Vamos imaginar o seguinte cenário: 

Uma pandemia assola o plante Terra, os países não sabem o que fazer porque os sistemas económicos nunca lhes falharam e não sabem como se safarem sozinhos em tempos de crise. Uma espécie de pai autoritário que te dá tudo mas não te ensina a pagar impostos, nem a cozinhas ou uma data de outras coisas na esperança que dependas dele para sempre. Na mesma senda de comparação, assim que algo corre muito mal, ele é o primeiro a fugir com o rabo entre as pernas, e agora a culpa é do filho *cough* país, e este que se desenmerde.

Ora nesta pandemia, todos temos que ficar em casa a olhar para as nossas paredes vazias. O Sol é visível mas parece distante quando visto da janela, o seu calor é frio quando o sentimos numa varanda. Não obstante, há uma réstia de liberdade nas nossas salas, nos nossos quartos, ou até nas nossas casas de banho. Não julgo.

Esta liberdade vem daquilo que durante anos nos foi dito ser a nossa prisão.

* Olhei, e vi uma caixa preta:
O que nome que lhe era atribuído era PC,
e as consolas seguiam-no. *

Tudo fazia sentido, aquele escape de realidade era agora a única maneira de visitar a praia ou de estar com os nossos amigos (apesar de eles serem todos meninas menores com grandes seios e orelhas de gato).

Dizem por aí que os “gamers” – Jogadores se faz favor, se prepararam toda a vida para isto. Verdade é que estão longe dessa mesma verdade. Estou neste momento a olhar e a ver os jogos de uma maneira que nunca observei antes. Tudo parece ter mais detalhe, encontro alternativas para os jogar, chateio-me menos e chateio-me mais, e tenho mais vontade de experimentar com eles.

 

Sempre odiei Jackbox e derivado mas agora dou por mim a jogá-lo todas as noites com os amigos com quem por estas horas estaria a partilhar uma imperial. Até admito que estou a apreciar mais do que esperava estes título, talvez por não ter alternativa, talvez pela companhia, talvez os dois ou talvez até nenhum.

* Para nos lembrar que os videojogos são a nossa liberdade
Quando neles, nos disseram, estar a nossa prisão. *

Permitam-me usar a mecânica de Time Skip e passaram 20 ou 30 dias desde o inicio da pandemia. Sim os meus artigos também sofrem de lazy writting clichés.

Uau, estamos quase a terminar a quarentena obrigatória (evitem sair de casa na mesma, pelo bem de todos), e tanto mudou nos meus hábitos. No inicio era tudo tão bonito a jogar Jackbox com os meus amigos e agora já nem tenho o jogo instalado.

Como eu, acho que todos os gamers tiveram 3 fases distintas nesta quarentena: lua de mel, desilusão e conformidade – quase como uma relação daquelas que duram mais de 2 meses, não conheço mas os meus amigos contam-me que isso existe.

A lua de mel é aquela que descrevi acima, numa altura em que esta quarentena parecia ser oportunidade para fortalecer relações e aproveitar a vida. Uma altura de total ingenuidade em que tudo é bonito e todas as opções parecem valer a pena experimentar, porque o que é uma relação sem um pouco de pimenta?

Agora a verdade é que isso durou 2 semanas no máximo, como a maior parte das minhas relações. Ora logo depois veio a desilusão e oh pá se veio…

Eu já nem podia ouvir falar de jogos de grupo, só queria jogar jogos sem multiplayer ou até jogos competitivos mas sem levar os meus amigos. Quase tudo o que eles diziam já me caía mal no goto, nem sei bem porquê. Aliás o nosso servidor de Discord parecia um antro de solidão com 1 ou dois gatos pardos p’rali perdidos na esperança que alguém aparecesse – em comparação, na fase de lua de mel estávamos sempre mais de 10 pessoas em conversa.

Admito que esta fase me permitiu pensar noutras coisas. Será que vale a pena ter amigos? Será que preciso deles? Vá lá, estou fechado em casa, tenho jogos e quando sair logo arranjo amigos novos. Obviamente e como ser social que sou em 50% do tempo, as saudades acabaram por apagar estes pensamentos e gradualmente voltei a aparecer com mais frequência. O resto do pessoal fez o mesmo e senti que estávamos todos na mesma página. Precisávamos de respirar um pouco da nossa vida social apesar de ser vivida totalmente através de videojogos.

Agora chega a fase em que estou, a conformidade. Já não há cá jogos de festa ou essas coisas doidas que o pessoal usa como desculpa para socializar. Eu estou de volta ao League of Legends e ao VALORANT ou até o esporádico Counter-Strike mas como fazia antes do confinamento.

Vou jogando as minhas coisas single-player enquanto converso com os meus amigos. Contamos o nosso dia de levantar, trabalhar, comer, dormir e jogar. Fazemos contas aos nossos matches no Tinder e mandamos stories do Instagram uns aos outros. Mas ao contrário da fase lua de mel, não estamos a forçar-nos a jogar ou participar em actividades de grupo.

Enquanto vou jogando Gears Tactics lá surge um convite ou outro para fazer uma partida de VALORANT ou ajudar numa expedição no Legends of Runeterra. Honestamente a quarentena baralhou um pouco as nossas vidas de gamer porque tentámos provar algo que não precisávamos. Nós, jogadores e fãs ávidos de videojogos, já somos sociais, não precisamos de mostrar ao mundo que existem jogos sociais e que estamos em vantagem porque nos juntamos 15 pessoas numa sala a jogar coisas que nem gostamos.

Eu amo jogos, amo os meus amigos mas não amo esta quarentena e não estava preparado para ela. Colegas jogadores que venderam que este é o paraíso dos gamers, por favor, parem de mentir. Já há muitos anos que deixamos de viver enfiados em caves a jogar 24 horas por dia, somos humanos e precisamos de contacto, precisamos de sol e de Liberdade.

Se os videojogos servirem para o pessoal fica em casa mais um tempinho depois de terminar a quarentena para que isto realmente comece a normalizar, então assim seja. Lembrem-se que depois do fim deste estado de emergência não é suposto irmos todos para a praia ou para o jardim do Arco do Cego como se tudo tivesse normal. Isto não acabou e não vai acabar tão cedo, especialmente se forem atrasados.

Disclaimer: Se isto parecer uma publicidade à Riot Games por mencionar tantos jogos dessa gente, juro que não é. Até estou chateado com o sistema anti-cheat do VALORANT que me tem forçado a reiniciar o computador mais do que pretendia.