Durante anos senti que alguns géneros que me formaram enquanto jogador eram pouco mais que vestígios arqueológicos, vetados a um canto da memória pelas mudanças constantes da indústria de videojogos.

Desses vários géneros semi-esquecidos até que o avalanche de estúdios indie os resgatassem da prateleira, estavam sem dúvida os side scrolling beat’em ups. Depois de terem sido reis das arcadas e até das consolas domésticas no início da década de noventa, a obsessão por converter tudo em 3D levou a que estes géneros intrinsecamente bidimensionais fossem abandonados. 

Para mim estes jogos têm sido um ritual de passagem com os meus filhos, jogando-os sempre que possível numa máquina de arcada ou experimentando-os em consola. Há algo de puro plug and play que muitas destas obras máximas do género mantêm e que as tornam intemporais, mantendo-se brilhantes e estranhamente frescas e actuais, mesmo passados 30 anos.

Não é portanto de surpreender que sejamos precisamente nós, o público que nasceu nas décadas de 1970 e 1980 o alvo de muitos jogos revivalistas que vemos chegar ao mercado. G.I. Joe: Wrath of Cobra, desenvolvido pelo estúdio Maple Powered Games, é uma tentativa de reviver essa mesma era dourada dos jogos beat’em up clássicos. 

No coração da jogabilidade de G.I. Joe: Wrath of Cobra, temos um conjunto familiar de movimentos a todos aqueles que olham com saudade para o poder colossal que uma velhinha moeda de 50$ já possuiu: ataques leves e fortes, saltos e o tradicional dive kick – um ataque aéreo muito comum num beat’em up e que me cria um reflexo mnemónico com Jimmy e Billy Lee. Os controlos, como esperamos, são fáceis de aprender, trazendo de volta a simplicidade de outros tempos.

Entretanto, há uma ausência notável: a falta de um sistema de agarrar, uma mecânica comum em muitos beat’em ups clássicos, e que é aqui ainda mais evidente já que tanto os personagens jogáveis quanto os inimigos podem bloquear ataques indefinidamente. Ser-nos retirada uma maneira eficaz de quebrar essa defesa deixa o combate menos dinâmico e estratégico, uma realidade que poderia ter sido resolvida com um simples movimento de agarrar ou um golpe forte que quebrasse essa defesa.

Em G.I. Joe: Wrath of Cobra temos quatro personagens jogáveis logo no início, cada um com atributos diferentes, como velocidade e força, ao bom estilo de Streets of Rage 3, e temos também a possibilidade de desbloquear mais duas personagens através da recolha de disquetes – a “moeda” do jogo – durante os combates. Cada um deles tem um ataque especial AoE que pode ser activado quando enchemos a barra correspondente.

No entanto, um dos maiores problemas deste jogo e que me fez ficar menos “colado” a ele do que esperava é o facto de sentir que os movimentos dos personagens são um tanto “perros”, e até os personagens mais ágeis parecem sofrer de uma frustrante falta de fluidez nos comandos. Movimentos “duros” esses que nos levam a pensar de imediato noutros side scrolling beat’em ups modernos melhores como Streets of Rage 4 ou Teenage Mutant Ninja Turtles: Shredder’s Revenge.

A Inteligência Artificial dos inimigos em Wrath of Cobra é esquizofrénica: os inimigos mais simples mal telegrafam os seus ataques, tornando a missão de não perder vida até aos bosses mais uma questão de sorte ou de reflexos rápidos. Por outro lado, os bosses apresentam um comportamento quase oposto, onde os seus movimentos são tão telegrafados que parecem quase “parar o tempo” para nos avisarem do que vai acontecer, pedindo-nos permissão se nos podem infligir dano.

G.I. Joe: Wrath of Cobra é um produto que nos tenta aliciar pela nostalgia, levando-nos de regresso às manhãs de sábado da nossa infância, no entanto, quando comparado com outros títulos recentes do género, fica muito aquém em termos de combate e criatividade. Há tantos exemplos recentes que conseguiram capturar a nostalgia enquanto modernizaram a jogabilidade, criando em animações mais fluidas que rivalizavam com o apogeu da pixel art dos jogos de arcadas, mas também pela implementação de sistemas de combos mais profundos e um design mais original e diversificado de inimigos. Em Wrath of Cobra, a falta de uma mecânica de agarrar os inimigos (e ser agarrado), a previsibilidade dos bosses e os controlos um tanto lentos impedem que este jogo alcance o mesmo nível de refinamento de outras experiências recentes.

G.I. Joe: Wrath of Cobra consegue cumprir parte da sua missão: submergir-nos numa onda de nostalgia e homenagear a série G.I. Joe. No entanto, ao lado de outros beat’em ups nostálgicos que foram lançados nos últimos anos, este é sem dúvida um jogo menor, que teria muito a aprender e a sorver inspiração de jogos com mais de 3 décadas.