É especialmente nos períodos mais duros das nossas vidas que o escapismo assume um papel quase terapêutico. Mas há muitas formas de o fazer, entre as mais saudáveis e pacíficas, e as mais arriscadas e potencialmente ilegais, a vontade de escapar da realidade tem sido um tema recorrente da Humanidade. No meu caso vejo a nostalgia e as viagens pelas minhas próprias memórias como uma forma de lidar com alguns dos problemas que tenho no presente.

Uma dessas memórias de conforto reside na minha infância, em que apesar de todas as coisas tudo soava mais simples. Os videojogos eram-no certamente. Num espírito quase plug and play onde parecíamos ter acesso no imediato a todo o conhecimento do mundo, sem explicações. Ou pelos menos tínhamo-lo, naqueles mundos.

A explorar esse filão de aparente simplicidade está o recém-lançado no Steam Tower of Dreams, desenvolvido pelos Sour Lemon Studios, trazendo uma fusão interessante de mecânicas retro com o sabor dos desafios modernos. Este é um roguelite platformer especialmente destinado para aqueles que se lembram com carinho de clássicos da era NES, como Duck Tales, e títulos mais recentes que lhes prestam homenagem, como Shovel Knight.

Em Tower of Dreams controlamos um aventureiro cuja espada é a chave para a escalada da imponente e titular Tower of Dreams, mas aquela não é apenas uma arma, podemos utilizá-la também como a ferramenta principal de locomoção, como um “pula-pula”. 

(Nota: se ao lerem “pula-pula” o vosso cérebro de imediato começou a “tocar” a música homónima da Luciana Abreu, então aqui fica o número 217805000, correspondente à Psiquiatria do Hospital de Santa Maria. De nada.)

Com a nossa espada podemos dar saltos e ricochetear em objectos ou nos inimigos, uma  mecânica que não sendo nova, é reminiscente do clássico Duck Tales, onde o Tio Patinhas utilizava sua bengala para saltar sobre inimigos e obstáculos. Como esperado nas produções contemporâneas, o controlos precisos e a importância dos reflexos em Tower of Dreams trazem à memória a destreza exigida em Shovel Knight.

A movimentação em Tower of Dreams requer domínio do timing e dos arcos de salto, especialmente à medida que avançamos pelos níveis crescentemente difíceis da torre, e onde cada salto e utilização do pula-pula se torna mais desafiante. Cada andar (ou nível) apresenta uma série de desafios novos interligados com a temática da zona, trazendo um precison platforming para ultrapassar inimigos posicionados perto de armadilhas e abismos escapáveis.

O elemento roguelite de Tower of Dreams manifesta-se na sua estrutura procedural e no uso de power-ups. A cada nova run temos a oportunidade de adquirir itens e habilidades diferentes que podem modificam (e muitas vezes simplificam) o gameplay e a dificuldades. Alguns desses power-ups podem aumentar o alcance ou a força da espada, enquanto outros conferem habilidades defensivas ou facilitam a navegação pela torre como dashes.

Essa variabilidade faz com que cada partida seja única, incentivando-nos a experimentarmos diferentes combinações de power-ups. Como em outros roguelites, a dificuldade é um ponto central, mas a sensação de progresso e a aquisição de habilidades tornam a escalada da torre uma experiência recompensadora, à medida que nós mesmos nos vamos tornando melhores “jogadores” com uma mais elevada mestria do controlo e deambulação do protagonista.

Visualmente, Tower of Dreams aposta num estilo pixel art detalhado, que remete à estética dos clássicos 8-bits, mas com um toque moderno, demonstrando-se como uma carta de amor aos platformers clássicos, combinada com a renovação dos roguelites modernos.