Ataque dos Clones #34

Se eu pudesse pedir ao “Plai Natau” um bootleg, World Heroes 2 estaria sem dúvida no topo da minha lista. Não me refiro ao excelente e underrated jogo da SNK mas à tomada de reféns da hongconguensa Cony soft. Super Mario, Sonic, Ryu, Son Goku, Leonardo das Tartarugas Ninjas, Haggar… World Heroes 2 arrasta algumas das figuras mais prestigiadas dos 90 para um mundo que não lhes merece. Estamos aqui a falar de pixel sujo. De porrada não consentida. De um espectáculo perverso que se equipara aquelas lutas de sem abrigos em troca de uma garrafa de vinho secretamente vazia.

Nos tempos da minha adolescência, os esquecidos da simetria facial com um computador em casa arriscavam-se a entrar em todo tipo de seitas de softwares. Guardo destes tempos uma experiência de guionista RPG Maker mas houve quem optasse antes pelo igualmente popular MUGEN, um programa que permite criar o seu próprio jogo de porrada, algo que se resume essencialmente a partilhar as suas profanações de personagens do Samurai X com sprites do Samurai Showdown.

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São assim os crossovers, tão infantis como inevitáveis. É do pecado original. Há um pouco de MUGEN neste jogo mas sem o sentimentalismo. Pode parecer pormenor mas o resultado acaba por ter outro sabor.

World Heroes 2 tem todos os defeitos essenciais a um bootleg. É um saco de bugs e glitches com um gameplay no limiar do impraticável mas que, de alguma maneira, consegue fazer o suficiente para nos cativar em troca de gargalhadas. Apesar da sua aparenta simplicidade cada personagem tem um leque de ataques especiais reminescentes do seu universo ou recuperado de outros jogos. No caso de um Ryu a coisa resume-se a um “copiar colar” mas no caso de uma personagem sem precedente oficial no género, o resultado é constrangedor. Mario, atingido por uma obesidade mórbida, executa kamehamehas e festeja as suas vitórias virando o cu para o jogador. Esta objetificação ecléctica fez cócegas ao meu progressismo.

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Podemos escolher entre dois misteriosos modos de imagem que ambos garantem falhas recorrentes. Todos os Rounds começam no segundo por exemplo. Enfim, um festival de pequenos mimos para os adeptos do género.

Jogar World of Heroes 2 sozinho não tem grande interesse. A dificuldade não é progressiva e o desafio proporcionado pela IA é completamente irregular conforme a personagem. Este bootleg é para ser apreciado a dois. Como uma sessão de Jenga após demasiados copos.

Afinal de contas, não é o Natal uma altura para partilhar? Vá lá Pai “Plai Natau”, oferece-me o jogo.