Há quem seja um one trick pony, mas eu diria que sou na realidade apenas um two trick pony, que, tal como Jesus no célebre sketch do Herman, ou está nas palhas estendido, ou nas palhas deitado. Tenho comprado e jogado muitos jogos de dois tipos distintos, e isso reflecte-se nos muitos artigos de descoberta indie que por aqui publico. Por um lado os deckbuilders e roguelikes (não obrigatoriamente de cartas) com foco nos bullet heaven, e por outro o que encaixa no chapéu de cozy game, seja farming RPG ou life sim.

Olhemos para o segundo caso e encontramos um jogo que traz a maior paixão que tive na infância, os dinossauros e abraça-os com o conforto de um cozy game. Amber Isle, desenvolvido pelo estúdio Ambertail Games e publicado pela Team17, é um life sim que pode ser descrito como Animal Crossing, mas com dinossauros. 

Com simpáticas criaturas pré-históricas como habitantes (cuja direcção de arte me faz lembrar uma colecção de postais dos CTT do início dos anos 1990 com dinossauros cartoonizados e coloridos), Amber Isle oferece-nos uma experiência relaxante de administração de uma loja numa simpática ilha. No entanto, pondo o pé apenas levemente neste terreno insular, percebemos que a sua execução não corresponde às expectativas.

O loop mecânico de Amber Isle gira em torno de um ciclo básico: completar quests, recolher recursos, fazer crafting e vender produtos na nossa loja para obter gemas de âmbar, que é a moeda do jogo, e a qual temos de possuir para pagar os juros de quase usura do empréstimo que contraímos para a nossa loja. 

Se alguns jogos do género, mais relaxantes, possuem uma economia estática, Amber Isle traz-nos uma mecânica interessante centrada na procura dinâmica de produtos, que muda diariamente, e que nos permite ajustar os preços para maximizar os lucros. Esta flexibilidade traz um elemento estratégico à gestão da loja, mas não o suficiente para quebrar a sensação de repetição e monotonia onde rapidamente caímos.

Apesar de diferente de outros jogos do género, como Animal Crossing e Dinkum, Amber Isle tem uma progressão menos envolvente já que as tarefas associadas rapidamente se tornam previsíveis e enfadonhas. O jogo depende em demasia do seu apelo visual como elemento de venda, já que mecanicamente Amber Isle é excessivamente simplista.

Apesar do conceito e mundo cativantes, Amber Isle sofre, e muito, com a falta de refinamento. Bugs e pequenas falhas técnicas aparecem com frequência, tornando a experiência frustrante em alguns momentos, o que para um título lançado como full release por uma casa como a Team17, é de estranhar e surpreender. Mas não pela positiva.

Além disso, a estética e o design dos personagens são “aconchegantes” e encaixam na perfeição na aura cozy, mas a interface e a navegação pelos menus poderiam ser mais intuitivas, algo ainda mais notório com a falta de actividades variadas que incentivem a exploração e quebrem com as rotinas do dia-a-dia virtual de jogo.

Amber Isle é um jogo adorável na superfície: um life sim com dinossauros fofos antropomórficos deveria ser conceito suficiente para se tornar um dos meus jogos favoritos do género, mas a falta de polimento e a superficialidade de actividades deitam tudo por terra.