Já não me lembro em qual dos eventos do Vítor Antunes é que Infinity Nikki me deixou totalmente embasbacado, entrando imediatamente para a lista de jogos que mais vontade eu tinha de jogar, mesmo sem saber nada sobre o passado da série. E foi alimentado por essa curiosidade e envolto em desconhecimento do que se tratava que aceitei a possibilidade, há um par de meses, de jogar Infinity Nikki antes do seu lançamento.

Para melhor compreendermos Infinity Nikki é um jogo de aventura free-to-play em mundo aberto publicado pela Papergames, lançado em 5 de dezembro de 2024 para Android, iOS, PlayStation 5 e Microsoft Windows, e representa a quinta entrada na série Nikki e serve como sequela do jogo mobile Shining Nikki. 

O salto de ambição do jogo anterior para este é abismal, e é impossível alguém ficar imune ao apelo visual deste jogo, que, à semelhança de outros F2P asiáticos, nos trazem mundos deslumbrantes facilmente acessíveis.

Infinity Nikki desenrola-se no mundo fantástico de Miraland, e vivemos a pele da protagonista Nikki e do seu fiel companheiro felino, Momo, numa aventura para resgatar uma divindade mística dos desejos. Cada nação dentro de Miraland funciona quase como biomas separados, apresentando-nos culturas e cenários distintos com uma diversidade rica em ambientes para exploração. 

A narrativa, apesar de não ser inovadora ou impactante, desenrola-se à medida que interagimos com os muitos personagens de Miraland, assim como quando enfrentamos criaturas enigmáticas. Mas no centro de tudo – e não fosse este jogo focado na moda e no vestuário – está a procura e recolha de vestidos maravilhosos que têm um grande papel mecânico na progressão do jogo.

Esta colecção e utilização de diferentes trajes, cada um a conferir-nos habilidades específicas que permitem a Nikki navegar por variados terrenos e ultrapassar desafios ambientais. Por exemplo, certos vestidos permitem-nos planar por áreas extensas ou reduzir o tamanho de Nikki para esta conseguir passar em locais previamente inacessíveis. Ou, ao estilo quase metoridvania, fatos que nos dotam da capacidade de “purificar” monstros ou até ganhar a habilidade de apanhar insectos. 

Apelando ao seu elemento mais pacifista e dedicado à beleza e ao vestuário, o jogo apresenta-nos Duelos de Estilo, competições onde os tentamos passar desafios escolhendo roupas baseadas em atributos como Sweet, Fresh, Elegant, Sexy, e Cool para enfrentar bosses em batalhas de moda, que nunca, mas nunca envolvem luta, mas sim uma dança interpretativa.

O sistema de progressão incorpora elementos de gacha ao bom estilo do filão dourado de Genshin Impact, onde tentamos obter itens de vestuário e acessórios através de moeda do jogo ou microtransações. Este sistema inclui uma mecânica de “piedade”, garantindo a obtenção de um item de 5 estrelas após um número predeterminado de tentativas, assegurando que temos a oportunidade de obter itens raros sem depender exclusivamente da sorte.

Depois de me ter perdido pelo ambiente idílico de Infinty Nikki, senti que há aqui um elemento óbvio e o seu grande elemento de venda: visualmente este mundo é fascinante, e a atenção ao detalhe coloca-o onde apenas os jogos nipónicos AAA poderiam estar. Tê-lo como uma experiência F2P é um verdadeiro regozijo, não fosse, lá está, o elemento que mais me afasta do jogo. 

Todos os jogos têm de fazer dinheiro, pois não estão aqui para fazer caridade, e as mecânicas de gacha são sobejamente conhecidas. Mas talvez sejam ainda vícios das suas origens em mobile, mas Infinity Nikki tem, para mim um excesso de submenus e um ainda mais excessivo número de currencies. Não é fácil de nos habituarmos a navegar os seus menus, perceber o que é jogabilidade e o que são os típicos engodos para nos apelar a gastarmos dinheiro, e para mim foi ainda mais difícil aprender a desviar-me das muitas currencies, entre aquelas que ganhávamos com a nossa prestação, e aquela que obtínhamos apenas com os nossos euros.

Infinity Nikki é mais uma prova do poderio de desenvolvimento chinês e não é de surpreender a sua qualidade técnica e artística, quando ouvimos pela boca do seu CEO, Yao Runhao, que a equipa de desenvolvimento contou com mais de 1.000 membros, incluindo Kentaro Tominaga, ex-game designer de The Legend of Zelda: Breath of the Wild, que contribuiu para a criação de Infinity Nikki a partir de Quioto. 

Infinity Nikki representa uma evolução surpreendente para a série Nikki, expandindo as suas raízes de jogos de moda para uma experiência de aventura em mundo aberto, e conquistando dois públicos vastos de uma só assentada: o das consolas e o do Ocidente. Esta é uma experiência diferente das outras, permitindo-nos encontrar um mundo deslumbrante e detalhado perfeitamente cozy, onde a moda e a beleza falam mais alto do que a força e a guerra.