Vampire Survivors criou em mim um gosto especial por este estilo de jogo. Vampire like? Garlic like? Bullet heaven? Será que lhes posso chamar isso? Não interessa. Brotato é um deles, e um daqueles bem bons!
É um peso muito grande estar sempre a ser comparado a Vampire Survivors, e uma maneira de evitar um pouco isso foi tentar ir por um caminho diferente. Brotato não tem história, o estilo gráfico é de banda desenhada, a área jogável é extremamente curta, a música é marcadamente electrónica e não há cá essas palermices de cenários diferentes. A partida começa e acaba na perspectiva top-down.
Em Brotato somos uma batata e matamos monstros. Estava aqui a pensar como podia complementar esta frase, mas no fundo é apenas isso. Somente isso.
Começamos a jogar com apenas uma arma que pode ser de um misto de propriedades e actuar a um variado nível de distâncias, mas que de forma genérica se enquadram em armas para disparar à distância ou a usar em luta corpo a corpo.
Consoante vamos avançando em cada um dos diferentes níveis vamos ganhando moeda que nos permite comprar muitos upgrades, sejam eles armas ou perks. Podemos usar até 6 armas ao mesmo tempo, cada uma dessas armas pode ter 4 upgrades. Todas os itens a comprar no final das rondas são aleatórios.
Os perks são de diferentes géneros e tipos, podendo interferir somente nas nossas estatísticas ou permitir-nos executar diferentes habilidades. Há uma tentativa de os tornar todos circunstanciais, mas isso é muito difícil de fazer, e qualquer um que envolva fazer spawn automático de torretas que nos ajudem é um excelente bónus. Ora isso depende bastante da sorte. Também durante os níveis aparecem umas árvores que ao serem destruídas nos dão uma chance de obtermos perks gratuitos no final de cada ronda. Esta forma de funcionamento faz com que seja muito difícil ter uma batata que seja boa em tudo, e que haja uma multiplicidade grande de combinações a fazer que permitem estilos de jogo completamente diferentes. Isto é especialmente interessante dada a área jogável curta e a velocidade de jogo frenética. Naquilo que faz, Brotato é Vampire Survivors sob o efeito de esteroides!
Uma enorme peculiaridade deste jogo é que todas as armas usadas são visíveis e muitos dos perks causam alterações físicas às nossas batatas, tanto que mal percebeu isso, a minha filha já me pedia determinados perks só por antever as alterações que estes podiam causar e deliciava-se a observá-las. É realmente um detalhe magnífico e bastante difícil de executar num espaço tão pequeno.
Outro aspecto que embora não seja exclusivo, também é interessante, é podermos retirar o modo em que a nossa batata aponta automaticamente, para um modo manual em que somos nós quem decide para onde disparamos. Isto é importante quando queremos priorizar árvores, inimigos com ataques mais complexos ou os diferentes bosses, mas para mim não era tão importante que me fizesse jogar dessa forma, já que o disparar ser automático é das coisas que mais gosto neste jogo.
Há alguns inimigos diferentes, progressivamente mais difíceis ao longo dos 20 níveis, mas não temos tempo para os apreciar dada a velocidade do jogo. Temos alguns bosses intermédios e um boss final. Também há um modo infinito para quem gosta disso.
Então onde está o replay value? Pode parecer pela descrição que estamos perante um jogo curto, mas não é verdade. Há 6 níveis diferentes de dificuldade, que não mudam apenas a dificuldade, mas oferecem diferentes inimigos com diferentes ataques que tornam tudo mais caótico. Consoante vamos batendo diferentes níveis com diferentes batatas vamos desbloqueando mais batatas com diferentes estatísticas, perks e, mais divertido que isso, diferentes aspectos físicos. O que não percebi bem era com que objectivos específicos ia desbloqueando novas batatas, simplesmente elas iam aparecendo e eu ia jogando com elas.
Fica registado no ecrã de selecção quais as batatas com as quais já batemos o jogo e em que nível de dificuldade.
Ao entrar no mundo do ridículo, o dev Thomas Gervraud criou um jogo extremamente divertido, mas somente esse facto não é suficiente para segurar um jogo, o que bate certo porque a acompanhar esse facto juntou uma jogabilidade imaculada e replay value suficientemente recompensador para nos manter a jogar horas a fio, mesmo a originalidade com que se processam as evoluções, a expectativa de ver a forma final das nossas batatas é extremamente importante para o conjunto final que nos é apresentado. Com isto Brotato é dos jogos do género que mais gostei de jogar!