Dizem que o primeiro passo para ultrapassar um problema é reconhecer que ele existe. E eu reconheço que o meu mergulho em 20 Minutes to Midnight, que descambou de seguida por finalmente gostar do pai do género, o Vampire Survivors, me abriu uma caixa de Pandora que teimo em não conseguir fechar. Ainda há dias ocorreu o Bullet Heaven Fest no Steam – facto que eu deveria ter ficado alheio e não fiquei – e eu comprei não 1, não 2, mas 19 jogos do género, à procura de algum que tenha um mínimo de originalidade.
Se o género bullet heaven é caracterizado por acção frenética e hordas infinitas de inimigos, tendo crescido em popularidade nos últimos anos, a verdade é que poucos jogos conseguem-se destacar no meio de tantas opções disponíveis e que podem ser adquiridas por 2 a 4 euros.
Ao mesmo tempo que instalava as minhas mais recentes aquisições (com outro punhado de jogos na Wishlist para serem adquiridos numa próxima sale), recebi W.A.N.D. Project, desenvolvido pelo estúdio polaco The Knights of Unity e publicado pela Untold Tales, e que para mim consegue trazer uma abordagem original que o distancia dos concorrentes.
No âmago de W.A.N.D. Project está o conceito de magias canalizadas através de uma varinha mágica num ambiente urbano cyberpunk. Aqui somos um mago que deve sobreviver a enxames de inimigos enquanto combinamos feitiços da forma mais optimizada possível. Em vez de nos focarmos apenas em sobreviver e causar dano, W.A.N.D. Project apresenta um sistema que permite modificar as propriedades dos ataques mágicos entre níveis.
A varinha mágica (ou W.A.N.D., de acordo com o título) não é apenas um instrumento de ataque, mas um mecanismo de customização cibernética dinâmico: é numa grelha inserida nela que adicionamos chips que ajustam as propriedades das magias como alcance, velocidade e área de efeito, criando ataques que melhor se adequam ao nosso estilo de jogo.
O desafio da organização destes chips é que temos de pensar neles como linhas de programação, com setas e encaixes a permitirem encadear os chips numa longa linha de feitiço, correndo os seus efeitos como se de código se tratasse.
Por exemplo, um feitiço simples de projéctil pode ser transformado numa chuva de pequenos mísseis teleguiados ou numa explosão massiva de área, dependendo de como encadeamos os chips na grelha. Essa flexibilidade torna cada run numa experiência única e aumenta a profundidade estratégica deste bullet heaven.
W.A.N.D. Project equilibra caos e controle, com níveis progressivamente mais difíceis e onde a progressão não é apenas focada em aumentar o dano, mas também sobre desbloquear novas combinações mágicas e aprender a usá-las eficazmente.
Por sua vez, a direcção de arte de W.A.N.D. Project oscila entre as imagens mais próximos do anime dos ecrãs e diálogos, para a mistura de polígonos 3D pixelizados, numa estética que representa bem o ambiente urbano cyberpunk, e onde o uso criativo de efeitos de partículas para os feitiços reforça o seu apelo visual.
É impossível não sentir que W.A.N.D. Project, no contexto dos bullet heavens, onde o foco tende a ser a sobrevivência quase mecânica e a evolução do poder bruto, nos oferece uma experiência muito mais cerebral. A possibilidade (e necessidade) de personalizar feitiços ao longo da partida proporciona-nos uma camada adicional de estratégia ao invés de estarmos apenas em “piloto automático”, num jogo que recompensa a nossa criatividade e capacidade de adaptação.
W.A.N.D. Project é uma lufada de ar fresco no mundo dos bullet heavens, com a sua original combinação de personalização dinâmica e experimentação, tornando-o numa das ofertas mais originais do género.