Talvez esteja na altura de admitir que posso ter um problema, é que a minha dedicação (e aquisição) de jogos bullet heaven pode estar descontrolada. Uma prova disso é a quantidade de jogos do género que vieram parar ao meu carrinho de compras do Steam nas Promoções de Natal.

Acredito que para milhares de pessoas a surpresa de Brotato foi tão grande quanto foi para mim: um jogo com um aspecto meio tosco que escondia na realidade um sólido título do género, e que, pasmecem-se em saber, viria a ser influência para imitações futuras.

Quando vi Bronana assumi – erroneamente – que se tratava de mais um jogo da Blobfish (ainda que a mudança de alimento, da batata, que figurou em todos os seus jogos, para uma banana, deveria ter sido alerta suficiente, mas depois de largas runs neste jogo do estúdio busy bear revela que há mais que separa estes dois jogos, do que o que os une.

E se o género dos bullet heaven tem visto um aumento de popularidade considerável nos últimos anos, diria que Bronana nos chega com um objectivo claro: misturar influências de clássicos modernos e introduzir sua própria marca de diferenciação com a inclusão do tema culinário.

À primeira dentada, Bronana é inegavelmente similar a Brotato, especialmente na sua premissa básica: controlamos um personagem (neste caso, uma banana antropomórfica) por arenas confinadas, enfrentando hordas de inimigos enquanto apanhamos armas e upgrades para sobrevivermos a ondas progressivamente mais difíceis de inimigos. Mas ao contrário do jogo cuja receita copia, Bronana tenta destacar-se ao incorporar elementos de dungeon crawlers roguelikes na sua progressão.

Cada sala que “limpamos” de inimigos oferece-nos portas para várias recompensas, com uma ramificação de níveis que nos lembra claramente o de Hades, onde o caminho escolhido dita as vantagens obtidas. 

Visualmente, Bronana é um tosco banquete culinário. Todos os inimigos, de alguma forma, remetem à Culinária, seja por serem utensílios de cozinha ou ingredientes: tomates furiosos, facas voadoras, batatas explosivas, entre outras criaturas bizarras. Esta escolha criativa dá-lhe uma identidade única (ou aliás, semi-única, dada a semelhança com Brotato), ampliada pela capacidade de equipar itens que são visíveis no corpo da banana. Armaduras feitas de cascas de ovos ou capacetes de melancia tornam o personagem uma figura absurda, mas ao mesmo tempo memorável.

À semelhança de alguns dungeon crawlers, no final de algumas salas temos o surgimento de NPCs, personagens como o ferreiro, o pedinte e o mercador oferecem-nos oportunidades de melhorar armas, modificar atributos ou adquirir itens raros. Contudo, as funcionalidades destes NPCs nem sempre são bem explicadas, ou a forma de interagi com eles, o que pode gerar frustração nos primeiros encontros.

Uma das críticas que deixo a Bronana é a dificuldade em entender claramente as armas e equipamentos, ou a forma de os equipar e customizar na nossa banana. Em Brotato, cada item tinha descrições simples e intuitivas, tornando as escolhas rápidas e eficazes, mas em contraste, Bronana parece tentar adicionar profundidade sacrificando a clareza, o que nos pode deixar sobrecarregados por estatísticas vagas ou efeitos mal explicados.

Embora seja inegável que Bronana se inspire em Brotato, o jogo também oferece ideias próprias, com a combinação de bullet heaven com elementos de dungeon crawler, mas a sua execução nem sempre é consistente. Seja como uma homenagem ou uma tentativa de confundir os amantes de Brotato, Bronana prova que há muito a explorar no mundo dos bullet heaven, apenas fica a dúvida se a sua mistura de sabores será suficiente para conquistar o paladar dos jogadores apaixonados pela criação da Blobfish.