Poucos designers terão o mesmo nível de estrelato que Richard Garfield tem. A sua criação em 1993 de Magic: the Gathering garantiu-lhe um lugar cativo nesse panteão de game designers amplamente respeitados e influentes. Percebemos isso ainda hoje ao ver que o seu nome apenas é um selling point, seja em videojogos ou jogos de tabuleiro.
Mas diria ao mesmo tempo que apesar de muitas das suas criações ainda reverberarem com inspirações na sua magnum opus, que sinto que, apesar de ter jogado muitos dos seus jogos posteriores – e alguns deles serem exemplos de sucesso crítico e comercial – que apenas o seu nome não me chega para acreditar a priori em qualquer jogo.
O que significa que quando ouvi falar de Vanguard Exiles, um auto-battler táctico desenvolvido pelo estúdio The Tea Division, com design de Richard Garfield, não me rendi directamente. Mas quase.
Lançado em Early Access no Steam a 11 de março de 2025, Vanguard Exiles apresenta-nos uma abordagem interessante ao género, combinando estratégia táctica com elementos de jogos de tabuleiro digitais.
Vanguard Exiles decorre num universo dieselpunk pós-Primeira Guerra Mundial, onde a magia e a tecnologia coexistem, com campos de batalha dinâmicos que evoluem a cada ronda. O nosso objectivo é conquistar territórios, com cada unidade a possuir habilidades e características próprias, com as nossass decisões estratégicas, desde o posicionamento das unidades até à escolha das acções a levar a cabo a fazerem a diferença entre a derrota e o sucesso.
Este jogo oferece-nos um conjunto complexo de regras e mecânicas, mas tenta ensinar-nos de forma intuitiva: após cada ronda é possível analisar as probabilidades de vitória, permitindo-nos aprender e adaptar constantemente as nossas estratégias.
Temos constantemente de nos adaptar em cada turno, já que as unidades que temos disponíveis dependem das cartas buscadas de forma aleatória a cada turno. É com essas variáveis que temos de olhar para o terreno de jogo e perceber como é que vamos estar em superioridade de poder em cada “sala”, e onde a colocação de cada unidade terá o maior efeito.
Um problema que senti com Vanguard Exiles é o facto de o seu sistema de auto-battling não ser assim tão imediato de compreender, especialmente porque as unidades, em caso de sucesso, vão-se deslocando pelo tabuleiro em direcção a novas “salas”. As minhas primeiras runs foram massacres gerais sofridos contra o CPU, visto que não conseguia mesmo compreender a profundidade mecânica aqui exigida.
Nesta fase em alpha temos acesso a três facções jogáveis e modos multijogador completos, ainda que o estúdio planeie adicionar novos conteúdos e melhorias ao longo do próximo ano, incluindo torneios, rankings competitivos e uma campanha single player.
O histórico Richard Garfield descreve este Vanguard Exiles como uma fusão de design de jogos de tabuleiro com experiências digitais, com uma jogabilidade eclética, e como afirma que o que seu aspecto favorito no design de jogos é explorar espaços interessantes, como fez com Magic: The Gathering e Keyforge.
Acredito que a inclusão futura de um modo de campanha possa contribuir para explorar um elemento que sinto em Vanguard Exiles: olhar para ele com uma aura de quebra-cabeças. Desafios gerados com inimigos já colocados em algumas salas e tentarmos optimizar e suceder com o que nos é apresentado, com unidades limitadas. Talvez seja essa a forma de nos incentivar a mergulhar de forma ainda mais profunda no mindset mecânica que o estúdio The Tea Division nos traz.
Vanguard Exiles apresenta-se como uma adição desafiante ao género auto-battler, oferecendo profundidade estratégica e inovação assinada pelo mítico Richard Garfield. O compromisso da The Tea Division em expandir os modos de jogo têm tudo para elevar um jogo que dificilmente será o portento PVP que os seus autores desejam, mas que tem, ainda assim, uma grande dose de originalidade.