Volto a repetir o que tantas vezes já disse, e que talvez fosse até mais simples de tatuar de uma vez: só os jogos indie têm a possibilidade de nos trazer ideias mirabolantes e conceitos estranhos com mecânicas únicas, muitas vezes em propostas curtas que podemos saborear de um trago.
WYRMHALL: Brush and Banter, desenvolvido pela Leafy Games, é mais um caso que vem justificando a minha regra. Será lançado hoje para PC via Steam, e apresenta-se como um jogo de comédia e aventura onde somos um goblin encarregue de limpar e restaurar artefactos mágicos.
Com a perspectiva fixa na primeira pessoa a partir da nossa banca onde vemos surgirem os bizarros clientes, que vão de fantasmas e warlocks com braços de esqueleto, em WYRMHALL a tarefa aparentemente repetitiva de limpar objectos mágicos, cada um com sua própria personalidade e história, é o que nos mantém investidos neste mundo.
Com um sistema interactivo de limpeza e restauração, onde devemos usar escovas, panos e até feitiços especiais para remover resíduos encantadas, maldições, carraças e outros problemas peculiares.
Num sistema com uma mecânica simples, é curioso encontrar alguns itens que falam, e outros que apresentam desafios únicos como a varinha mágica feita de pata de ave de rapina onde não podemos tocar nas garras enquanto a limpamos sob o risco de morrermos. Ou pelo menos é o que nos diz o nosso sombrio cliente.
Apesar de ser um jogo curto que podemos terminar de uma sentada, WYRMHALL: Brush and Banter incorpora uma mecânica de diálogos dinâmica. Dependendo das escolhas que fazemos ao interagir com os clientes e os seus objectos, a história pode desenrolar-se de maneiras diferentes, resultando em múltiplos finais. Para mim foi uma surpresa perceber que mesmo com um jogo tão simples acabaria por rir com as opções de respostas que podemos dar, que apesar de curtas (por vezes apenas um “k”) mas que nos permitem ser rudes ou mesmo sobranceiros com as criaturas que se aproximam da nossa loja. Para este efeito vale o facto de que WYRMHALL: Brush and Banter é muito, muito bem escrito.
A direção de arte de WYRMHALL encaixa na perfeição com este mundo estranho: os personagens e os objectos foram desenvolvidos numa abordagem quase low poly mas com designs expressivos. Já a banda sonora, composta por melodias suaves, complementa perfeitamente a experiência, criando uma atmosfera tocante, ainda que docemente sombria, como seria de esperar neste mundo onde criaturas aparentemente malignas se passeiam livremente.
WYRMHALL: Brush and Banter é uma experiência indie onde as mecânicas simples de limpeza, ainda que satisfatórias, são o invólucro perfeito para a divertida história que os seus autores nos quiseram contar. E é, sem dúvida, um jogo perfeito para aqueles que procuram uma experiência mais curta, memorável, mas com impacto e umas gargalhadas à mistura com a óbvia rudez do nosso protagonista para com os clientes.