Recentemente deparei-me com uma notícia de um jornal aleatório sobre um rapaz que usava o dinheiro da mãe para comprar Skins para o (e estou a citar letra à letra) “Leag of Legend e World of Warcraf” (sic), artigo esse que referia a necessidade dele ir para uma clínica de reabilitação, referindo até que essas pessoas deixam de tomar banho e por vezes até nem comem por causa dos jogos.

Bem, não vou defender o pobre do rapaz e referir o quão bonito deve ter sido o novo decote que comprou para a nova feiticeira da semana, ou que comer é overrated. Por mais que se tentem esconder os maluquinhos, eles existem em todo o lado. 

Já vi gente virar a mesa porque se esqueceu de recolher o dinheiro ao passar na partida no Monopólio, já vi gente arremessar furiosamente uns auscultadores mais-caros-do-que-devia contra um ainda-mais-caro-do-que-devia monitor sem piscar um olho, inclusive presenciei a espetacularidade que foi uma ameaça de desembainhamento de navalha causada por uma armadilha mal ativada a meio de uma partida de Yu-Gi-Oh. Por mais espetacular que tenha sido, essas coisas não se fazem.


 Mas também já vi gente insultar funcionários porque não enviaram para a garantia o telemóvel que deixaram cair à água, batalhas campais começadas porque uma pseudo Helena de Tróia foi vista a olhar na direção geral de um rapaz que não sabia muito bem o que se estava a passar e alguém levar 10 estalos por confundir Guano Apes com Rage Against the Machine (sim, isto aconteceu). 

Quero com isto abrir os olhos para o oposto, como muita gente diria “há muitos maluquinhos na música, restaurantes,desporto,blabla” mas também lá há gente boa que faz coisas boas, o que não me lembro de ter ouvido alguém de fora do mundo dos jogos dizer quanto a este.


Venho então falar dos amigos das internets, esses seres míticos que para amigos ou pais são aqueles que os filhos nunca vão encontrar pessoalmente se não querem acabar raptados numa cave cheia de damas de ferro. 

É uma relação estranha a que formei com várias pessoas ao longo dos anos, com as quais jogava um pouco na maioria das noites, e que nem sequer imagino como são fisicamente, no entanto, naqueles intervalos entre jogos, ou apenas em vários momentos que nos juntamos para conversar fui juntando pedaços delas em troca de bocadinhos da minha vida. 

Para quem nunca esteve neste tipo de entretenimento que são os jogos online, fica complicado perceber como é que conseguimos criar laços com pessoas que apenas conhecemos pela voz, sendo para nós difícil explicar, algo como explicar a quem nunca o provou, que o sushi pode ser uma coisa que vá gostar. 

“blhecs, peixe cru.” – Dona Deolinda

Pois bem, o pessoal que conheci remotamente é um pouco o sushi da minha vida, está lá, é algo que gosto e que quando fico muito tempo sem ter contacto começo a notar a falta, mas também me acautelo para não apanhar uma intoxicação alimentar (senhor da Casa do Provedor, eu disse que ia falar mal do teu restaurante algures). 

São outros seres humanos para quem eu é que sou “o amigo da internet” com os quais fui fazendo amizade ao longo dos anos, pessoas com as quais falava há anos, que só conheci pessoalmente depois de já saber mais sobre elas do que de vários integrantes do meu grupo de amigos da terrinha, pessoas essas que informo, sempre que vou para perto da terra delas e tiram sempre umas horas do seu tempo para me mostrar os restaurantes da região, tal como eu o faço sempre que a mui nobre cidade da Lixa fica no seu caminho de viagem. 

Vou referenciar a pessoa que me trouxe aqui ao Rubber Chicken, o Ricardo Mota, não o vou gabar, senão tenho que o aturar uma semana, mas usá-lo como “exemplo” no que estou a querer passar.

Nunca o vi mais gordo.

Nem mais magro.

No entanto sei que é um tipo porreiro.

