Adoro deckbuilders.
Fui rever e percebi que já escrevi esta frase demasiadas vezes ao longo dos anos, e culpa disso é o facto de que a minha paixão por jogos de tabuleiro nasceu do pai dos jogos do género. Por outro lado, a única diferença para a minha abertura para continuar a jogar deckbuilders em formato videojogo é que eles ocupam menos espaço do que os muitos jogos físicos de cartas que fui adquirindo ao longo dos anos.
Com muitos clones de Slay the Spire e Darkest Dungeon a surgirem no Steam, eis que por entre as sombras das lendas eslavas, emerge Deathless: Tales of Old Rus, um indie deckbuilder desenvolvido pelo estúdio 1C Game Studios. Um jogo que se tenta distinguir com uma abordagem mecânica singular ligada ao conceito de vida, morte e combate por turnos.
Em Deathless, o posicionamento dos inimigos no campo de batalha não é um mero detalhe, mas sim um elemento primordial de cada confronto. A protagonista (a primeira personagem jogável que obtemos) dispõe de cartas que alteram o alinhamento dos adversários, trazendo-os para a linha de frente ou manipulando o seu lugar nas fileiras inimigas. Mas se esta manipulação de posição já foi antes vista, Deathless transcende a dinâmica habitual destes jogos ao introduzir uma mecânica onde os “cadáveres” dos inimigos derrotados permanecem no campo de batalha.
Estes restos mortais agem como verdadeiros meat shields, escudos literais que protegem a protagonista ao receberem os ataques dos restantes inimigos. Este sistema transforma o estado de “a morrer” num aspecto dinâmico do combate, desafiando-nos a explorar ao máximo a sua criatividade táctica.
A progressão nos níveis de Deathless evoca-me comparações com outro roguelike do qual gosto muito, Rogue Lords, oferecendo-nos escolhas que influenciam diretamente o caminho trilhado. Ao fim de cada batalha, é possível optarmos entre três caminhos: esquerda, frente ou direita.
Embora as recompensas e dificuldades esperadas sejam indicadas de forma subtil em cada caminho, cada decisão carrega consigo um elemento de risco e recompensa, encorajando-nos a medir a nossa coragem, e a experimentação e adaptação constantes. Em caso de derrota, o jogo permite-nos que tentemos de novo, algo que raros são os roguelikes que o permitem fazer.
Deathless oferece-nos quatro personagens jogáveis, cada um com abordagens únicas ao combate e à construção de baralhos, com esta diversidade a ampliar a rejogabilidade e a garantir que cada partida seja uma experiência distinta da anterior. Cada herói traz ao jogo a sua própria perspectiva sobre as lendas eslavas, ampliando a linha narrativa e folclórico que preenche este deckbuilder.
A direção de arte de Deathless é um dos seus pontos altos, com o seu cel-shading a evocar ilustração tradicional, e a dar vida à essência das fábulas eslavas. Os ambientes sombrios e as criaturas grotescas trazem-nos para uma atmosfera de perigo, e as cartas e animações enriquecem a experiência visual. A inspiração nas tradições e lendas da “Antiga” Rus confere ao jogo uma identidade única, destacando-o num género altamente competitivo.
Deathless: Tales of Old Rus não é apenas mais um deckbuilder: é uma proposta desafiante e criativa mergulhada num género saturado.