Temos imagens da cultura popular tão gravadas na nossa mente que, por exemplo, apesar de achar o Armaggedon no mínimo risível, quase que tenho um reflexo pavloviano sempre que ouço a palavra “asteroide” de ouvir o Steven Tyler a cantar a música composta pela Diane Warren e ver o Bruce Willis num rochedo à deriva no espaço sideral. A memória tem mesmo destas coisas.
Não é de surpreender portanto que dei por mim a trautear I Don’t Want to Miss a Thing sempre que ia para uma run de Astronomics, um indie sobre mineração de rochedos no espaço recém-lançado em Early Access.
Astronomics foi desenvolvido pela Numizmatic, e é um uma espécie de roguelite espacial que combina construção modular e uma grande camada de automatização de robots com combate ligeiro.
Enquanto empregados de uma grande corporação espacial, a nossa missão principal é a de recolher o máximo de recursos valiosos de asteroides aleatórios perdidos pelo espaço, e portanto a nossa nave é central para toda a aventura.
A cada nova run, a nossa nave possui um core básico, ao qual podem ser acoplados módulos adquiridos ao longo da exploração: armas, escudos, propulsores, unidades auxiliares e sistemas especializados para automação. A disposição destes módulos não é meramente estética: o posicionamento influencia diretamente o seu desempenho, criando sinergias e definindo até o estilo de combate, quando o temos.
As opções de personalização são vastas: desde naves ágeis e de ataque rápido, até estruturas defensivas pesadas e lentas, cada construção pode ser adaptada ao gosto e aos desafios encontrados durante o percurso intergaláctico. Isto é especialmente importante porque a partir do momento em que nos desacoplamos da estação espacial, temos de navegar a nossa nave pelas cintas asteroides com cuidado, evitando danificá-la ou até destrui-la.
Se o acto de minar por nós mesmos é relativamente simples – e diria até que no início do jogo – algo aborrecido, no qual temos de utilizar as nossas ferramentas anti-gravitacionais para ajudar a carregar os minérios a partir de zonas onde os bots não chegam, o automatismo que se abre com os robots semi-resolve este problema.
Como já devem ter percebido, um dos elementos mais distintos de Astronomics é a introdução de robots que podemos automatizar para que estes sejam responsáveis por recolher recursos. Estes robots podem ser adicionados como módulos específicos à nave ou funcionar de forma independente, explorando o mapa em busca de energia e materiais raros.
Em vez do processo de recolha de recursos depender exclusivamente da nossa acção directa, torna-se viável preparar setups que prioritizam a gestão de recursos passiva, com os nossos bots a operarem em paralelo enquanto vamos partindo rochedos em minérios mais fáceis de transportar, ou a instalar máquinas que as desbastem por nós. Dei por mim muitas vezes a escalar montanhas, quebras pedras, e projectá-las para perto da nave para que os bots as recolhessem, e me poupassem o tempo de deslocação. Astronomics apoia-se assim em experiências como Factorio, demonstrando aqui que a logística e a automação são tão importantes quanto o controlo do nosso protagonista em tempo real.
Para manter alguma frescura ao relativamente monótono loop mecânico, em Astronomics o mapa galáctico é gerado proceduralmente em cada nova tentativa, oferecendo-nos alguma variedade e surpresa perante cada run. Por sua vez os diversos sistemas estelares apresentam eventos distintos: desde combates intensos com piratas espaciais a zonas de mineração com maior dificuldade. A progressão entre runs segue o modelo clássico do roguelite, com desbloqueios permanentes através de aquisições na estação espacial que ampliam o leque de possibilidades, e que se materializam em novas naves, módulos e melhorias globais à nossa eficácia.
Com um loop de jogabilidade relativamente pacífica e relaxante à excepção dos ocasionais com os piratas espaciais que nos vêm tentar roubar as riquezas, sinto que apesar de estar ainda em alpha, Astronomics tem grandes argumentos para apelar aos fãs de jogos de exploração e automação.
