Penso que um dia vou ouvir a campainha e descobrir que do outro lado estão Setsuko Miyakoshi e Ken Takahashi, criadores da série Harvest Moon, com uma medalha dourada com um ancinho inscrito, ou, seguindo a lógica do Rui Parreira no episódio de há umas semanas do Split-Chicken, uma vaca gravada, e entregar-ma-ão, com o reconhecido esforço de procurar e jogar tudo o que são jogos cozy com farming incluídos.

Apesar do meu recente silêncio em termos de escrita, com a vida a acontecer, a minha pesquisa de jogos – sem contar com o trabalho de jurado para eventos – continua a existir, e tenho muitos jogos em atraso cuja cobertura tentarei, aos poucos, publicar.

Kity Builder é um desses jogos, um título relaxante e sem desafios complicados ou tensão de gestão económica ou de recursos. Mas esse talvez seja justamente o seu ponto forte: permite-nos criar, explorar, apreciar o mundo repleto de gatos bidimensionais, sem pressas.

Para esta alteração de um mundo felino antropomórfico a que nos propomos, temos uma mecânica central de Kity Builder que é o sistema de blue(paw)prints: planos de construção que estão espalhados pela ilha, escondidos em locais que exigem exploração para serem alcançados, em sequências que envolvem platforming tridimensional. 

Quando encontramos estes blueprints, desbloqueamos novos tipos de edifícios que podemos usar para expandir a cidade, o que funciona como motivador para vasculharmos tudo, desde os recantos escondidos, plataformas, elevações do terreno ou locais menos óbvios. 

Esses edifícios não são apenas decorativos ou funcionais do ponto de vista de cidade, já que os podemos escalar, saltar deles, fazer movimentos de plataforma, lançarmo-nos ao ar ou usar certas construções como trampolins para alcançar zonas altas ou segredos, permitindo-nos, por sua vez, encontrar novos blueprints. 

Isso transforma a construção num elemento activo de exploração, misturando sandbox e plataformas: não estamos só a erguer prédios, também os usamos como parte da travessia ou da aventura para descobrir mais da ilha a que chegamos no início do jogo.

Os controlos e modos de jogo refletem essa dualidade entre construção e exploração: modo de exploração, onde nos movimentamos como o personagem felino, saltamos, caminhamos, interagimos com o mundo para encontrar blueprints e desvendar segredos; e há um modo de construção, onde seleccionamos edifícios desbloqueados e posicionamo-los no terreno.

Apesar da aura de relax de Kity Builder, não sinto, porém, que venha a ser uma obra memorável da esfera cozy, mas há de ter o seu público, embevecido pelos simpáticos gatos, e pela sua sociedade onde o tempo avança noutro ritmo.