Há sketches humorísticos que vão ficar na nossa memória colectiva para sempre, e que evocamos volta e meia sem percebermos bem porquê. Não sei quanto espaço estas memórias ocupam, mas diria que tenho uma boa arrecadação no meu cérebro ocupada por estas coisas: piadas que evoco volta e meia e que me surgem na mente quando menos estou à espera.
Uma delas é aquele sketch do Herman Enciclopédia que parodia o Juiz Decide, com Jesus Cristo e o Pai Natal a disputarem o trono de figuras-chave do Natal. Mas é a frase “ou está nas palhas estendido, ou nas palhas deitado” que mais regressa à minha cabeça, uma afirmação com um contexto muito específico que utilizo com muita frequência.
E é nas palhas estendido, e nas palhas deitado que me sinto, não por preguiça, que até gostaria de ter, mas por estar normalmente a circundar os mesmos géneros. Poderíamos substituir esta expressão por: ou está nas palhas dos farming RPGs ou estendido no chão dos bullet heaven. E ainda acrescentaria: ou talvez nos metroidvanias.
É que com a fome que o Silksong tem criado, temos visto um ressurgimento indie do género como nunca antes visto, e ainda a semana passada escrevemos sobre um desses exemplos. Mas hoje é a vez de falar de Inayah – Life After Gods, desenvolvido pelos ExoGenesis Studios, um estúdio composto por veteranos da indústria com experiência em títulos como Warhammer 40k: Rogue Trader e Pathfinder: Wrath of the Righteous, para além de artistas que trabalharam para empresas como Disney e Blizzard. Este jogo foi lançado a 27 de Março de 2025 no PC e chegará neste segundo trimestre para PlayStation, Xbox e Nintendo Switch, com uma direcção de arte que vende o jogo de imediato.
Neste jogo vivemos o papel de Inayah, uma órfã em busca de sua tribo nas ruínas de uma civilização alienígena avançada, guiada pelo espírito do seu mentor falecido, e enfrentamos um mundo dividido, onde forjamos laços e descobrimos alguns segredos que redefinem este mundo. Um metroidvania peculiar com a particularidade de ter múltiplos finais que dependem das nossas escolhas.
Como arsenal à sua (nossa) disposição, Inayah utiliza uma manopla multifuncional que se transforma em três formas distintas: lâminas, marreta e soqueira, cada uma com habilidades únicas de combate e movimentação e que nos permite adaptarmo-nos a diferentes situações, tanto em combate quanto na exploração dos diversos biomas.
Inayah – Life After God possui também uma interessante camada de personalização da nossa protagonista, permitindo-nos escolher e equipar habilidades, armas e equipamentos, bem como melhorar as capacidades do nosso companheiro drone, Sputnik. Não tem uma gama de personalização tão vasta quanto ReSetna, do qual falámos a semana passada, mas entra mais em linha com os tradicionais Castlevania.
É esta personalização que nos permite responder ao desafio imposto pelos mais de 20 bosses distintos que Inayah – Life After Gods coloca no nosso caminho, cada um com mecânicas específicas, num desafio constante que requer de nós uma grande capacidade de adaptação. E claro, agilidades e destreza.
Visualmente, Inayah – Life After Gods é brilhante, e menos do que isso não seria de esperar com os artistas que o produziram: com belíssimas animações tradicionais, que nos mergulham num mundo bidimensional vasto e detalhado, repleto de biomas diversos e segredos a serem descobertos. Se me é permitida a picuinhice, diria que a direcção de arte de Inayah – Life After Gods por vezes pode passar, para mim, a linha do “demais” – há tanto detalhe nos cenários que é difícil de não ser afectado pelo ruído visual que eles provocam.
Para além do seu foco no combate, diria que o destaque para a narrativa, mas também para as secções de platforming mais exigentes demonstram uma tentativa dos developers dos ExoGenesis Studios de equilibrarem camadas distintas que compõem um metroidvania tradicional. Talvez o único problema que sinto em Inayah – Life After Gods é também uma das suas grandes forças (perdoa-me a citação, Ninja das Caldas): a sua direcção de arte é tão detalhada que por vezes chega a ser ligeiramente extenuante.