O primeiro jogo que joguei há 13 anos quando a Wii U chegou a minha casa foi o Monster Hunter 3. Tinha-o experimentado num evento na área da Nintendo e fiquei embasbacado com a criatividade visual que aqueles monstros tinham, ao mesmo tempo que apelavam à minha paixão por paleontologia. 

Mas a diferença entre jogar MH3U num evento por 10 minutos ou sentar-me em casa com todo o tempo do mundo – à época ainda não era pai – e começar a campanha por mim mesmo é que rapidamente comecei a sentir todos os elementos que rapidamente me iriam afastar da série. 

Alerto desde já que as minhas próximas palavras poderão ser uma tremenda heresia para os fãs dedicados de Monster Hunter, mas a realidade é que o jogo que melhor conheci, o de há 14 anos, estava a anos-luz daquilo que Wilds me trouxe.

O ritmo do jogo era extremamente lento, ou então era a extrema lentidão do protagonista que o demonstrava. Não era só com uma espada gigante que os movimentos pareciam perros, mas praticamente com qualquer setup que eu experimentei: o volume de “pedras colocadas nas botas do nosso personagem” dependia da arma empunhada, mas ia de “muitas”, para “tantas que nem o Miguel Arruda roubava uma mala com este peso”.  

Somássemos a isso as típicas idiossincrasias do jogo, onde o grind de materiais alicerçado pelo ritmo que para mim me soava extremamente lento, tornava o acto de abraçar Monster Hunter como um quarto emprego, a somar aos 3 que na altura já tinha. Todos os elementos de preparação e conhecimento de cada caçada eram interessantes, mas mereciam, e exigiam, uma dedicação que eu simplesmente não queria nem podia dedicar.

Tentei jogar os jogos seguintes ao longo dos anos, e se alguns elementos de fluidez de combate foram sendo corrigidos, por outro lado parecia que a balança de necessidade extrema de uma dedicação por completo a compreender o jogo foram sendo exacerbadas. Elementos que, pelo que sei, contribuíam para o que os fãs hardcore da série procuravam, mas ao mesmo tempo me afastaram por completo deste jogo, e nem era pela sua qualidade, mas sim pela sua abordagem. Afinal, os jogos não têm de agradar a todos.

Mas avancemos até Fevereiro de 2025, quando a Capcom repensou a abrangência de Monster Hunter e conseguiu (como já tinha feito com o spinoff Stories) trazer-me para mais perto da série, ousando, no meu entender simplificar e tornar mais acessíveis alguns elementos padrão da série. Embora algumas mudanças possam dividir os fãs mais dedicados, sinto que a experiência geral foi pensada pela Capcom como um verdadeiro gateway para a série.

Sentimo-lo de imediato com uma das maiores novidades de Monster Hunter Wilds: os Seikrets, montadas que lembram chocobos e que facilitam a locomoção pelos vastos ambientes do jogo. Vêm já do stand equipados de origem com todos os extras, nomeadamente a opção de piloto automático, permitindo-nos chegar rapidamente aos objectivos, eliminando o que para mim era um elemento que me esmorecia em Monster Hunter – a perda de tempo a perseguir monstros. Não é só aí que estes Uber da vida selvagem nos melhoram a qualidade de vida, os Seikrets permitem-nos apanhar recursos em movimento, assim como consumir curas, afiar as armas, e tomar consumíveis que nos permitam preparar para os confrontos.

Seria de surpreender que os titulares monstros não fossem o grande destaque da experiência que vivemos como um caçador em Monster Hunter Wilds. As batalhas estão ainda mais cinematográficas do que as que vivi antes, e a possibilidade de invocamos estrategicamente o nosso Seikret para recuperarmos ou para perseguirmos as criaturas torna cada confronto em batalhas inesquecíveis. Poderei estar a medir a sua fluidez com os óculos de quem jogou um jogo com 14 anos, mas a espetacularidade e agilidade do combate, tanto da nossa parte como dos monstros, levou-me a senti-lo como um jogo com muito mais acção do que conhecia. 

Somemos a isso a introdução de alguns elementos mecânicos no combate, como o surgimento das feridas nos monstros. Depois de castigarmos repetidamente uma zona do monstro, podemos utilizar o gatilho esquerdo para fazer surgir uma retícula que, apontada para essa mesma ferida, nos permite despoletar um ataque poderoso que dá extra dano à criatura. 

A dança em torno dos monstros é mais ágil e ao mesmo tempo épica, algo que sinto desde as criaturas do nosso tamanho que enfrentamos, mas que antes só senti com monstros de dimensões titânicas.

Apesar de ter tido alguns glitches visuais enquanto jogo pré-release o jogo no PC, tenho alguma estranheza na direcção de arte do jogo. Apesar de adorar a influência ainda mais notória das referências visuais nativas das tribos da América do Norte e do Sul, há uma ocidentalização dos rostos dos personagens que me parece divergr bastante da tradicional direcção de arte da série. Para além disso, a narrativa mais presente e intrusa não é de todo o meu agrado, já que a história é simplista e cliché, como os personagens humanos são pouco carismáticos e demasiado esquecíveis.

Já que adoro jogar sozinho – algo que historicamente poderia ser estranho em Monster Hunter Wilds – a reformulação dos Sinais de SOS vêm responder a um dos meus apelos para a série, e de uma certa forma, “encher-me as medidas”. Se nenhum jogador responder ao pedido de ajuda num combate que consideremos mais difícil, um grupo de NPCs entram na caçada para preencher os espaços vazios. Isto torna o jogo mais acessível para jogadores solo como eu, e a eficácia destes caçadores artificiais pode tornar até a experiência fácil demais, reduzindo a necessidade de grind, o que acaba por ser uma bênção para mim, mas um detractor para muitos que podem considerar que desvirtua a experiência do jogo.

A campanha principal pode ser concluída de forma relativamente rápida, mas o verdadeiro desafio de Monster Hunter Wilds começa no endgame, com caçadas mais difíceis e novos conteúdos previstos para pós-lançamento, dando-nos muitos motivos para continuarmos a explorar esse vasto mundo.

Acredito que algumas das concessões que me aproximaram definitivamente de Monster Hunter Wilds possam desagradar aos jogadores veteranos. Mas acredito que as melhorias de qualidade de vida e as novas mecânicas oferecem uma experiência perfeita para tornar este jogo um verdadeiro portão escancarado para que pessoas como eu se apaixonaram por uma das mais acarinhadas séries dos últimos anos.