Quando escrevemos sobre videojogos há alturas em que acumulamos uma série longa de textos inacabados ou mesmo abandonados e foi isso que aconteceu com Death Kid. Sentei-me para começar a escrever outro texto e reparei no nome dele na lista dos últimos documentos do Word. Sou um desastre organizativo…
Death Kid funciona como um roguelite de acção com componentes de Beat’em up e dungeon crawler. É uma combinação segura, especialmente se misturarem os ingredientes de forma tão conservadora como aqui o fizeram.
Neste jogo o ciclo da vida e da morte deixou de funcionar e a nossa função é encontrar as rodas dentadas que o põem a funcionar novamente. Este evento levou a que não exista nenhum organismo vivo na Terra, o que faz de nós uma espécie de zombies, sendo os nossos ajudantes na abertura dos portais almas aprisionadas no corrente limbo.
Quer os visuais em pixel art, quer a selecção musical são adequadas sem ser memoráveis, aliás eu poderia repetir tudo isso acerca da grande maioria das componentes do jogo.
A jogabilidade é relativamente simples em Death Kid. Temos 8 níveis que temos que bater para chegar ao nosso objectivo. O gancho que liga a acção é que as almas que nos ajudam a abrir os portais para cada nível precisam de tempo para o fazer, enquanto isso temos de as proteger eliminando as sucessivas ondas de inimigos que nos são atiradas.
Cada inimigo que derrotamos dá-nos pontos que podemos usar para melhorar ou adquirir novas habilidades cada vez que morremos. Quando morremos vamos para o overworld onde interagimos com outro personagem. Essa interacção é que vai avançando e adensando a história. É também nesse momento que podemos investir os pontos que amealhámos, mas para prevenir o investimento precoce sempre no mesmo, o próprio jogo tem uma rotação de habilidades a que podemos aceder a cada momento, sendo que apenas podemos escolher entre essas.
No nosso arsenal temos o andar à chapada simples, um movimento de dash que nos torna invulneráveis, habilidades recarregáveis que permitem ataques à distância e uma transformação na Death Form que nos torna muitíssimo mais fortes por um curto espaço de tempo, que podemos ir prolongando se derrotarmos inimigos. As opções são variadas, mas a combinação do combate corpo a corpo com o movimento de dash torna essa a forma óptima de enfrentar os adversários, tornando o jogo mais uma selecção de qual inimigo atacar do que um momento de bailado. Na prática, apesar de tudo o que nos oferece, o equilíbrio entre habilidades torna o jogo algo repetitivo.
Os roguelites sofrem sempre do problema da repetição e Death Kid não foge à regra. Cada vez que somos derrotados voltamos ao overworld que nos faz recomeçar no primeiro nível. Há sempre algum evento a decorrer em background a cada run, sendo que apenas nos apercebemos disso no overworld, seja pela interação com o nosso host, seja pela descoberta de novas áreas ou opções, mas na prática isso é um mero passo intermédio para o regresso à acção.
Cada nível tem inimigos diferentes, praticamente todos criativos, se bem que a certo ponto começam a ficar algo ridículos e descontextualizados, mas o próprio jogo goza com esse facto e, sejamos honestos, mais importante que tudo bater certo é o aumento progressivo do desafio, e nesse aspecto o jogo é excelente. Há um contador de runs a que temos acesso, e nele percebemos que a nossa progressão é gradual e rápida, sendo que é raro ficarmos presos no mesmo nível mais que 3 ou 4 tentativas. Isso é bom numa perspectiva de progressão, mas lembrem-se que só há 8 níveis…
A melhoria a cada nova tentativa é incentivada. Somos colocados perante os nossos tempos, como que a picar-nos e a desafiar-nos a fazer melhor. No fundo, muito do replay value pode vir daí, mas é sempre um bocado estranho esse factor ser importante quando a fundação do jogo já é repetir tudo vezes sem conta.
De uma forma geral o jogo já se encontra bem polido, mas ainda apanhei um bug por duas vezes que me impedia a interacção com qualquer elemento no overworld e me obrigou a fechar para ambiente de trabalho, mas tudo o resto funcionou perfeitamente.
Com Death Kid a Crooked Games criou um jogo curioso, já que tem os ingredientes para ser muito mais divertido do que aquilo que acaba por ser. Tem humor e imensas opções de jogabilidade, mas o equilíbrio entre os componentes faz com que a forma óptima de o jogar se vá gradualmente tornando redutora com o incremento da dificuldade. Mesmo assim gostei imenso de o jogar e está listado a um preço justo. Se gostam do género, atirem-se a ele.