É possível que a minha paixão recente por bullet heavens advenha da minha proximidade com jogos bullet hell, e os muitos shmups incluídos na placa original da minha Famiclone, assim como os cartuchos do género que me foram passando lá pela consola.
Mas de todos os que joguei, sem sombra de dúvida que a tríade que me definiu o gosto pelo género foi o clássico 1942, Twin Bee 3, e Macross. Este último assumiu um patamar especial, com a capacidade de alternar entre a forma robótica e a nave Valkyrie, tinha um certo misticismo que sempre ressoou à grande paixão que tinha em 1989: Transformers.
Estava eu longe de saber que Macross era na realidade a adaptação de um dos mais emblemáticos e históricos anime de mechas, que só quase duas décadas mais tarde viria a ver. Passaram-se 36 anos desde que Macross divertia o pequeno eu em tardes à frente de um CRT a preto e branco, e é curioso que tenha passado tanto tempo para eu jogar um novo jogo, ainda que muitos outras adaptações tenha existido nas muitas gerações de consolas sem que eu as tenha experimentado.
Macross Shooting Insight foi lançado inicialmente no Japão em Março de 2024, mas chegou ao Ocidente em Fevereiro de 2025 para Nintendo Switch, PlayStation e PC. E é com muita pena que depois de o jogar, de agradecer o facto de que eu não tive de pagar 39,99€ para o experimentar, que reconheço que este jogo é pior do que aquele que eu joguei há 36 anos.
Mas vamos por partes.
Macross Shooting Insight traz-nos uma variedade de estilos de jogabilidade, com segmentos de shooting horizontais – semelhantes ao velhinho jogo Macross de 1985 – e vertical – como o também velhinho 1942 que tantas horas de diversão me deram.
Podemos escolher entre cinco pilotos icónicos da série, cada um com habilidades e estilos de combate distintos, definidos pelo armamento que temos disponíveis. Durante as missões, as “songstresses” proporcionam-nos buffs e debuffs através das suas músicas e o seu efeito seria ainda mais positivo se a sua imagem não tapasse parte do ecrã.
É verdade que esta alternância de perspectiva (à semelhança do que falámos que Nikoderiko fez para os platformers) é algo positivo, mas é também irónico o facto de que Macross Shooting Insight se dá ao “trabalho” de nos levar por uma experiência schmup vertical ou horizontal, mas bloqueia-nos algo que o jogo de 1985 já fazia. Como é que as transformações entre fighter, gerwalk, e battroid não são decisões estratégicas de quem está a jogar, mas sim imposições de cada segmento de nível pré-estabelecido pelos criadores? Como é que uma série que se notabiliza, entre muitas coisas, pelas suas naves que se transformam em colossais mechas tem essa possibilidade retirada da nossa agência?
A impossibilidade de disparar armas primárias e mísseis simultaneamente, aliada a transições abruptas entre diferentes estilos de jogo, torna a jogabilidade confusa e frustrante em certos momentos. Frustração, é, aliás, um dos marcos deste jogo. A quantidade de poluição visual que os fundos têm contribuem para que confundamos projécteis e inimigos com o que está acontecer no background.
Será que algum dos criadores jogou um schmup antes? É que eu não me importo com bullet heavens, especialmente porque muitos deles estão estabelecidos com a sua dificuldade assente na mestria de comandos e na justiça para com o jogador. Mas Macross Shooting Insight é difícil pelo quão confuso visualmente tudo é, com elementos do cenário que são pouco mais do que assets adquiridos já feitos mas que confundem ainda mais o muito que já acontece no ecrã.
Com as muitas críticas que faço ao jogo, há porém um elemento que, felizmente, Macross Shooting Insight não falha: a sua qualidade musical. Um elemento importante tematicamente e reconhecido pelos fãs, e que felizmente o estúdio KAMINARI GAMES Inc. não destruiu.
Mas esta é uma experiência banal, pouco memorável, e que se tanto poderá apelar apenas aos fãs da série. Há muitos schmups indie (especialmente nipónicos) bem mais baratos, e com uma qualidade com a qual Macross Shooting Insight poderia apenas sonhar.
Dado o peso histórico da série, Macross Shooting Insight tinha o potencial e a obrigação de ser um título memorável dentro do género shoot ‘em up, respeitando o rico legado da franquia Macross. No entanto, o arrojo de pedir 39,99€ por um jogo básico, mal equilibrado em termos de desafio, falhado na sua execução, particularmente em termos de apresentação e pobreza visual. Para os entusiastas da série, pode, na melhor das hipóteses, ser uma experiência nostálgica válida, mas para novos jogadores é um tiro tão ao lado, que se perde no espaço sideral.