Que vive para a família que tem em casa , para os jogos e para a junção das duas.

Conheci-o porque estávamos 4 online e precisávamos de um quinto para jogar e ele era o menos nabo que o amigo do amigo de alguém tinha na lista de amigos e assim lá veio.


Entretanto já falamos de game developing, já comentámos torneios de DOTA juntos, já fizemos análises a updates, já escrevemos para este mesmo jornal online e simplesmente já estivemos só no paleio, porque eu obviamente também sou um tipo porreiro, falamos dos alunos, do trabalho, de comida, das prestações não tão boas do Futebol Clube do Porto… conversa de café. 

Como o Ricardo, que para mim é o Purple, há o Fábio que é o Snake, o Horácio que conheci“offline” e estive anos sem falar com ele para depois o encontrar na Steam e voltar a falar quase todos os dias, o Miles, essa pessoa que afinal mora aqui ao lado e agora me convida para uma cerveja de vez em quando, o King que tem o dobro do tamanho do que eu imaginava, o SecaAdegas, que me trouxe o meu computador novo pessoalmente de Aveiro cá para cima já montado por ele próprio sem me pedir nada em troca, a Sheepsticked que quando descobri que era uma artista conhecida para além de ser uma rapariga que consegue ser melhor jogadora que eu me deixou espantado… e tantos, mas tantos outros. 

Portanto pais dos filhos das internets, pessoas das internets e críticos ou apologistas em geral e particular, pensem no sushi, em primeiro lugar, e tal como tudo na vida CUIDADO,

há muito de bom e muito de mau, as regras de segurança do costume provavelmente estariam no prefácio do livro A vida para totós aplicam-se aqui.


Em segundo lugar , tentando explicar o inexplicável, vou puxar a cassete para trás e falar nos amigos por correspondência. Quando era novo a minha escola teve a brilhante ideia de trocarmos cartas, porque na altura ainda nem o HI5 estava na moda e o telemóvel servia para se trocar toques que as mensagens gastavam dinheiro. 

Ora bem, por razões diferentes dos amigos da internet aquela troca de correspondência agradou-me bastante, primeiro porque eu era um moço meio nerd em plena puberdade e calhou-me uma rapariga,  segundo porque os meus amigos rudes e inconvenientes perguntaram aos correspondentes deles quem eram as raparigas mais bonitas da turma e ela estava lá na lista, e terceiro, porque ela era uma pessoa interessante (dentro dos meus padrões de jovem de 14 anos). 

O que se passou foi que, quando chegou a visita de estudo anual surgiu a ideia a separarmos em duas (a visita de estudo, não a rapariga com a qual eu trocava correspondência) acolhendo e visitando os nossos amigos pseudo secretos. 

Então, (peço desde já desculpa aos leitores que lêem o Rubber Chicken pelas suas histórias de amor e paixão) chegando o dia, a questão que eu mais me fazia era se a cara que eu tinha imaginado para essa pessoa através das suas descrições e da sua maneira de ser, seria a que eu iria encontrar naquele cantinho do país que não vou referir o nome porque não faço a mínima ideia. 

Com isto conseguem imaginar o que eu passo sempre que temos algum torneio ou ajuntamento dos “amigos das internets”. “COMO ASSIM O KING TEM DOIS METROS?” , “O SNAKE NÃO É UM TRINCA ESPINHAS?”, “WHAT O PURPLE É PAI E PROF?”, “yah o ManDown é chato na mesma”. Aquelas vozes passam a ser caras, passam a ser pessoas que quando voltamos a ouvir na segurança do nosso quarto têm uma imagem sua projetada nas nossas cabeças.


Quão diferentes seriam eles para mim ou eu para eles se os tivesse conhecido num café? Ou na Universidade? Ou numa festa de aniversário? 

Para mim, nada. E para ti que estás a ler isto ? (se for mais velho que eu considere que eu disse você, tem mais classe).