Eu sou um homem simples: vejo algo que remotamente se assemelhe ao meu adorado Mega Man Battle Network e tenho automaticamente de perceber o que é. Somemos a isso este caso, Card-En-Ciel, ser um jogo proveniente de um estúdio cuja carreira eu tenho seguido atentamente como Gunvolt e Blaster Master, e certamente que conseguimos perceber o burburinho que o jogo criou num segmento específico do mercado.

Depois de o jogar percebemos que Card-En-Ciel é um jogo que, em muitos aspectos, pode evocar a nostalgia de Mega Man Battle Network com o seu sistema de grelha, mas que rapidamente revela um conjunto distinto de mecânicas, focadas em ser um quase jogo “puro” de cartas que o distinguem. 

Em Card-En-Ciel assumimos o papel de Neon Nanashik, um detetive digital mergulhado num videojogo ainda em desenvolvimento, em busca de respostas para o caos que o consome, remetendo-nos quase de imediato para o conceito e premissa de Sword Art Online.

Se MMBN é um jogo de acção em grelha, aqui, em cada combate, Card-En-Ciel desafia-nos a utilizar cartas para movimentos e ataques, posicionando os personagens estrategicamentenuma grelha de 18 quadrados. Cada vitória recompensa-nos com uma nova carta adicionada ao baralho, aumentando o tamanho do nosso baralho ao longo da run. Para fãs de jogos de cartas ou até desta visão de deckbuilding, Card-En-Ciel incentiva-nos a uma adaptação constante à mão disponível, especialmente porque o baralho vai ser obrigatoriamente maior à medida que jogamos, visto que não temos hipótese de dar skip a essa recompensa.

Se o jogo de cartas é a mecânica principal de combate no cerne de todo o jogo, a realidade é que o invólucro de Card-En-Ciel é a de um dungeon crawler, onde avançamos por pisos, cada um trazendo uma série de batalhas e culminando em bosses de final de run. A progressão roguelite mantém a sensação de perigo e recompensa, algo que vamos perceber nas 10 dungeons de história temáticas e diferentes que o jogo possui.

Em cada turno, biscamos cinco cartas do nosso baralho obrigatoriamente expansível, podendo usá-las conforme o custo de energia disponível. Cada carta possui habilidades diversas — desde movimentos e ataques até efeitos mais complexos ou buffs temporários — que exigem o posicionamento certo na grelha para serem eficazes.

Um elemento central no combate é o uso das Muse Cards – cartas especiais que, ao terem as suas condições de activação cumpridas – desbloqueiam habilidades poderosas tematicamente ligadas à música. Os seus efeitos podem ir de aumentar as capacidades das cartas do baralho ou permitir e facilitar combos. Outro elemento importante são as Break Cards que nos permitem desgastar a resistência dos inimigos e maximizar o dano infligindo. Para além disso, e seguindo a temática do mundo digital, o jogo apresenta glitches e efeitos que podem ser activados para causar desvantagens aos inimigos.

Para conhecedores da empresa japonesa existe um pequeno pormenor: cada nível e dungeon segue temas variados, inspirados por outras séries da Inti Creates, o que nos oferece uma diversidade de cartas e combinações possíveis, favorecendo a experimentação constante.

A direcção de arte de Card-En-Ciel mantém o toque visual identificável da INTI Creates, famosa pelo seu estilo detalhado e inspirado na estética jnipónica, com os personagens a evidenciarem-se com animações que tornam cada movimento e ataque visualmente atraentes.

Não sendo assim tão parecido com o famoso spinoff de Mega Man, Card-En-Ciel mistura a estratégia dos jogos de cartas com o desafio de um dungeon crawler num título que irá seduzir pela proximidade nostálgica com MMBN, mas que nos levará numa aventura pelo passado e o presente da INTI Creates.