta e a música numa ferramenta essencial, não apenas para a cura das diversas criaturas de Ava, mas também para a progressão no jogo.
A jogabilidade de Creatures of Ava lembra-nos um metroidvania, onde o progresso depende da aquisição de novos poderes e habilidades, onde muitos obstáculos só podem ser transpostos após desbloquearmos feitiços específicos ou ao controlarmos certas criaturas – também elas com habilidades únicas – que nos ajudam a aceder a áreas previamente inacessíveis.
Não é só a exploração que tem este toque pacifista, também o combate é substituído por uma abordagem não-agressiva, focando-nos em desviarmos dos ataques dos animais infectados e purificá-los. Essa purificação dá-se com a utilização de um antigo artefacto que possuímos e que é capaz de limpar a corrupção da fauna e da flora, num ciclo de redenção e renovação.
Outro aspecto interessante do jogo – e que me lembrou de imediato Beyond Good and Evil – é o sistema de fotografia, já que somos incentivados a documentar a vida selvagem de Ava, tanto no seu estado corrompido, assim como purificado. Fotografar estas criaturas não só enriquece o nosso entendimento sobre as espécies e os seus padrões de comportamento, mas também desbloqueia informações importantes para resolver os puzzles e avançar na história.
Visualmente, Creatures of Ava é impressionante, com o Unreal Engine 5 a permitir que este jogo apresente paisagens detalhadas, adornados pelos efeitos de iluminação e uma direcção de arte delicada que nos convida à contemplação.
No entanto, apesar de toda esta beleza, sinto que a repetitividade (e até simplicidade) das mecânicas pode eventualmente levar-nos a uma sensação de redundância. Com tantas boas ideias aqui aplicadas, é o ritmo do jogo que, por vezes, se pode arrastar, repetindo-se e tornando monótona a deambulação por este belo mundo.
Creatures of Ava traz-nos uma viagem terapêutica, que nos afaga a alma com a sua abordagem tranquila e meditativa numa suave aventura repleta de exploração. Apesar dos problemas de ritmo e da repetitividade em algumas mecânicas, o jogo é uma ode à natureza e à redenção, com as nossas acções pacíficas a servirem para curar um mundo doente de volta ao seu esplendor.