Ontem falava da necessidade crescente dos verdadeiros Davids da indústria dos videojogos, os pequenos indie sem as verbas milionárias de marketing, de se fazerem ser vistos. Seja pela criatividade e pela possibilidade de arriscarem, seja pela direcção de arte, é aqui, para mim, onde encontramos a resistente originalidade do meio.
Das muitas peregrinações que faço pelo Steam à procura de jogos, muitos deles cozy, que me respondam a uma fome quase insaciável por jogos deste tipo. E um deles que tinha há algum tempo debaixo de olho era Mirthwood, um jogo que à primeira vista é apenas um Stardew Valley desenhado à mão na era medieval. Mas que logo sob a superfície mostra que é muito, muito mais.
Mirthwood é um jogo indie que combina elementos de RPG, life sim e agricultura, e foi desenvolvido pelo estúdio Bad Ridge Games e publicado pela V Publishing, e teve a sua versão final lançada a 6 de novembro de 2024 para PC. Com tantas promessas de mundo aberto de parte de estúdios com maior poder económico, é curioso que é um indie como Mirthwood quem nos permite uma experiência profunda num mundo de fantasia medieval, onde podemos escolher entre uma vida pacata de agricultor ou aventurarmo-nos em combates e explorações mais perigosas. E ambos são caminhos legítimos para “vivermos” este jogo.
No mundo de Mirthwood começamos – como em muitas outros jogos – com uma propriedade em ruínas que podemos restaurar, transformando-a ao longo do tempo numa próspera quinta. As actividades incluem plantar e colher as nossas colheitas, criar animais e melhorar as instalações para produzir cada vez melhores itens e equipamentos.
Mas ase a descrição anterior encaixaria em grande parte dos jogos do género, para além da agricultura este jogo apresenta-nos um sistema de combate em tempo real, permitindo que enfrentemos inimigos como bandidos e lobisomens. O mundo é composto por seis regiões distintas e três cidades únicas, cada uma com biomas variados e desafios específicos, que podemos explorar, combater, ou desenvolver uma série de relações sociais que complexificam, e muito, a experiência em Mirthwood.
E são as interacções e relações sociais uma das característica principais e distintivas de Mirthwood: não só podemos comunicar com NPCs de diversas maneiras, como elogiar, insultar ou seduzir, alterando dessa forma o nosso relacionamento com eles e desbloqueando novas interacções e missões. As escolhas feitas influenciam a moralidade do nosso protagonista e a forma como o mundo reage à nossa presença, adicionando uma tremenda profundidade à narrativa e à experiência de jogo.
Na saturada loja do Steam (como em todas), a realidade é que é a direcção de arte de Mirthwood e da sua imagem promocional a captar a nossa atenção. Com um mundo todo ilustrado e animado à mão, o ambiente deste mundo de fantasia medieval torna-se ainda mais poderosa por sentirmos que estamos a jogar um mundo aberto que parece estar a ser vivido num livro ilustrado.
Mirthwood quis ser mais do que um jogo de simulação de vida e agricultura, e arriscou ao adicionar elementos de RPG num mundo de fantasia medieval com um sistema social bastante complexo. Com a fome que muitos devem ter de um novo Fable, Mirthwood acaba por trazer esse ambiente para um espaço bidimensional e mesclá-lo com um relaxante farming e life sim, resultando numa das maiores surpresas que tive na minha procura constante por novas experiências cozy.