Quando em 2014 a Konami lançou Metal Gear Solid V: Gound Zeroes por 20€ o Mundo veio abaixo. Fizeram-se imensos vídeos acerca do facto de lançarem o que, na prática, era um demo de Metal Gear Solid V: The Phantom Pain ao preço de muitos jogos completos. O que muitas vezes era ignorado é que também tinha mais conteúdo que um jogo completo, a missão principal tinha mais de duas horas, essa missão e algumas outras adicionais mais de 6, que foram as que fiz, experienciar tudo demoraria, talvez, umas 20 horas. Também é importante notar que praticamente mal foi lançado entrou no ciclo das promoções abaixo dos 5€, que foi como na altura o comprei.

Em 2020 a Xbox lançou Grounded no Game Preview. Estava claramente identificado como um jogo inacabado que foi lançado com o intuito de ir desenvolvendo em conjunto com a comunidade, propósito que a Obsidian cumpriu com poucas falhas. Na altura foi controverso a IGN e outros portais terem analisado o jogo como se de um jogo completo se tratasse, tendo as notas originais rondado o 6. Na altura a justificação para isso era o facto de custarem dinheiro, e se custava dinheiro o consumidor tinha o direito de saber o que estava a comprar. Nem sempre acontece, mas aquando do lançamento da versão final a IGN reviu a análise, sendo agora a nota final do jogo um 9.

Esta introdução tem um propósito. Fiquem comigo.

Lani’s Call: A Tiny Whale Singer Story (doravante Lani’s Call) é a apresentação feita pelo Telescope Games do seu próximo jogo, Rise of the Leviathan.

Jogamos como Lani, uma baleia que procura pela mítica Baleia Cantora para a ajudar a reverter os estragos causados por um maremoto.

Dentro de um oceano lindo pintado como se de uma aguarela se tratasse, este jogo pouco mais é que um swimming simulator, mas até sem grande espaço para a parte do nadar.

Para além de uma história que nos é contada em pequenas frases, como se de um livro infantil, daqueles para crianças mesmo pequenas se tratasse, podemos interagir com algumas peças do cenário, mas para além de ser uma interacção redutora que apenas exige que pressionemos um botão, nem sempre esse carregar no botão é responsivo ou funciona à primeira.

Há um trilho, representado por uma linha amarela no fundo do mar, que seguimos para nos direcionar para o nosso objectivo, mas essa era completamente desnecessária, visto a acção ser completamente em carris, e mal saímos ligeiramente na nossa linha batemos à bruta contra uma parede, como se fosse o vidro de um aquário.

Também há alguns detalhes bonitos que pontilham este mundo e fundo do mar, como cardumes de peixes ou alguns barcos, mês mesmo sem fazer zoom, acção que nos é permitida fazer, reparamos que são sempre o mesmo asset.

Agora chego ao ponto inicial deste texto. Joguei Lani’s Call, tirei uma página de notas e demorei cerca de 15 minutos. Nem deve demorar 10 se apenas jogarmos. Demorei muito mais tempo a escrever este texto. O jogo custa 3€.

Eu sei que para fazer isto é porque o estúdio precisa do dinheiro, também sei que dizem claramente o tamanho do jogo na sinopse, mas isto é um demo, e mesmo para isso é pequeno. Apresentamos muitos demos no Indie X, muitos não chegam aos 45 minutos, nem pediria isso a uma produção independente, mas são gratuitos. São todos gratuitos.

Isto deixa-me com um grande dilema. Lani’s Call é uma experiência bonita, e parece conseguir fazer cumprir o seu propósito de mostrar o Universo a lançar no jogo final, mas não deixa de ser uma experiência de 10 minutos praticamente ao preço de jogos como Vampire Survivors.

Da mesma forma que quem produz precisa de dinheiro, jogar é uma diversão cada vez mais cara de manter, e parece-me que quem desenvolve e lança jogos vai começar a perceber isso da pior forma. Não vejo motivo para recomendar Lani’s Call, uma experiência de 10 minutos que se resume a andar em frente e carregar 3 ou 4 vezes num botão. Queremos mais Astrobot, ou mais Nintendo Welcome Tour? Esperem pelo jogo completo se gostarem da ideia subjacente, e vejam nessa altura. Não é com estes 10 minutos que ficam a conhecer mais ou melhor esse mundo.