Sempre defendi – e acredito que defenderei sempre – que devemos sempre que possível separar autor da sua obra. O que significa, especificamente para este artigo, que dificilmente ignoraria os tremendos contributos de Molyneux para a indústria, e a forma como criou novos caminhos e novos géneros que estiveram presentes no meu crescimento.
Com a chegada às nossas mãos deste jogo indie, apercebi-me que de alguma forma, num mercado hiper-saturado em praticamente todos os géneros, como é que os god games parecem ter sido renegados para um canto do esquecimento com o seu pai?
Não disfarço de forma alguma o meu entusiasmo com Creo God Simulator. Esta proposta indie de construção de cidades e god game desenvolvido pela MKSM Design LLC, foi lançado em 23 de janeiro de 2025 no Steam. Enquanto entidade omnipresente que supervisiona esta civilização somos na realidade uma divindade encarregada de construir e gerir uma sociedade, utilizando poderes divinos para influenciar os habitantes e moldar o desenvolvimento desta civilização.
Para os habitués do género, o loop mecânico é perfeitamente auto-explicativo, já que temos de equilibrar elementos de construção de cidades, gestão de recursos e sobrevivência da nossa população. Começamos com um pequeno grupo de seguidores e temos de ordená-los a expandir a cidade através da construção de edifícios, desbloqueando tecnologias à medida que progredimos e respondendo da forma menos prejudicial a eventos aleatórios que nos surgem.
Tradicional dos god games – e que está aqui presente – é o sistema de fé/medo, onde as nossas acções afectam a perceção que os seguidores têm sobre nós, influenciando também a geração de Willpower, o recurso necessário para utilizar poderes divinos como lançar meteoros ou controlar o clima.
Neste aspecto temos uma gama diversificada de habilidades divinas, permitindo-nos interagir de várias formas com os habitantes e o ambiente, ou manipulação do tempo, acelerando a obtenção do recursos ou mesmo o processo de construção.
Existe também uma grande liberdade geográfica (e geométrica) na mecânica de construção, já que esta nos permite posicionar edifícios livremente, possibilitando layouts optimizados e personalizados para a cidade que estamos a gerir.
O maior problema com que me defrontei nas muitas horas que Creo God Simulator me absorveu foi a lentidão do seu ritmo: a progressão pode ser especialmente demorada, especialmente no início, devido à lenta acumulação de recursos como o Willpower. Somemos a isso o excessivo tempo que demora um bebé a tornar-se adulto, e consequentemente a funcionar como mais um par de mãos trabalhadoras na nossa cidade.
Sinto que passei mais tempo à espera que coisas acontecessem, do que a gerir activamente a minha civilização, e acredito que um ligeiro tweak seria suficiente para pôr este Creo God Simulator no caminho certo. Quem sabe uma intervenção divina virtual pudesse ajudar.
Para quem tem saudades de God Games, Creo God Simulator é uma forma de reviver o género com a sua mistura de construção de cidades com poderes divinos, oferecendo-nos a oportunidade de moldar e gerir uma civilização. Pudessem os seus criadores rever o seu ritmo lento e o sucesso poderá ser ainda maior, num nicho que parece ter sido perdido pelo tempo.