Os jogos indie JRPG enriquecem o mercado ao oferecer uma liberdade criativa que permite narrativas mais ousadas e personagens profundamente carismáticas, explorando com frequência temas que os grandes estúdios evitam por questões comerciais. Esta abordagem independente estimula a inovação tanto nas mecânicas de jogo como na estética, proporcionando experiências únicas e intimistas que estabelecem uma ligação especial com os jogadores. Ao desafiar fórmulas pré-estabelecidas, estes títulos não só diversificam o panorama dos RPG, como também incentivam toda a indústria a procurar novas formas de contar histórias e criar conexões emocionais com o seu público. Estas três propostas, encontradas após uma exaustiva pesquisa, prometem ser boas provas que os JRPG continuam tão interessantes como os que são publicados pelas grandes produtoras deste género nipónico.

Forge of the Fae

Datadyne – Estados Unidos da América 

Data de lançamento não definida – PC, PlayStation, Switch, Xbox

Num mundo onde as fábricas de ferro rugem ao lado de florestas ancestrais, Forge of the Fae surge como um RPG que tem tanto de mitologia celta, como de engrenagens steampunk, com uma habilidade e qualidade artesanal únicas. No centro da narrativa está Fiora, uma inventora obstinada cujas mãos manchadas de óleo desvendam curiosos segredos em cristais – artefatos que podem ser a chave para desvendar um mistério sombrio: o desaparecimento de aldeões durante uma greve de mineiros. Esta trama, inspirada no folclore irlandês do século XIX, não se contenta em ser só um pano de fundo. Esta respira e desafia o jogador a decifrar a linha ténue entre humanidade e o Outro Mundo, onde criaturas mágicas agem com uma lógica que vai ao sabor do vento de tão imprevisível que é. O pixel art meticulosamente criado é uma clara homenagem aos clássicos 16-bit, que esconde paisagens que oscilam entre colinas verdejantes e florestas onde o musgo parece igualmente impressionante.

O combate por turnos, base dos JRPG clássicos, ganha uma nova frescura com o Sistema de Adrenalina: um sistema que permitirá aos jogadores desferir golpes devastadores num jogo de risco e recompensa. Horas infindáveis de jogo é o que esta obra promete: haverá escolhas narrativas ramificadas, bosses ocultos e missões secundárias quanto baste. Forge of the Fae não será só uma aventura – será um convite para se perderem num labirinto onde cada esquina esconde um novo perigo, ou um novo motivo para acreditar que os RPG ainda têm muito a dizer.

My Familiar

Chintzy Ink – Estados Unidos da América 

4º trimestre de 2025 – PC 

My Familiar não será apenas um RPG por turnos; tem o aspeto de ser uma viagem alucinante por um cenário onde a corrupção impera e os seus habitantes desafiam qualquer lógica convencional. Criado pelos estúdios Chintzy Ink e Something Classic, esta obra indie aposta numa estética ousada, descrita de forma cómica como “Ni No Kuni on acid” e “Ghibli gone grunge”. A promessa é uma experiência visual e narrativa que mistura o grotesco e o encantador, onde o jogador, na pele de um personagem recém-criada, precisa de lutar, fugir e até enfrentar adversários em batalhas de rap agressivas. Os combates ganham ainda mais profundidade com a introdução dos Timed Hits, uma mecânica clássica que adiciona um elemento de destreza e timing às lutas por turnos.

O elenco de personagens é um espetáculo à parte: um pato musculado com ares de luchador mexicano, um ladrão de salsichas sem remorsos, uma diva sem corpo e um estranho coelho-rato-goblin roxo são apenas algumas das excentricidades que se vão juntar à aventura. A demonstração, já disponível no Steam, recebeu recentemente a versão 0.2.0, que trouxe melhorias e correções que refinam ainda mais a experiência. My Familiar parece ser a prova de que os indies têm sempre espaço para surpreender, arriscar e reinventar os géneros clássicos, onde transformam o tradicional JRPG por turnos numa experiência vibrante, caótica e imprevisível.

Threads of Time 

Riyo Games – Canadá 

Data de lançamento não definida – PC, Xbox 

Threads of Time promete ser uma carta de amor aos RPGs clássicos, mas sem ficar preso à nostalgia. Com um conceito que combina viagens temporais, um combate por turnos estratégico e uma estética retro aprimorada pelas capacidades do Unreal Engine 5, o primeiro jogo da canadiana Riyo Games ambiciona capturar a magia dos grandes clássicos do género. O estúdio, fundado por dois amigos que cresceram imersos nos mundos de Final Fantasy e Chrono Trigger, conseguiu reunir talentos com experiência em títulos como Shovel Knight, Deltarune e Tomb Raider, além de contar com veteranos japoneses responsáveis por Xenoblade Chronicles e a série Mana. Não é um mero revivalismo – é uma tentativa de criar um novo marco na história dos JRPGs.

A promessa de uma narrativa que atravessa eras, desde a pré-história até um futuro distante, dá a Threads of Time uma ambição rara no panorama indie. Se a Riyo Games conseguir equilibrar o peso da influência dos clássicos com uma identidade própria, poderá conquistar tanto os veteranos do género como uma nova geração de jogadores. O combate por turnos dinâmico, o elenco de personagens de diferentes épocas e a ideia de restaurar a Ordem dos Time Knights sugerem um mundo rico em histórias e mecânicas intrigantes. Se há algo mais difícil do que viajar no tempo, é criar um JRPG que se sinta simultaneamente familiar e inovador – e Threads of Time parece estar prestes a provar que isso é possível.