
A minha história com Hautii é curiosa. Quando apareceu no Game Pass fiquei intrigado com o grafismo e instalei-o de imediato, no entanto foram surgindo novos jogos que tinha de analisar e foi ficando para trás até que saiu da lista dos instalados visíveis na aplicação de Xbox para PC. Por infelicidade da minha colega e sorte minha, um imprevisto levou a que fosse eu a apresentá-lo durante o Indie X, e aí percebi a pérola que ia deixando escapar.
Hauntii é um jogo de puzzles em perspectiva isometrica que chama imediatamente a atenção pela componente visual. Um estilo de desenho à mão em marcador, essencialmente monocromático, pontilhado aqui e ali com detalhes em cores garridas que saltam à vista e causam contraste.
Deixei propositadamente a escolha musical de parte porque é fabulosa. Ainda há relativamente pouco tempo elogiei imenso a escolha musical de Sonokuni, mas Hautii, para além de ser brilhante nesse aspecto, é prodigioso em conseguir conciliar a música com o sentimento que quer transmitir, adequando praticamente tudo o que acontece no ecrã com a música que ouvimos, e quando há uma junção tão harmoniosa da componente visual com a auditiva apenas uma jogabilidade fraca pode estragar um jogo o que, felizmente, não acontece.

Retratando um misto de perda, amor e morte, a história praticamente muda de Hauntii é bonita e toca-nos de uma forma estranha, já que quase durante todo o jogo nos emociona sem nos deixar saber os detalhes. Não consigo explicar de outra forma, mas é o que acontece, já que muitas vezes as componentes técnicas que já mencionei são suficientes para contar a história sem necessidade de falar.
Jogados como um fantasminha que chega ao que penso ser o purgatório e que tenta ascender imediatamente aos Céus na companhia de um Anjo pelo qual percebemos imediatamente que se enamora, no entanto não o consegue fazer e passamos o jogo a procurar memórias que ajudem a fazer essa ascensão.
Para termos acesso a memórias temos de encontrar estrelas com as quais criamos constelações, sendo que essa sim nos oferece memórias. Essas são curtas, embora maioritariamente claras, mantendo apenas a ambiguidade suficiente para termos a noção, numa pincelada, do que nos havia acontecido em vida.

Descobrir as estrelas é a componente de puzzle do jogo. Temos uma pista de como as descobrir ao sabermos o nome das estrelas que procuramos em cada nível. Sabendo esse nome o nosso trabalho é interpretar o cenário para perceber como encontrar cada estrela. Usualmente as pistas são claras perante o cenário, e a certo ponto já sabemos mais ou menos o que cada uma das pistas irá acabar por representar.
Temos 3 acções que podemos efectuar, sendo essas o grosso da jogabilidade. Há o movimento de dash, o disparo normal e a capacidade de possuir alguns dos inimigos, um pouco ao estilo de Super Mario Odyssey, capacitando-nos de realizar também as suas acções.
Este último movimento é uma das particularidades chave de toda a jogabilidade, e essencial na resolução de muitos dos puzzles.

Demorei um pouco mais de 10 horas a concluir a história e admito que na parte final já sentia que alguns dos puzzles estavam a arrastar um pouco o jogo, já que embora houvesse sempre algo novo, a mistura de algumas ideias repetidas numa fase em que já percebemos o que vai acontecer apenas nos faz crescer a vontade de parar.
Depois de terminar senti-me satisfeito e não vejo grande necessidade de voltar. Se me perguntarem acerca do replay value, diria que é curto, mas por 20€ e já com promoções a metade do preço, creio haver conteúdo mais que suficiente para justificar a sua compra e, para além disso, está no Game Pass. Se o têm, ide instalar Hauntii.
Hautii é um jogo fabuloso em todos os aspectos. Adorei-o do princípio ao fim, e é mais um daqueles casos em que, se tiveram paciência de ler até a este ponto, gostaria de vos pedir o extra de irem jogar esta pequena maravilha!













