O verdadeiro contágio que a ideia quase omnipresente de que um jogo deve ser avaliado monetariamente pelas horas que nos “dura” tem sido, para mim, um crescente aniquilador da alma de muitos jogos, AAA ou mesmo indie.
Nunca vou deixar de defender as experiências que nos formaram enquanto jogadores, mesmo no advento dos jogos tridimensionais e numa segunda fase com mundos abertos: mais do que um simples less is more, é a explicação de que tudo o que é demais é em excesso.
Eternal Strands, porém, faz muita coisa bem: pega em diversos elementos de jogos de reconhecida influência e mescla-os, criando uma experiência que bebe muito de Shadow of the Colossus, mas também da forma como Breath of the Wild abraçou a exploração em mundo aberto.
Eternal Strands é um jogo de acção e aventura desenvolvido pela Yellow Brick Games, lançado a 28 de janeiro de 2025 para PlayStation 5, Xbox Series X/S e PC, e que nos leva para um universo onde a magia é tecida através de fios arcanos pelos Tecelões (a palavra Weaver é tão mais interessante, mas abracemos o vocábulo que existe na nossa língua). Foram estes magos quem décadas antes fundaram a utópica cidade de Dynevron no Enclave, mas um evento catastrófico levou ao seu isolamento pelo Véu, uma barreira mágica que separou a cidade do resto do mundo.
Brynn, a protagonista que controlamos, é uma jovem Tecelã que juntamente com a sua equipa decide explorar o Enclave para desvendar os mistérios por trás do Véu e recuperar o legado perdido dos Tecelões.
(Recuperados da sinopse e da tradução exaustiva de todos os termos do jogo? Podemos continuar?)
Como rapidamente percebemos, a jogabilidade de Eternal Strands oferece-nos uma mistura de combate melee combinado com habilidades mágicas. Brynn pode manipular elementos como fogo, gelo e forças cinéticas através do seu manto mágico, permitindo-lhe congelar inimigos, provocar incêndios ou mover objetos com telecinesia.
Estes poderes não são só importante para o combate, mas também para a exploração, já que nos permitem criar pontes de gelo, queimar obstáculos ou lançarmo-nos através de grandes distâncias. Herdado de Breath of the Wild está a capacidade de escalar qualquer superfície, incentivando-nos a uma exploração vertical e à descoberta de segredos ocultos.
O jogo apresenta nove bosses distintos que vagueiam pelo mundo, exigindo que os escalemos, trepando por estas criaturas colossais acima para atingir os seus pontos fracos, numa clara inspiração em títulos como Shadow of the Colossus. Derrotá-los recompensa-nos com novas habilidades mágicas que aprofundam tanto o combate como a exploração.
Em vez de um sistema tradicional de pontos de experiência, Eternal Strands foca-se na recolha de materiais para a criação e melhoria de armas e armaduras, onde podemos personalizar o nosso equipamento utilizando diferentes materiais. Podemos também utilizar os recursos recolhidos para melhorar as estações de trabalho no acampamento base, aumentando as capacidades da equipa de Brynn e desbloqueando novas opções de crafting.
Apesar do nível de qualidade técnica de Eternal Strands ser notoriamente elevado, para além da sua direcção artística sólida com ambientes detalhados, rapidamente sentimos que sofre com a repetitividade nas missões, apresentando-nos sequências de requerem a recolha de múltiplos itens em áreas já exploradas, com algum backtracking, algo que se torna mais evidente com a variedade limitada de inimigos. O jogo estende-se para lá das 20 horas, e menos de metade seria mais do que suficiente para podermos saborear tudo de bom que criou.
Eternal Strands oferece-nos uma aventura mágica com mecânicas de combate interessantes e um mundo coeso para explorar, mas que sofre por ser muito mais longo do que deveria, tendo em conta o conteúdo que possui.