Agora que me preparo para olhar para trás para 2024, diria que uma tónica recorrente foram a quantidade de metroidvanias promissores que abracei pela sua brilhante direcção de arte, e que depois desse mergulho inicial  provaram ser muito estilo sobre pouca substância. Foi o caso de Saviorless, TEVI, Airhead e recentemente Voidwrought, com este AWAKEN – Astral Blade, um projecto do programa PlayStation China Hero a desiludir-me pela falta de potencial cumprido.

Criado pelo estúdio chinês Dark Pigeon Games, este é um título que, em teoria, tinha tudo para brilhar dentro da sede que existe por metroidvanias: uma direcção de arte sedutora, uma protagonista intrigante chamada Tania que parece piscar o olho a NIER. Infelizmente, na práctica, o jogo tropeça em pontos fundamentais que definem o género, deixando-me um sabor amargo na boca trazido pela frustração.

Comecemos pela linha narrativa, com uma história que, mesmo após várias horas de jogo, é difícil de entender o que raio está a acontecer para além de sabermos que Tania é Biónica (com letra capitular, apesar de ainda agora não saber bem o que isso significa neste universo). A trama é desconexa, repleta de fragmentos que não se unem de maneira inteligível, que ou é culpa de muito que se perdeu na tradução, mas que nos deixa a desejar que não existisse história alguma. Num género onde o enredo pode ser um elemento motivador (como em Hollow Knight, Guacamelee ou Axiom Verge), esta é uma enorme oportunidade perdida.

Por outro lado, um bom metroidvania oferece-nos uma liberdade calculada: o mundo é aberto, mas bloqueado por habilidades ou ferramentas que adquirimos ao longo da progressão. AWAKEN tenta replicar essa fórmula, mas com uma grande parte do jogo assente numa progressão excessivamente linear, a abertura tradicional do género chega já tarde demais. Essa falta de desafio de descobrir caminhos ou conectar pontos do mapa de forma criativa matam por completo a sensação de descoberta, tão essencial num bom metroidvania.

O combate é o cerne de todo o jogo, e infelizmente é pouco mais que meramente funcional, tornando-se rapidamente monótono. Para isso contribui o leque limitado de ataques disponíveis e ao baixo número de inimigos distintos, o que resulta num loop de exploração repetitivo. Para piorar, as hit boxes inconsistentes tornam as batalhas frustrantes, tanto nos ataques quanto nos saltos de Tania, mostrando que ainda há tanto a polir neste jogo, 1 mês depois do seu lançamento.

Neste campo, os bosses são um ponto positivo: trazendo-nos um nível de desafio interessante e designs criativos, salvando o jogo de ser uma experiência completamente esquecível e aborrecido.

Mas se há algo em que AWAKEN se destaca de forma óbvia é na sua direção de arte: os detalhes visuais são deliciosos, complementados com cenários detalhados e uma atmosfera artisticamente bem construída. O design de Tania e dos bosses também é memorável, mostrando que no meio de muitos problemas técnicos e de game design, o estúdio tem talento artístico para dar e vender, não sendo o suficiente, porém, para elevar AWAKEN para o patamar de expectativas qualitativas onde foi colocado pelos seus trailers e teasers. 

AWAKEN – Astral Blade é um jogo que me desiludiu pela promessa que assumiu e que não cumpriu, enquanto a sua estética visual é impressionante, este jogo indie chinês sofre com uma narrativa incoerente, uma exploração sem criatividade e linear, e combates que perdem o encanto rapidamente. 

Para os fãs de metroidvanias, há opções muito mais consistentes e recompensadoras no mercado, algumas delas lançadas este ano, como o último capítulo de Momodora, e que perceberam o género como notoriamente AWAKEN não compreendeu.