Há quem associe o género de estratégia à guerra, às grelhas de combate e às decisões calculadas no calor da batalha — mas, na verdade, a estratégia é uma forma de pensar o mundo, e estes três jogos provam-no com estilos e tons que não podiam ser mais distintos. Num deles, o raciocínio serve a alquimia e a sobrevivência, num ciclo amaldiçoado que mistura tarot, ciência e desespero. Noutro, é o motor de um RPG militar onde cada ordem dada pesa na consciência e no destino de um pelotão abandonado num império em ruínas. E, por fim, há o encanto inesperado de um universo onde planear bem significa coordenar dragões artesãos para manter viva a chama da criação. Três modos de jogar, três maneiras de pensar: a estratégia como arte, ciência e ofício; e, talvez, como a mais humana das magias.

AlcheMice

Red Mountain – Espanha

2026 – PC

Granada, século XVI. O tempo dobra-se, as cartas decidem o destino e um aprendiz de alquimista luta para não se perder nas dobras da própria maldição. AlcheMice é um deckbuilder tático tridimensional que mistura alquimia, tarot e combate estratégico num ciclo de três dias e três noites que recomeça sempre — mas nunca igual. Cada tentativa é um novo experimento, cada carta uma hipótese de sobrevivência. Jogamos como Tycoh, amaldiçoado pela bruxa Gusparda, tentando decifrar o segredo que prende o mundo num loop alquímico onde o fracasso é só mais uma forma de aprender.

Com arenas em grelha, elevação e cobertura, AlcheMice leva o pensamento táctico a um nível quase xadrezista: o terreno é arma, o erro é lição, e a alquimia é o fio que une lógica e loucura. As cartas tanto ferem como curam, tanto manipulam o corpo como o tempo, e cada combinação revela uma pequena epifania mecânica. No fim, quando o ciclo recomeça e a cidade muda, o jogador percebe que o verdadeiro laboratório não é o de Tycoh — é o nosso. Um jogo de tabuleiro vivo, onde a ciência e o esoterismo dançam até ao amanhecer do quarto dia.

MENACE

Overhype Studios – Alemanha 

5 de Fevereiro de 2026 – PC 

Os criadores de Battle Brothers olharam para o futuro e viram apenas ruína, pólvora e comando tático. MENACE é o resultado: um RPG estratégico por turnos que troca o realismo medieval por um horizonte de aço e desespero. Aqui, lideramos uma força expedicionária isolada num sistema esquecido pelos Mundos Centrais, uma espécie de legião de fuzileiros, mercenários e criminosos unidos apenas pelo instinto de sobrevivência. O império caiu há muito, e o que resta são fações divididas, piratas de uniforme improvisado e governos planetários à beira do colapso. Cabe-nos restaurar a ordem — ou impor uma nova — enfrentando uma ameaça que parece menos humana a cada batalha.

Cada decisão em MENACE pesa como um disparo mal calculado. Escolher que colónia socorrer, que recursos investir ou que aliados trair molda não só a campanha, mas a moral das próprias tropas. O jogo transforma a guerra numa teia moral e mecânica onde cada vida perdida é permanente e cada vitória custa mais do que devia. Tanques, walkers, fuzileiros e improvisações bélicas convivem em combates tácticos brutais, onde o planeamento é essencial; mas nunca suficiente. A atmosfera é densa, de comando solitário e paranoia crescente. A cada operação sentimos o peso do isolamento, e do nome que ecoa no título: MENACE. Porque o verdadeiro inimigo pode não estar no campo de batalha, mas dentro das fileiras que jurámos liderar.

Flamecraft

Monster Couch – Polónia 

Data de lançamento não definida – PC

Há mundos que ardem pela guerra — e há os que ardem pelo prazer de criar. Flamecraft pertence à segunda categoria: um universo acolhedor, onde os dragões não destroem cidades, mas ajudam padeiros, ferreiros e alquimistas a aperfeiçoar o ofício. Nesta adaptação digital do aclamado jogo de tabuleiro, o jogador torna-se um Flamekeeper, guardião de chamas criativas encarregado de distribuir dragões artesãos pelas lojas da cidade. Cada criatura acrescenta talento e calor aos negócios locais, transformando uma simples fornada de pão ou uma poção improvisada em pequenos milagres do quotidiano.

Mas sob a ternura das ilustrações e o encanto da banda sonora de Paweł Górniak (de Wingspan e Quilts and Cats of Calico), Flamecraft esconde um coração estratégico. Gerir recursos, encantar lojas e encadear habilidades é um exercício de astúcia tão exigente quanto doce. É o tipo de jogo em que perder não dói — porque enquanto se planeia a jogada perfeita, há sempre um dragão adorável a esticar as asas sobre um balcão de pastelaria. Um lembrete de que, às vezes, o verdadeiro fogo não é o da destruição, mas o da imaginação.