Em tempos dos videojogos serem actualizados na precisa hora do seu lançamento, numa clara demonstração da evolução dos tempos, da tecnologia, mas também das expectativas e estados da indústria, há ainda espaço para surpresas.
À primeira vista, os jogos de tabuleiro são semi-imunes a estas alterações, e podemos olhar para eles como olharíamos para os videojogos há 20 e poucos anos, especialmente de consolas, em que o produto fabricado, fosse em disco ou em cartucho, era a versão definitiva e final daquela obra.
Mas o crescimento dos jogos de tabuleiro enquanto indústria e em volume de consumo têm também em si trazido algumas mudanças notórias, e aquilo que poderíamos definir como patches em toda a acepção da palavra é uma delas.
Dado o sucesso e a dimensão de uma editora como a Stonemaier Games, tem sido frequente termos acesso a expansões que de alguma forma corrigem decisões de game design, pedindo-nos para substituir componentes dos jogos base, um caso recente foi Expeditions: Gears of Corruption, que para além de novo conteúdo, trouxe muitos componentes para substituir.
De alguma forma é essencialmente dessa forma como olho para Apiary: Expanding The Hive, a primeira expansão de Apiary, um dos grandes sucessos de 2023, um worker placement único na abordagem e temática.
Apiary, lançado o ano passado pela Stonemaier Games e desenhado por Connie Vogelmann, coloca-nos no controlo de colónias de abelhas futuristas chamadas Mellifera, num universo onde os humanos desapareceram e as abelhas evoluíram para seres inteligentes de ambições espaciais.
Sendo os worker placement games um dos meus géneros favoritos, encontrar um que dá tanta importância à gestão de recursos e que nos traz um universo futurista de abelhas intergalácticas foi uma decisão instantânea na sua aquisição. Expanding The Hive surge assim no mercado como a primeira expansão para enriquecer ainda mais a experiência do jogo base, ou se quisermos equilibrar muitos dos componentes.
Não fosse o título Expanding The Hive demonstrar que a adição de novos elementos é na real compreesão da palavra “expansão”, sem na prática introduzir mecânicas que alterem significativamente o jogo, implementando uma nova gama de cartas de colónia, com diferentes habilidades e condições especiais. São também incluídos 7 novas colmeias iniciais, 16 novos hexágonos de construções tecnológicas, novos tokens de exploração, para além de uma nova facção. Mas nada que profundamente “expanda” ou “inove” mecanicamente o jogo, o que faz, sobretudo, é corrigir e equilibrar o que já existe.
É difícil não olhar para Expanding the Hive como uma espécie de grande patch do Apiary para a versão 1.1, com por exemplo todos os seus mats base a serem substituídos, e isso percebe-se com a adição de um novo livro anexo com a explicação mais sucinta de terminologia e de regras, para além de sentir que uma grande parte do conteúdo desta expansão, que vem, seguindo a lógica mais ecológica do qual já falámos, numa simples caixa de cartão, como conteúdo para substituir definitivamente do jogo base.
Sem grandes mudanças ou adições mecânicas, olho para esta mini-expansão como a actualização possível de um jogo muito recente mas cujos autores perceberam que necessita de muitas alterações, justificando a sua aquisição com a inclusão de pouco novo conteúdo. Talvez seja, sobretudo, a forma possível de actualizar um jogo que custa 80€, sem que os consumidores tivessem de comprar um jogo base revisto – algo que acredita que possa um dia existir, mas apenas destinado a todos aqueles que ainda não possuem Apiary.