Ainda existe tanto estigma com a saúde mental e preconceitos infundados que são absurdos nos dias de hoje, com milhões de pessoas a tentarem resolver os seus problemas sem nunca procurar ajuda. 

Uma tarefa hercúlea, convenhamos, num mundo cada vez mais polarizado e mais perigoso, onde o ódio e a raiva andam na ponta da língua, e as notícias estão recheadas de medo. Impedir que todos estes aspectos, somados às nossas vidas pessoais e profissionais não acabem por deteriorar a nossa saúde mental. Mas são esses estigmas que se perpetuam que me obrigam sempre a perguntar: se alguém sente uma dor intensa e um mal-estar física que não passa, não vai a uma consulta ao médico? Então porque não o fazemos quando é a nossa mente que se sente aflita?  

Mind Keeper é um tower defense experimental que quis traduzir isto mesmo: as ameaças constante que a nossa mente sofre, tanto de demónios internos como de pressões externas. Um jogo artisticamente original, com todos os seus assets a serem desenvolvidos em esboços a preto e branco, e que combina ingredientes de tower defense, com uma narrativa psicológica mais profunda. 

Este singelo tower defense desenvolvido pelo estúdio Blackwing Games, está actualmente em acesso antecipado no Steam e embarca-nos numa jornada algo sombria e introspectiva, construindo e defendendo uma fortaleza que simboliza sua integridade mental. Sinto que são os esboços desenhados à mão justapostos no fundo cinza o que dá a maior carga emocional a este jogo, onde, curiosamente, as nossas decisões podem afectar o seguimento da narrativa.

Como não poderia faltar em pleno 2025, Mind Keeper combina elementos de tower defense com progressão roguelite, com upgrades aleatórios a surgirem entre “níveis” e que nos condiciona na nossa evolução estratégica. Com essas estruturas upgraded temos de construir defesas e fortalecer a nossa fortaleza mental, enfrentando ondas incessantes de inimigos e bosses eventuais que representam os nossos turbilhões internos.  E somos nós, enquanto protagonistas, que vamos percorrendo o ecrã a auxiliar as nossas próprias defesas com ataque directo sobre estes demónios.

Contudo, e não sei se é apenas um problema de dimensão da equipa ou de Early Access, mas infelizmente sinto que nesta fase Mind Keeper é mais forma que conteúdo. Com uma direcção de arte inesquecível que encaixa de forma perfeita com a temática mais séria sobre saúde mental, mas que em termos de execução resulta num tower defense bidimensional algo desestruturado, com uma fiabilidade mecânica ao nível dos primeiros jogos do género, ainda em browser.

E tenho pena que a execução técnica e mecânica de Mind Keeper prejudique a sua originalidade, já que este indie nos oferece uma experiência única que combina jogabilidade estratégica, uma narrativa importante de ser discutida e uma estética artística distinta.