Desde que vi Europa no Indie X 2023 que me apaixonei pelo seu conceito. Admito que na altura me enganei um pouco sobre a sua jogabilidade, já que o jogo me parecia um The Legend of Zelda: Breath of the Wild mais bonito e pequeno, mas mesmo assim estamos perante um bom exemplar de jogo indie, com o acréscimo que o dev principal é português. 

Europa é um jogo de puzzles e plataformas com um pequeno componente de exploração associado à descoberta de itens colecionáveis, que considerando a linearidade do jogo estão muitíssimo bem escondidos.  

Estes jogos estão sempre associados a música calma e relaxante, sendo que Europa não é excepção a esta regra.  

Graficamente com um estilo de desenho animado, curiosamente com os atalhos gráficos a serem feitos no solo ou perto dele, já que passamos boa parte dos níveis a voar. 

É na história e na forma como ela nos é entregue que Europa se torna um pouco mais especial que jogos como Omno, por exemplo. Não quero entrar em grandes spoilers, mas metade história pessoal, metade alegoria para a raça Humana, foi mesmo encontrar folhas do diário do nosso pai, que nos contava retrospectivamente a história, que mais entusiasmo me deu a avançar. 

A Terra ultrapassou a sua capacidade de suportar a vida e enviámos jardineiros robóticos para diversos planetas para que gradualmente os terraformassem na tentativa de os tornar habitáveis. Europa foi aquele em que o processo correu melhor. Muito melhor. Jogamos como uma criança que acorda da sua criopreservação e cujo objectivo é chegar a uma ilha flutuante onde supostamente encontrará os humanos que restam nesta Lua de Júpiter. Pelo caminho vamos encontrando páginas do diário de seu pai que vai relatando postumamente os acontecimentos que levaram à situação que Zee, o nosso personagem, está a experienciar. Não vou dizer que é impossível não encontrar todas as páginas do diário, porque seguramente alguém falhará uma ou outra, mas todas foram colocadas no nosso caminho de forma bem visível, até porque são um elemento imperioso para que percebamos a história. Há apenas um momento em que temos dois puzzles distintos para resolver e consoante a ordem que escolhemos podemos ler primeiro uma parte mais avançada do relato, que foi o que me aconteceu, mas teremos sempre que ler a página anterior, pois não avançamos sem resolver o outro puzzle. 

Esses mesmos puzzles são bastante simples, muitas vezes mais uma mostra de mecânicas e paisagens que propriamente um momento de desafio. A aliviar ainda mais essa falta de urgência é o facto de não existir um estado de morte. Há inimigos que disparam para nos acertar, mas mesmo que acertem apenas nos atordoam. Se mesmo isso for demasiado há um modo em que nem isso fazem. 

Como também já disse temos que explorar, isto de modo completamente facultativo, cada um dos níveis em busca de cristais. Em 40 encontrei 28, o que não deixa de ser surpreendente já que a maioria dos níveis são em corredor. É este facto que dá algum replay value ao jogo, mas não muito, já que não me senti minimamente coagido a repetir algum nível para encontrar algum cristal que me tivesse escapado. 

Algo que também é giro é o nosso bestiário, um caderninho em que desenhamos a fauna e alguns objectos do planeta. Inicialmente supus mais liberdade nesses desenhos, mas é uma actividade bastante truncada, assim, surgir um aviso que nos alertava que estávamos perante algo passível de ser desenhado ajudou bastante, até porque os possiblidade de desenhar parecia muitas vezes dependente da nossa posição no cenário e não da nossa posição perante o animal que queríamos desenhar. 

Algo que adorei foi o movimento que torna o deslocamento pelos níveis de uma graciosidade e diversão enormes. Para além de podermos planar pelo céu ou deslizarmos em qualquer superfície, também podemos tornar o nosso movimento de voo praticamente infinito com o nosso pequeno aparelho similar a um jetpack cuja capacidade para nos impulsionar vamos aumentado consoante encontramos mais cristais que o façam. É realmente fantástico poder voar por todo o lado, e adorei as secções mais abertas onde simplesmente podia fazê-lo. Ajuda os controlos serem bastante precisos e mesmo durante as manobras de voo raramente perdemos a noção da nossa posição relativa. 

De menos positivo o facto de o jogo ser bastante curto. Acabei a história em menos de 4 horas e não me sinto com vontade de voltar, e a partir de certo momento é-nos criada uma ilusão de escolha que acaba por não se concretizar. Motivos insuficientes para me fazem mudar a opinião sobre o jogo. 

Europa é realmente uma pérola. Uma experiência diferente, já que provavelmente terá a capacidade de nos fazer rever nos acontecimentos daquele mundo tão peculiar. Graficamente lindíssimo, com uma história segura e controlos precisos, não há como não o recomendar a toda a gente.