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Falar da PS2 não é só referir o facto de que ainda hoje é a consola mais vendida de sempre, mas é sobretudo a necessidade de lembrar que ainda hoje é – mesmo com espaço para debate – uma das plataformas com o mais vasto e mais original catálogo da História.

Dentro dessa riqueza criativa que essa geração permitiu, muitos foram os títulos nipónicos que aproveitaram a abertura do público consumidor a JRPGs e outros géneros relacionados para estenderem novos IPs para além do Japão. 

Os fãs de RPGs tácticos lembrar-se-ão certamente de Phantom Brave, um dos títulos mais importantes da Nippon Ichi Software e que ajudou a catapultar a empresa no caminho de sucesso que ainda hoje tem. Lançado originalmente em 2004 para PlayStation 2, rapidamente ganhou notoriedade pelo seu sistema de batalha sem grelhas e pelo criativo (e narrativo) sistema de invocação de fantasmas. Agora, mais de duas décadas depois do lançamento do original no Japão, e exactamente vinte anos após a sua chegada ao ocidente, encontramos Phantom Brave: The Lost Hero, a tão esperada sequela.

No primeiro Phantom Brave acompanhámos Marona, uma jovem com o dom de se comunicar com fantasmas, o poder conhecido como Chartreuse Gale. Órfã e frequentemente rejeitada pela sociedade, Marona vivia na ilha de Phantom Isle ao lado de Ash, um espírito guerreiro que prometeu protegê-la, e juntos, enfrentaram inúmeros desafios e salvaram o mundo de uma força maléfica conhecida como Sulphur. Os semi-spoilers com vinte anos terminam aqui.

Em Phantom Brave: The Lost Hero, a história continua alguns meses após os eventos do primeiro jogo e abraça a temática pirata, tão em voga nos dias de hoje. Com Marona e Ash a partirem numa viagem marítima, são atacados pela temível Frota Naufragada, e durante o confronto Ash sacrifica-se para salvar Marona, deixando-a para trás. Perdida e determinada a reencontrá-lo, Marona une forças com Apricot, uma jovem fantasma que procura o seu pai e a sua antiga tripulação pirata. 

Essa ligação directa com a história original é perceptível na forma como a relação da protagonista com Apricot espelha a sua antiga parceria com Ash, reforçando o tema central da série: a importância das conexões, mesmo entre vivos e espíritos.

Phantom Brave: The Lost Hero mantém e expande a jogabilidade inovadora do jogo original. Diferente da maioria dos RPGs tácticos, um género que em muitas forma ajudou a definir, e que utilizam uma grelha de movimentação fixa, Phantom Brave oferece-nos um sistema de movimentação livre, permitindo-nos posicionar unidades em qualquer ponto do campo de batalha dentro de um raio pré-determinado. Isto possibilita uma abordagem mais estratégica e mais orgânica, onde a posição e o ângulo de ataque podem fazer toda a diferença.

Para quem jogou o original, principal destaque desta sequela continua a ser o sistema de Confine. Marona pode invocar fantasmas e vinculá-los a objectos do ambiente, como pedras, árvores ou armas, e o tipo de objecto escolhido influencia diretamente as estatísticas e habilidades do espírito invocado, tornando cada batalha única. Por exemplo, vincular um fantasma a uma espada pode aumentar o seu ataque físico, enquanto que vinculá-lo a uma flor pode melhorar sua resistência mágica.

Expandindo a criatividade mecânica do original, temos uma novidade introduzida nesta sequela: o sistema Confriend, que permite que Marona se funda temporariamente com fantasmas, desbloqueando habilidades especiais e permitindo ataques devastadores. Este novo elemento adiciona mais profundidade estratégica às batalhas, incentivando-nos a experimentar diferentes combinações entre Marona e os fantasmas que traz consigo para cada batalha.

Para além disso, Phantom Brave: The Lost Hero oferece-nos mais de 50 tipos de unidades fantasmas para “coleccionar” e um arsenal de mais de 300 habilidades para dominar. Como no original, as mecânicas de level up e customização são altamente flexíveis, permitindo criar unidades únicas e adaptadas ao nosso estilo de jogo.

Visualmente, o jogo mantém o estilo artístico característico da Nippon Ichi, e com as novas possibilidades tecnológicas parece-me conferir à série a direcção de arte sempre desejada pelos seus autores, mais próxima da animação nipónica tradicional, combinando sprites desenhados à mão com ambientes 3D. A banda sonora, composta pelo mítico Tenpei Sato, traz-nos novas composições que evocam a nostalgia do primeiro jogo, mas talvez com menos dramatismo e vibrância do que a música criada há vinte anos.

Phantom Brave: The Lost Hero é uma sequela que honra o legado do original, que cria novas mecânicas e expande a história de Marona. Se tivemos de esperar vinte anos para continuar a história de um dos títulos de culto da PS2, diria que o tempo de espera será facilmente compensado pelo respeito e qualidade que sentimos em cada momento desta sequela.