Ainda há semanas elogiava o feito de Nikoderiko: o de aprender com os clássicos Donkey Kong Country e Crash Bandicoot, e criar uma nova série, ajustada aos dias de hoje, que serve quase de sucessor espiritual a ambos. E aqui estou de volta, no mesmo tom, a elogiar o feito de outro estúdio indie, que soube perceber o valor de uma série emblemática – porém esquecida – da Nintendo e criou a sequela não-oficial perfeita para ela.

Eu, e milhares de fãs de Wario Land há muito choramos por um sucessor espiritual que capture a essência caótica e irreverente da série, e as nossas preces foram atendidas na forma de Antonblast, um indie desenvolvido pelo estúdio Summitsphere sob a liderança de Tony Grayson. 

Com lançamento para PC e Nintendo Switch, Antonblast apresenta-se como uma experiência de fast platforming, um título desafiante e recheado de destruição, colocando-nos na pele de Dynamite Anton e Annie numa aventura para recuperar a sua colecção de almas roubadas pelo próprio Diabo.

Há algo da loucura dos desenhos animados dos anos 1990 em Antonblast, com as animações exageradas e situações caóticas (e muitas vezes explosivas). O enredo, tão absurdo quanto as séries que parece homenagear, coloca Anton contra o Diabo, que colecciona espíritos como troféus, e lhe robou a sua estranha (e prezada) colecção. 

Determinado a reaver o que lhe pertence, Anton usa um martelo gigante para obliterar inimigos e esmagar o ambiente ao seu redor, faltando apenas a clássica bigorna para nos levar para o humor da nossa infância. Os elementos mecânicos são também comuns a Annie, a segunda protagonista jogável e igualmente destrutiva.

Ao contrário dos tradicionais platformers, Antonblast aposta num ritmo acelerado de quem bebeu 3 Red Bull de enfiada, desafiando-nos a dominar a mecânica de “clutch boost“, inspirada no timing de aceleração de Crash Team Racing, para ganhar velocidade e atravessar os níveis de forma que deixaria o Juggernaut da Marvel orgulhoso. 

Cada nível introduz gimmicks únicos que transformam o level design constantemente e evitam a monotonia, lembrando a criatividade do outro exemplo recente que tivemos, Nikoderiko. E é essa variedade que mantém o jogo dinâmico e repleto de surpresas, obrigando-nos a uma constante adaptação aos novos desafios que vamos conhecendo.

As boss fights são sem dúvida outro ponto alto do jogo: confrontos meticulosamente projectados para testar a nossa destreza, exigindo um domínio das mecânicas de plataforma e ataque. Lutas intensas que requerem reflexos rápidos e precisão nos golpes de martelo, onde a  dificuldade elevada não é punitiva, mas sim uma forma de recompensar quem investe tempo em dominar os exigentes controlos de Antonblast.

Com uma jogabilidade injectada com taurina, level design inventivo e uma direcção de arte com personalidade, Antonblast resgata a essência de Wario Land ao mesmo tempo que o traz para 2025, om ideias contemporâneas e um desafio digno dos melhores platformers. A fusão de caos controlado, destruição constante e ritmo frenético faz deste jogo uma experiência indispensável para fãs do género e que sentem falta de ter um Super Mario da taberna como protagonista.