
Adorei o reboot de DOOM em 2016, curiosamente o primeiro texto que escrevi quando fui convidado a colaborar com um portal online. Para mim esse jogo representou tudo o que de bom DOOM tem, o que elevou imenso as minhas expectativas para DOOM Eternal, que se revelou, para mim, uma desilusão com pouco paralelo nestas sagas interconectadas. Nisto chega DOOM: The Dark Ages e, como gato escaldado de água fria tem medo, não tive vontade imediata de o ir jogar. DOOM: The Dark Ages cheira a DOOM, parece DOOM, mas não sabe a DOOM, e é esse o seu maior defeito.
Não saber a DOOM começa com pontos muito simples. Mick Gordon fez um trabalho genial com a banda sonora de DOOM em 2016, criando um ponto de partida muito difícil de superar. Neste ponto sabemos bem como acabou a relação entre a franquia e o compositor depois das desavenças durante a produção de DOOM Eternal. O impacto criado por essa banda sonora quase nos fez esquecer o tom calmo dos primeiros jogos da série, e sendo muito difícil lutar cara a cara com o som metálico dos dois jogos anteriores, foi-se para um misto entre metal e uma sonoridade mais clássica dos jogos da década de 1990, algo que parece já não combinar com o que esperamos da franquia.

Quando carreguei DOOM: The Dark Ages, esperava o mesmo bailado imparável de disparar e desviar a um ritmo frenético e com pouco espaço para grandes estratégias. Era pegar numa arma, disparar até ter balas, passar para outra e assim sucessivamente. Curiosamente esta entrada apresenta-se muito mais lenta e metódica. Pontualmente é importante reconhecer padrões, ter atenção a golpes que podemos bloquear e mesmo criar prioridades aqui e ali.
Muita desta mudança está associada ao uso do escudo, algo agora central à personalidade de Doomguy, uma arma que provavelmente explica a deslocação muito mais lenta e desajeitada da nossa personagem, como se estivéssemos permanentemente a jogar com o Reinhardt de Overwatch, sensação que não é disfarçada com as novas opções de deslocação rápida que nos permitem saltar de demónio para demónio usando uma espécie de bash com o escudo, mas esse emprego não permite, nem para lá caminha, a mesma fluidez e graciosidade no movimento.

Mesmo a história parece ter sido esquecida a determinado ponto, já que começaram, de certa forma, a tentar dar-lhe alguma profundidade e substância, por muito parola que esta fosse, mas rapidamente diminuíram as batidas, os momentos de cinemática tornaram-se esparsos, e voltou-se ao bom e velho rebentar com demónios sem grande preocupação com o que se passa à nossa volta.
O que me agrada muito dizer é que acabaram com a ideia peregrina dos saltaricos por todo o lado como em DOOM Eternal. O meu maior receio era mesmo esse, algo que felizmente não aconteceu, tornando esses momentos mais um acessório para quem tem interesse em descobrir os múltiplos itens semi-secretos, já que aparecem assinalados no mapa, embora muitas vezes escondidos atrás de uma secção de plataformas que nos faz coçar a cabeça por algum tempo.

Aqui as maiores novidades foram as secções em que voamos nas costas de um aparente demónio alado, um pouco a fazer lembrar Panzer Dragoon, secções que considerei claramente desnecessárias e pouco interessantes, e as secções em que pilotamos um mecha gigante, quase como se fossemos os Power Rangers, estas secções bem mais interessantes e divertidas de jogar, mesmo que, por hábito, nunca me consiga sentir um verdadeiro gigante nestas secções, já que lutamos contra inimigos do mesmo tamanho, logo tudo parece igual, apenas mais lento.
Ainda mais importante que isso, naquilo que é mesmo importante, DOOM: The Dark Ages ainda entrega com qualidade. O gunplay continua a ser dos melhores dentro do género, com ambas as caçadeiras a continuarem a ser as minhas armas preferidas para a maioria das situações, mas como este jogo nos habituou, não se pode elogiar tudo, já que a ausência, ou diminuição acentuada, das glory kills acaba por penalizar bastante aquele gore todo que associamos à franquia.

Algo que DOOM: The Dark Ages continua a fazer bem é que não fica mais tempo do que aquele que é preciso. Apenas procurei apanhar todos os itens coleccionáveis nos primeiros 4 ou 5 níveis, sendo que a partir daí só apanhei alguns, e demorei 16 horas a acabar o jogo, o tempo certo para o género. Mais que isso era bafio, menos era menino para saber a pouco. Continuo a dizer que estes jogos são dos meus favoritos. Joga-se, passa-se a outro, esquece-se.
Mesmo contando com tudo o que disse, talvez o que mais penaliza DOOM: The Dark Ages seja essa componente que tem pouco de memorável. Deixei passar uns dias e já nem sabia bem o que dizer sobre o jogo sem me socorrer das minhas notas, e talvez isso explique o facto de ter passado por debaixo do radar do ciclo de notícias sobre videojogos, mesmo sendo um jogo extremamente divertido de jogar.













