Não sei se houve alguma razão que me tenha escapado e que tenha motivado o acaso de receber dois management sims precisamente com a mesma temática, mas acredito que o furor de Hogwarts Legacy tenha motivado alguns destes autores a trazer as escolas de magia para o género.
O primeiro deles foi lançado a 14 de abril de 2025 para PC via Steam e intitula-se The Fool’s Apprentice, um simulador de gestão de academia mágica desenvolvido pelo estúdio indie The Planar Danse. The Fool’s Apprentice possui, para além dos expectáveis elementos de estratégia, um grande foco na narrativa interactiva com um tom de humor negro.
The Fool’s Apprentice convida-nos a assumirmos o papel de um Arcanista responsável por formar aprendizes de magia na cidade ficcional de Golryon. Como Arcanistas, temos a liberdade de moldar a nossa academia, indo desde a decoração até à estrutura curricular, e podemos optar por um ambiente mais acolhedor e inclusivo ou por um laboratório de experiências arcanas de alto risco. As decisões que tomamos influenciam directamente a reputação da academia e a estabilidade de Golryon, para além do sucesso (ou insucesso) dos nossos aprendizes.
Este divertido management sim está repleto de escolhas morais, e andamos no fio da navalha entre o agrado das elites e do povo, enfrentando as reacções da população e das autoridades, aplicando, de uma certa forma, uma ideologia à nossa administração. Estas decisões têm impacto real na narrativa e no desenrolar dos eventos em Golryon, e na felicidade dos aprendizes e na opção que podem tomar de abandonar a nossa instituição.
E é precisamente aí que encontramos um dos aspectos mais cativantes de The Fool’s Apprentice: o comportamento dos nossos aprendizes, já que cada um possui traços de personalidade únicos, que influenciam a forma como reagem ao ambiente, às aulas e às decisões administrativas que tomamos. Alguns destacam-se facilmente pela sua dedicação, enquanto outros podem conspirar contra nós, enredando-nos em dilemas e problemas que podem ser a nossa ruína. Mas é esta profundidade que torna a nossa academia um ecossistema vivo, no qual temos de equilibrar autoridade, empatia e vigilância de forma constante.
Adicionalmente, como é apanágio de muitos management sims, o sistema de eventos aleatórios acrescenta imprevisibilidade ao progresso da história e do sucesso da nossa gestão. Podemos esperar inspecções inesperadas por parte da Guilda Arcanista e até rituais descontrolados que ameaçam romper o tecido da realidade, e desta forma somos constantemente desafiados a adaptar a nossa estratégia perante estas situações bizarras. É neste dinamismo que assenta o esforço de evitar tornar a experiência repetitiva.
Com décadas de jogo dedicadas a management sims desde que em meados dos anos 1990 comecei a brincar com os primeiros jogos com o qual me cruzei, uma certeza que tenho é que uma grande fatia do sucesso de um jogo do género assenta num bom tutorial. E aí parece-me que The Fool’s Apprentice tem alguns problemas – acredito que facilmente corrigíveis – e que lhe permitam ensinar-nos todas as suas nuances e particularidades mecânicas, para melhor aproveitarmos a qualidade de game design que aqui está.
The Fool’s Apprentice tem uma boa promessa de equilibrar as nossas escolhas e o impacto que têm na história e na nossa gestão, mas para um jogo tão complexo necessita de um tutorial mais eficaz, coeso e mais explicativo, mas é uma boa tentativa de um Hogwarts Tycoon.