Fica já o preambulo que esta primeira semana de Fevereiro de 2025 vai ser apelidada aqui na capoeira de “Semana dos Bullet Heavens” ou “Semana dos jogos parecidos com o Vampire Survivors, e portanto jogos que o Rui Parreira nunca vai jogar”. Ou chamem-lhe vocês mesmos outra coisa qualquer, que queiram, ainda vivemos num País livre, felizmente.

Para quem ouve o podcast ou segue no servidor do Discord do Split-Chicken, sabe que tenho olhado para estes jogos como uma forma de libertar a mente e de me abstrair em pura jogabilidade enquanto lido com os meus problemas emocionais. E de todos os jogos do género no qual tenho mergulhado quase para esquecer, Entropy Survivors é em quase todos os aspectos aquele que é tecnicamente mais evoluído.

Entropy Survivors, desenvolvido pelo estúdio Moving Pieces Interactive e publicado pela First Break Labs, é um bullet heaven que se destaca das dezenas de jogos do género pelo seu polimento excepcional. Como spin-off de Shoulders of Giants, o jogo mantém a aventura (apesar de parco enredo) na exploração espacial com batráquios.

A principal característica distintiva de Entropy Survivors é o sistema de controle do protagonista: um sapo espacial a pilotar um mecha, fazendo deles quase dois personagens distintos ao mesmo tempo. Utilizamos os dois triggers do comando (ou os 2 botões do rato) para activarmos ataques diferentes – um para as armas do mecha e outro para o ataque melee do sapo. Essa divisão cria uma jogabilidade inusitada e exige-nos bastante tempo de adaptação, mas também abre espaço para estratégias criativas na combinação de ataques à distância e corpo a corpo. 

Esta diferenciação assiste-se também pelos upgrades/armas que nos aparecem para escolhermos em cada level up: temos equipamento para um e para outro, com slots distintas, para além de melhorias comuns a ambos.

Apesar desta pequena distinção, Entropy Survivors mantém a essência do género bullet heaven, colocando-nos contra hordas de inimigos enquanto recolhemos loot e tesouros pelo mapa, e fazemos upgrades para melhorarmos as nossas habilidades durante a run. A variedade de armas e power-ups permite-nos experimentar diferentes builds, garantindo-nos sempre um bom nível de rejogabilidade. Um elemento essencial dada a vertente roguelike que nos impele a morrer muitas vezes e a repetir os níveis.

Como já tinha dito, se há um ponto onde Entropy Survivors realmente se destaca, é na sua apresentação. Este é um jogo visualmente impressionante, com efeitos dinâmicos e maravilhosas animações fluidas, com um sound design de extrema qualidade que contribui  para a atmosfera energética e futurista que este jogo quer representar.

Apesar de o considerar um dos melhores do género em muitos aspectos, Entropy Survivors tem uma falha óbvia, para mim: a quantidade excessiva de “currencies” utilizadas para a meta-progressão. Há diversos recursos diferentes que precisam de ser recolhidos e gastos em melhorias permanentes, o que pode tornar a nossa progressão ainda mais grindy e desnecessariamente fragmentada. Temos de apanhar moedas de melhoria das habilidades do mecha, do sapo, moedas para melhorar armas, e outras tantas para fazer upgrades definitivos, obrigando-nos a repetir níveis para tentar encontrar as moedas específicas para a meta-progressão que procuramos.

Entropy Survivors não é apenas um excelente roguelike bullet heaven que entrega um nível de qualidade técnica raro no género, mas um jogo que eleva a fasquia dos jogos deste tipo. Atacarmos com dois personagens em simultâneo, com habilidades e cooldowns específicos, é algo que diverge este jogo de tantos concorrentes, e só mão fica ainda mais perto da (quase) perfeição do género, pela meta-progressão talvez ter ido longe demais.