Guia de Ajuda para Mães e Pais que não percebem nada de Videojogos

Quantas vezes já presenciei as caras de terror das mães, os olhares confusos dos pais ou os ares perdidos dos avós nas áreas de videojogos das grandes lojas e superfícies comerciais. No final, a história termina sempre da mesma forma, com a pergunta feita a medo: É este? Ao que a criança responde afirmativamente, com a segurança de quem sabe que é a única que domina o assunto e que ultrapassa os conhecimentos de quem efectua a compra ainda hesitante a olhar para a caixa.

Tenho mais sorte como pai. Dos meus 37 anos de vida, trinta e um deles foram passados a jogar até aos dias de hoje. Quando olho para as filas de prateleiras compreendo todos os títulos, sistemas, classificações, séries, originais, sequelas, e todas as diferenças e nuances das capas das centenas de caixas. Quando escolho o que levar, sei sempre o que é e o que foi ao longo de toda a história dos videojogos.

Mas sei que vocês sofrem, que se assustam, e que se confundem. Por essa razão resolvemos escrever um guia para que este mundo se torne um pouco menos confuso, e para que a próxima ida a uma loja seja um momento de descontracção e prazer no acto de escolher.

Estas são as 10 lições mais importantes que devem saber:

1. Uma clarificação sobre “Essas Coisas”.

“Eu não ligo a essas coisas” é a maior falácia que podem expressar acerca de vocês e os videojogos. Esta postura ainda vos afasta mais da compreensão, pois colocam a vocês uma barreira automática de segurança. Deixem-nos então falar-vos de alguns dos jogos mais famosos e mais jogados do mundo: Farmville, Candy Crush Saga, Angry Birds, Tetris, ou até mesmo o jogo de cartas do Windows. Conhecem alguns dos nomes certo? Ah, jogam alguns destes é isso?

Então posso assegurar-vos que todos eles fazem parte de “essas coisas” e pertencem ao mundo dos jogos com a mesma intensidade e importância que todos os outros que estão nas caixas e que os vossos filhos jogam. Lembrem-se então que vocês afinal ligam a essas coisas, aos videojogos, afinal até gostam deles, e tudo se torna menos assustador.

2. Aprender a não dar Whiskey ao vosso filho de 10 anos.

Este conselho é simples. Basta que parem de dar álcool aos vossos filhos. Absurdo? Nunca vos passaria pela cabeça dar álcool a crianças? Sim, vocês são mães e pais responsáveis. Mas há muitos que não são, e por isso existem leis que proíbem as crianças de beber. Vamos antes fazer um exercício. Vão pegar nas caixas dos jogos dos vossos filhos e vejam quantos deles têm um autocolante bem visível na frente com a inscrição 16 ou 18. Sabem o que esse número quer dizer? É a classificação PEGI que indica a idade mínima que os jogadores devem ter.

Podemos garantir que grande parte dos jogos disponíveis para compra, incluindo aqueles que estão em destaque no folheto da grande superfície ou mesmo em enormes cartazes na loja envolvem espetar facas na goela, machados no cérebro de zombies e pessoas infectadas, matar polícia para conseguir uma pontuação mais alta, ou bater em pessoas com enormes pénis de borracha. Não, não estão escondidos numa zona dos fundos da loja e provavelmente talvez até já estejam no quarto dos vossos filhos. Existe uma razão muito válida para o número nas caixas e a razão porque tantos jogos não estão aconselhados a maiores de 18. É a mesma razão pela qual vocês não lhes dão Whiskey nem lhes colocam a chave do carro nas mãos: elas e eles ainda não estão preparados.

3. A diferença entre as consolas portáteis da Nintendo

Esta até a nós nos confunde. Nintendo DS, Nintendo DSi, Nintendo DSi XL, Nintendo 2DS, Nintendo 3DS e Nintendo 3DS XL. Podíamos combinar um almoço com vocês e por volta da hora do jantar ainda vos estávamos a explicar as diferenças, por isso vamos antes aqui deixar uma regra simples: Se a mão dos vossos filhos é menor que 10 centímetros da palma até à ponta dos dedos, comprem-lhes uma 3DS, se for maior que 10 centímetros, uma 3DS XL. Arrumada a questão. Não querem uma Nintendo? Comprem-lhe uma PS Vita. Novamente arrumada.

4. Skylanders e Disney Infinity podem levar-vos à bancarrota

Alguns de vocês já sabem isto. Vocês olham para a caixa com o jogo e alguns bonecos, o preço é um pouco alto mas a criança fica com os olhos a brilhar só de falar do jogo. Cuidado! Olhem em redor. Já repararam que estão mais algumas dezenas de bonecos diferentes no expositor? As vossas filhas e filhos vão querê-los todos! Repito: Todos! A certa altura a explicação “a mãe ou o pai já não têm dinheiro” não vai pegar, pois a seguir vão ver-vos a comprar um livro ou um filme que custa tanto como um dos bonecos.

O truque é outro. Treinem estas frases ao espelho até as dizerem com toda a segurança do mundo: “Só te compro outro Skylander quando fizeres os 100% com o boneco X” ou “Só te compro mais bonecos do Disney Infinity quando ganhares todos os troféus com esse”. Depois sentam-se a vê-los jogar e cada vez que eles disserem que conseguiram vocês ripostam com: “Mas tu ainda não tens 100%”. Eles vão preocupar-se tanto em explicar-vos e mostrar que já conseguiram que vocês vão acabar por perceber se é verdade ou mentira, mesmo que nada percebam do jogo.

