Adorei Curious Expeditions desde que experimentei o seu protótipo já no ido ano de 2013 na Gamescom. Joguei a versão final, devorei-a, e fiquei feliz de ver que a sua sequela não só concorreu, como foi finalista do Indie X. A promessa do estúdio germânico Maschinen-Mensch de mudarem para algo completamente diferente com este novo jogo deixou-me imediatamente investido em querer conhecê-lo. Resta saber se a distância criativa entre a série que me fez conhecer este estúdio e esta sua nova proposta estarão, para mim, no mesmo nível de interesse.

Mother Machine é um jogo indie cooperativo de plataformas com elementos roguelike e foi  lançado a 26 de março de 2025 para PC. Já que a exploração parece estar impregnada no material genético do estúdio Maschinen-Mensch, Mother Machine traz-nos exploração gerada de forma procedural, uma direcção de arte peculiar, assim como uma experiência no mínimo diferente, que pode ser jogada a solo mas que notoriamente foi concebida para ser vivida por até 4 jogadores.

O enredo, do pouco que sabemos logo início do jogo, é que estamos mil anos no futuro, num planeta alienígena onde uma inteligência artificial, abandonada pelos seus criadores humanos, se torna a “mãe” de gremlins. Estas criaturas são então enviadas para explorar cavernas perigosas e descobrir os segredos sombrios do planeta e ao mesmo tempo… da sua própria criadora.​

Como disse, Mother Machine está desenvolvido por completo com uma mentalidade cooperativa, permitindo que até quatro jogadores explorem juntos os estranhos ambientes gerados proceduralmente. Controlamos um gremlin personalizável com uma grande variedade de mutações que vamos desbloqueando na meta-progressão deste jogo, e que influenciam o estilo de jogo e o nosso papel dentro do grupo.​

Como cada gremlin apenas pode ter uma mutação – ou se quiserem, uma habilidade especial quando comparado com os outros – a exploração está mesmo pensada para termos vários gremlins (cada um com o seu poder) a cooperar para chegar ao fim de cada trecho da caverna.

Em termos visuais, há algo de Spore em Mother Machine: a personalização estética que podemos fazer dos gremlins relembra-nos de imediato das alterações que podíamos fazer às criaturas – adicionando-lhes barbatanas, mudar a cor e a textura da sua pele, as suas patas e muitas outras características físicas.

A componente de platforming em si mesmo é amplamente inspirado por clássicos como Donkey Kong Country, mas Mother Machine oferece-nos desafios que não estão apenas ligados com os saltos em si, mas também nas habilidades únicas das mutações de cada gremlin. O seu level design – apesar de proceduralmente gerado – não se baseia na frustração de saltos extremamente difíceis, mas sim na nossa capacidade de sobreviver aos perigos, e também de navegarmos de forma eficaz pelas cavernas, encontrando cristais, mas também as formas de energizar as máquinas de teleporte e saída.​

A direcção de arte de Mother Machine mescla de forma interessante o “fofo” e o “grotesco”, num mundo que é todo passado dentro destas cavernas. Não sei se é este sentimento de reclusão e a repetitividade que este tipo de ambientes criam de forma natural, mas entre a estética bidimensional e ilustrada que o estúdio tinha, e este, tridimensional e mais complexo, admito preferir o primeiro. E não porque a sua capacidade de criação de ambientes e detalhes seja limitado, mas porque sinto que a limitação visual e cromática vem precisamente da escolha conceptual de ter o jogo a decorrer todo dentro de cavernas.

Mother Machine é uma proposta curiosa para os co-op platformers com a sua camada roguelike, e constitui um desvio tremendo do estilo e carreira do estúdio alemão Maschinen-Mensch. Mas com as propostas que tivemos recentemente de jogos a inspirarem-se em Donkey Kong, como Nikoderiko, não sei se a sua componente procedural e roguelike é suficiente para o destacar no panorama indie actual.