Não conhecendo os contornos do negócio, até hoje me questiono do porquê do estúdio Contigent99, constituído apenas por 2 pessoas, não ser o mesmo que publicou Wizard of Legend 2, já que o original teve a sua mão.
Mas esta nem é a única dúvida que me assombra em relação a Wizard of Legend 2, é que há lançamentos que têm, sem escolha para tal, o pior timing para serem lançados. Ainda há pouco mais de um mês, o estúdio Dead Mage lançou Wizard of Legend 2 em Early Access no Steam, marcando o regresso de uma das séries que ajudaram a definir os indie roguelikes.
Mas este jogo chegou-nos num momento turbulento no setor, coincidindo com os cortes anunciados pela sua editora, a Humble Games, que encerrou a sua divisão de publishing, deixando o futuro de vários projetos incerto. Sem ter falado com os developers sobre isto, acredito que este facto tenha prejudicado, e muito, o lançamento de um jogo tão esperado quanto este.
Desde o primeiro conctato visual, é impossível não perceber a influência de Hades no desenvolvimento de Wizard of Legend 2: a direção de arte deu um salto significativo em comparação com o primeiro jogo. O estilo pixel art foi deixado de lado em prol de um traço mais arte-finalizado, com linhas nítidas e uma paleta de cores vibrante que remete à estética quase de comics consagrada pelo jogo da Supergiant Games. Esta mudança artística não torna apenas mais apelativa a apresentação do jogo, mas também o ajuda a criar uma identidade visual mais marcante.
Embora o visual tenha mudado, a essência do gameplay roguelike continua intacta: assim como no seu antecessor, a jogabilidade rápida, intensa e cheia de ação está no centro da experiência, mas agora com camadas de profundidade que mostram o quanto o género evoluiu nos últimos anos, e de que forma, na realidade, andam “sete cães a um osso” a tentar reproduzir o sucesso comercial de Hades.
O ponto alto de Wizard of Legend 2 é, sem dúvida, o seu sistema de feitiços, e a forma como eles alteram significativamente o combate. Como mestres da magia, escolhemos um par de feitiços iniciais vinculados a elementos, como fogo, gelo ou eletricidade. Durante a run, é-nos possível desbloquear feitiços adicionais, incluindo aqueles de elementos diferentes, incentivando-nos a alguma experimentação e construção de novas sinergias. Esta flexibilidade dá um novo nível de profundidade às runs e torna cada tentativa única, já que a combinação certa de feitiços pode ser a chave para vencer o enorme desafio apresentado pelo jogo.
Esta transição para um novo sistema aproxima-o definitivamente de Hades e outros jogos modernos de acção roguelike, que têm um maior pendor no dinamismo e na criatividade da construção de builds de habilidades, mas adicionado-lhes elemento de co-op online que diversificam bastante o desafio.
No entanto, é importante lembrar que Wizard of Legend 2 está apenas numa fase intermédio do seu ciclo de desenvolvimento, e o conteúdo actual é limitado. Existem apenas dois biomas disponíveis, o que limita, e muito, a variedade de cenários e desafios, com as runs a durararem, no máximo, cerca de 30 minutos.
Wizard of Legend 2 não é apenas uma sequela: é uma evolução da série, que abraça o caminho trilhado por Hades e por outros títulos influentes, passando-nos a certeza de que a Dead Mage, no meio do turbilhão da Humble Games, está a criar algo que respeita o legado do primeiro jogo enquanto arrisca em novos territórios estéticos e mecânicos, tornando-o um dos mais promissores jogos do género, assim que estiver completamente desenvolvido.