5. Cooperativo e PEGI 7 é uma grande combinação

Lembram-se da conversa do Whiskey? Ora, PEGI 3, PEGI 7 e PEGI 12 são jogos seguros para todas as crianças. Grande parte deles vai ter a seguinte inscrição na parte traseira da caixa: “2 jogadores”. Estes são os jogos que permitem jogar em modo cooperativo, com duas pessoas, cada uma com o seu comando. Porquê PEGI 7? Para além da segurança dos conteúdos, os jogos PEGI 7 são relativamente simples de jogar, contando com a idade das crianças. Se uma criança de 7 anos consegue, vocês também. Estes são aqueles jogos que vocês podem jogar com eles e descobrirem muitos que também vão adorar. Garantimo-vos que os vossos filhos vão anunciar na escola, com orgulho, que passaram aquele nível mais difícil com a ajuda da mãe.

6. Nunca, mas nunca gravem a password da loja no telefone

Micro-transações. O Diabo escondido atrás de todos aqueles jogos gratuitos que puxamos para o telemóvel. É sabido que não há almoços grátis. Portanto, se vos estão a dar o jogo, algo não bate certo. Mas bate, tanto que se tornou um dos modelos de negócio principais da indústria dos videojogos. Nós damo-vos um pouco e quando vocês quiserem mais vão ter que pagar. Pouco. Setenta cêntimos aqui, oitenta cêntimos ali.

Quando chega a conta no final do mês é que vocês vêm que as dezenas de cêntimos passaram a dezenas de euros. Por isso, a password não deve ser gravada para que seja pedida sempre que alguém quer fazer uma compra. Ah, e também não funciona se a vossa prole souber a password. Assim ficam todos mais seguros, incluindo vocês que cedem à tentação de “passar” rapidamente aquele nível mais complicado no Candy Crush.

7. O aparecimento de uma nova consola é um acontecimento relativamente raro.

Ainda agora comprámos a PlayStation 3 e já queres a PS4! Soa familiar? Mas tentem situar o vosso agora. Um mês? Seis? 2 anos? 4 anos??? Poderá por alguma razão remota ser 7…?

A primeira PlayStation foi lançada em 1995, isto é, há 18 anos. Os vossos filhos ainda eram células separadas no corpo dos pais, e vocês passavam os dias na associação de estudantes do liceu. A PlayStation 2 (também conhecida por PS2) viu a luz do dia no ano 2000, quando alguns dos vossos filhos mais velhos nasceram, ou quando vocês estavam a casar e pensavam um dia ter filhos. A PlayStation 3 surgiu 7 anos depois, e há 7 anos antes, em Março de 2007. Este ano, em Novembro de 2013 aparecerá a PS4.

Agora deixem-me contar-vos algumas coisas que aconteceram também nos últimos 7 anos, entre a PlayStation 3 e PS4. O Iphone foi lançado e desde aí já apresentou 7 evoluções. A vossa roupa já passou de moda para vocês pelo menos umas dez… doze? Prometemos que acompanhar a evolução das consolas é bem mais fácil e bem mais lento do que parece.

8. Uma batelada de jogos pode bater uma nova consola

Este é o nosso conselho mais polémico, pois não está garantido que funcione sempre. O vosso filho tem uma PlayStation 3 e quer a PS4. Estamos a falar de um gasto de 400 euros e este ano só vem metade do subsídio de Natal. Façam-lhe uma proposta. Podes ter uma PlayStation 4 e um jogo (460 euros aproximadamente) ou então vamos comprar jogos mais antigos entre os 20 e 30 euros e podes comprar 10 jogos novos. Não é garantido que funcione, mas se acontecer poupa-vos cerca de duas centenas de euros e ganham tempo até à Páscoa pelo menos, ou com sorte até ao próximo Natal.

9. É mais barato fazer jogos e muito mais enriquecedor

Experimentem. A sério. Existem já plataformas online que vos permitem criar os vossos jogos de forma extremamente fácil e sem terem de saber uma única linha de código. Explorem-nos umas horas primeiro e façam as vossas primeiras criações sem eles saberem. Depois num fim de tarde de Sábado ou Domingo chamem-nos e experimentem com eles fazer um jogo. Vão ver que vão descobrir um passatempo a dois ou a três que vos vai enriquecer a todos e quem sabe um dia não podem deixar o escritório. Podem começar por aqui.

10. Todas e todos preferem brincar na rua

Se for com vocês, se as mães e os pais juntos mostrarem vontade e prazer em estar com eles, nenhuma ida ao Pavilhão do Conhecimento, nenhum escorrega, nem nenhum skate conseguem ser batidos pelo videojogo com mais luz e som. Sigam o conselho do anúncio: Sujem-se.

Para terminar e para este Natal aqui ficam algumas sugestões de jogos a oferecer às vossas crianças, desde que vocês se comprometam a passar algum tempo a jogar com eles. As versões de “consola de mesa” são as melhores porque permitem os dois jogadores. Em qualquer das versões o jogo vai funcionar da mesma forma, por isso comprem a versão da consola que têm em casa, se estiver disponível).

–       LEGO Marvel Super Heroes (PlayStation 3, PS4, Xbox 360, Wii U)

–       Puppeteer (PlayStation 3)

–       Disney Infinity (PlayStation 3, PS4, Xbox 360, Wii U)